Quando a mágica encontra a retranca

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Por Rafael Del Giudice Noronha


A hegemonia do futebol espanhol, se não é concretizada com títulos europeus em todas as temporadas, se confirma com a presença dos melhores jogadores do mundo atuando nas suas duas grandes equipes. Em anos recentes, desfilaram pelos palcos espanhóis jogadores como Romário, Rivaldo, Raul, Ronaldo, Zidane, Figo, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho. Hoje, as principais peças em campo são Cristiano Ronaldo, Iker Casillas, Xavi Hernandez, Andres Iniesta e o fantástico Lionel Messi.

Desde 2002, Real Madrid e Barcelona não se encontravam nas semifinais da Liga dos Campeões da Europa. Foi sem dúvida o confronto mais esperado da temporada. Dois elencos formidáveis. De um lado, a base da atual seleção campeã mundial unida ao melhor jogador do planeta, comandada por um técnico que se não é genial, ao menos conhece muito e tem lá sua sorte. Do outro, um estrategista nato, fantástico, polêmico, atual treinador campeão do torneio ,tentando trazer o Real Madrid, da estrela Cristiano Ronaldo, de volta ao topo.

Em um curto período, Barcelona e Real se enfrentam por quatro vezes e o torcedor tem o privilégio de ver se o futebol bonito, de toque de bola envolvente e jogadas rápidas é capaz de superar adversários que formam um verdadeiro tabuleiro de xadrez no gramado, onde o xeque-mate parece impossível.

Novidade não é, mas vale destacar que além de todos esses ingredientes, os valores que envolvem as partidas assustam. Para se ter uma idéia, no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões, alguns ingressos foram vendidos por nada menos do que R$ 4,5 mil. Mas, vamos aos fatos.

O tira-teima

No campeonato espanhol, observamos a vantagem de oito pontos da equipe catalã sobre o Real Madrid. No duelo pelo torneio, empate, 1 a 1, e a expectativa  pelos capítulos restantes só aumentou.

Na decisão da Copa do Rei, prorrogação, e Cristiano Ronaldo decidiu para o Real. A conquista da equipe da capital gerou declarações e interpretações que deixaram os torcedores em dúvida sobre o que vale a pena: jogar pelo espetáculo ou pelo resultado. Mas o vacilo de Sergio Ramos ao deixar a taça cair na comemoração madrilenha, pode ser um sinal.

O pré-jogo da primeira semifinal pelo torneio europeu foi tenso. Mourinho, considerado por muitos o melhor técnico do mundo, foi responsável por declarações polêmicas, acusou o time comandado por Pep Guardiola de ser muito chorão, reclamar de tudo, mesmo quando o árbitro acerta. Guardiola simplesmente disse que o confronto seria dentro das quatro linhas, e foi.
O gramado foi o tabuleiro. Os jogadores, as peças e até a expulsão do luso-brasileiro Pepe, a estratégia do Real Madrid funcionou, mas ao fim, Messi foi rei e deu o primeiro xeque. Vitória do Barcelona por 2 a 0.

O Real Madrid agora tinha uma missão das mais difíceis. Vencer o melhor time do mundo por três gols de diferença, fora de casa e ainda com uma crise de egos entre José Mourinho e Cristiano Ronaldo. O atacante declarou não gostar do modo que a equipe joga e Mourinho o barrou da partida contra o Zaragoza.

Como esta matéria foi escrita antes do confronto decisivo, cabe a você, leitor, buscar o caminho que o clássico tomou...
 
Classificação do Barcelona
O Barcelona não vai ficar marcado por aquele velho ditado de que jogar bonito não dá resultado. Dá sim! Desde a época de Ronaldinho Gaúcho até a de seu herdeiro Messi, a equipe catalã proporciona verdadeiros espetáculos aos seus torcedores. E o melhor, com títulos.

O Real Madrid tentou quebrar a hegemonia nacional do Barcelona ao vencer a Copa do Rei, mas o troco veio e o mundo todo assistiu a capacidade e paciência que o Barcelona tem para envolver o adversário e sair com a vitória.

Polêmicas devem ser deixadas de lado. O Real diz não conseguir terminar um jogo com os seus onze jogadores em campo. Pois bem, o futebol arte deve ser protegido e a violência tem de ser punida. O Barcelona tem um futebol mais bonito, com toque de bola refinado e um gênio que sabe a hora de definir as partidas e isso tem de ser exaltado.

O futebol vem se deteriorando e vendo a inversão da valorização daquilo que é bom. José Mourinho é ótimo, mas retranqueiro. No primeiro jogo, em casa, se propôs a defender e sacrificou o melhor jogador do time para uma estratégia que poderia dar certo em campo, mas não é o que o torcedor espera e muito menos aquilo que as equipes podem apresentar de acordo com os elencos que tem.   

A ida à final da equipe de Pep Guardiola é um bem para o futebol e serve para mostrar que a retranca em muitos casos dá resultado, mas quando se vê diante de equipes qualificadas, torna-se apenas um obstáculo que é superado pelo talento. Resta saber como será o jogo final do torneio, mas, de fato, teremos um futebol mais bonito de se assistir em campo.

Classificação do Real

O futebol é mágico por resultados como esse. Após perder por 2 a 0 em casa, polêmicas e declarações mostrando total frustração com o resultado, o Real conseguiu superar uma das melhores equipes de todos os tempos.

Tal resultado vem comprovar a tese de que feio não é jogar feio, feio é perder. Embora eu discorde e não tenha total paixão pelo futebol jogado pela equipe de José Mourinho, temos de reconhecer quando alguém é bom.

Há pouco tempo o Real Madrid estava se tornando um time de nome e que era mero coadjuvante, sendo sempre eliminado nas oitavas de final da Liga dos Campeões. Hoje, mesmo que de uma maneira não tão bela aos admiradores do bom futebol, a equipe é forte, sabe como se portar e reaprendeu a vencer, fato que não deixa de ser bom.

Se há um lado triste da história toda é que, times como o Barcelona, que tem os atuais três melhores jogadores do mundo, ou como a seleção brasileira de 82 e os times holandeses que revolucionaram o modo de se jogar futebol, não consolidaram o belo futebol em títulos de grande expressão.