Festival do Folclore de Olímpia: cultura do Oiapoque ao Chuí em um só lugar

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Por Priscila Minani

Século XXI, era da tecnologia. Tudo gira em torno da internet, dos robôs, dos videogames, dos carros modernos, da interatividade. Esse chamado mundo civilizado nos remete aos grandes centros, com destaque para a industrialização do estado de São Paulo. Os paulistanos de “r” sutil, nem parecem morar no mesmo estado que os interioranos de “r” marcado. No sul, a Idade também é Contemporânea, mas os gaúchos são conservadores. Os donos dos invejáveis olhos claros apreciam o bom e velho chimarrão, além do churrasco. Em seu vestuário charmoso à européia há a presença do traje conhecido como Bombacha, que dá um ar mais campestre a região. É o “Tchê” do Brasil.

Do outro lado do território nacional, tem-se como representativo do Norte a castanha-do-pará. Envolta por uma casca grossa e um de sabor terroso, caracteriza a personalidade do povo daquela região, que tem os pés no chão e trabalha duro, mas que esbanja alegria e sensualidade. Por falar em trabalho duro e alegria, isso lembra nordestino. Ô povo arretado! Um sotaque chiado na pronúncia do “ch”, “x” que engraça a quem ouve. Por fim, o centro-oeste do país. Cenário do Complexo do Pantanal, abriga uma diversidade de fauna, flora e cultura com características muito próprias. 

Já se pode perceber que o Brasil é legítimo representante da variedade cultural, mas que tal juntar um pouquinho de cada canto do país num só lugar?


O Festival

Ano de 1965. Olímpia, município do interior do estado de São Paulo. Aos 28 anos de idade, o Professor José Sant’anna notou durante o desenvolvimento de sua atividade pedagógica um interesse pelo campo do folclore.  Pesquisou, empenhou-se e promoveu o primeiro Festival do Folclore. No início, tratava-se de um evento pequeno e simples. Mas não demorou muito para tomar dimensões nacionais e ganhar prestígio até mesmo internacional, transformando Olímpia na Capital Nacional do Folclore. Grupos de norte a sul do país deslocam-se até o município interiorano, trazendo a cultura do seu lugar de origem através de danças e interpretações.

Desde 1999 o festival não conta mais com o seu idealizador, mas a importância de conservar essa manifestação de cultura fez com que a comissão organizadora o levasse adiante. Hoje o comando do evento é feito pela Coordenadora Cidinha Manzolli, que sempre esteve ao lado do Professor José Sant’anna.

O Festival acontece durante sete dias, no Recinto de Atividades Folclóricas e  homenageia um estado por ano. Esse ano foi a 47ª edição, tendo como estado tema o Rio Grande do Norte, com destaque para a simbologia do Galo da Madrugada e para o Grupo Pastoril Dona Joaquina de São Gonçalo do Amarante. Além de o grupo estampar o cartaz oficial do Festival, o estado homenageado prepara um pavilhão com artesanato, culinária típica e apresentações de artistas que representam a cultura do lugar.

“O Festival do Folclore de Olímpia é uma oficina de conhecimento e aprendizado”. As palavras de Daiane Strabelli, do Grupo Universitário de Danças Parafolclóricas “Fogança” de Maringá – PR, demonstram a importância que tem essa festa. O contato com os grupos, a oportunidade de aprender sobre os costumes do Brasil todo é o mais gratificante para Priscilla Santos, também do “Fogança”.

E quando se diz Brasil todo, não é à toa. Ana Regina Goulart faz parte do Grupo de Manifestações Culturais Mayaná, do estado do Pará e viajou três dias para se apresentar no Festival: “acho muito organizado, nos traz novas experiências e vale muito à pena vir de tão longe”.

Durante a semana, há 320 apresentações que encantam um público de aproximadamente 120 mil pessoas, entre olimpienses e turistas. É mais que o dobro da população da cidade. O festival reflete também na economia local, até porque o evento não se limita aos 96. 00 m² de área do Parque de Atividades Folclóricas. Há apresentações na Praça da Igreja Matriz de São João Batista e no último dia de festa, um desfile de encerramento na principal avenida da cidade. Assim, no decorrer dos sete dias, Olímpia se torna o foco da cultura folclórica nacional.


O folclore


E agora, aquele momento “você sabia”...
A palavra FOLCLORE vem do inglês e se desmembra em Folk (povo) mais Lore (saber), significando assim, “Sabedoria do Povo”.

A expressão engloba a tradição, os costumes, as crenças, os mitos, as lendas. Folclore representa as histórias e acontecimentos que caracterizam um povo, pois cada grupo é singular e tem muito a aprender e ensinar.

Quem nunca ouviu falar do Curupira, o menino do cabelo de fogo que tinha os pés para trás?
E da Mula sem Cabeça, do Boitatá, da Iara, do Boto cor-de-rosa, Lobisomem?
E o Saci-Pererê? Ah... Esse não tem como esquecer!

O folclore fez parte, principalmente, da infância das gerações passadas. Sem muitas opções de lazer e com a contribuição da vida no campo, as famílias se reuniam para ouvir e contar histórias, e deixar florescer a imaginação o que permitiu que elas perdurassem até hoje.

Assim, o que o Festival do Folclore tenta fazer é manter viva essa tradição a fim de que as próximas gerações possam compartilhar a cultura de cada povo.