UFC: o esporte que surgiu ao acaso e nocauteou o boxe

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Rafael Del Giudice Noronha

Qual a melhor maneira de definir se alguma coisa é melhor que a outra sem as comparar, através dos fatos? Não é possível, a comparação é inevitável. Desse modo, uma família brasileira, que pode ser intitulada um pouco fora do normal, abriu as portas da sua academia de lutas e disse: “Podem vir, lutamos com qualquer um!”

Ok. É verdade que não foi exatamente desta maneira que aconteceu, mas o UFC nasceu a partir desta ideia de Rorion Gracie. A de saber qual luta era a melhor de todas. Especialistas em jiu-jitsu brasileiro, os membros da família Gracie lançaram no ano de 1993 o  “Desafio Gracie”. Todo e qualquer lutador que se julgasse especialista no seu estilo de luta poderia desafiar um membro da família ou algum atleta da academia. Haveria a luta, com algumas regras, mas cada um ao seu estilo.

Por mais estranha que pudesse parecer, a idéia dos Gracie despertou interesse em um grupo de entretenimento que acabou por realizar o torneio, que mais tarde ficaria conhecido como o UFC 1. Não havia diferença de peso. Um tailandês que pesasse 70kg e lutasse kickboxing, poderia enfrentar um japonês especialista em sumô, com mais de 100kg.

Ao final do torneio, o campeão: o brasileiro Royce Gracie, utilizando as técnicas do jiu-jitsu, venceu seus adversários. Royce acabou conquistando três dos quatro primeiros torneios. E o principal motivo deste resulltado é porque os outros lutadores não davam valor à luta de solo. Assim, o brasileiro os derrubava para depois os finalizar. Essas vitórias acenderam o alerta: o essencial não era ser faixa preta em uma categoria, e sim saber lutar tanto em pé, quanto no chão.

Os eventos, que eram realizados nos Estados Unidos, vinham crescendo de maneira inesperada e aleatória. Era para ter  acontecido apenas o UFC 1, mas o negócio se tornou rentável e as assinaturas em pay-per-view para assistir às lutas eram uma maneira de lucrar com o surgimento do novo esporte, que ia sendo lapidado, com regras, juízes e outras coisas mais, para que os opositores – que eram muitos – deixassem de pressionar os organizadores.


Os opositores e a mídia no mundo do UFC

O sucesso dos eventos começou a mostrar efeitos, tanto positivos, quanto negativos. Se por um lado os produtores do evento, de maneira até desnecessária, faziam questão de divulgar que não havia restrições nas lutas, o que impressionava e atraía as pessoas, por outro, o evento era visto como algo ruim. John McCain, senador americano e futuro candidato à presidência, chegou a classificar a luta como briga de galo.

Os olhares negativos dificultavam os negócios para a venda de pay-per-view e até mesmo para a realização das lutas. As dificuldades aumentaram até que o UFC decidiu acatar e submeter-se às ordens e às regras impostas pela junta diretiva de atletismo de New Jersey.

Após este período turbulento, o UFC se desligou da primeira empresa de entretenimento a investir no esporte, – a SEG, que passava por dificuldades financeiras – e foi comprado pela Zuffa, que tinha como presidente o ex-lutador de boxe amador, Dana White.

O primeiro evento promovido pela Zuffa foi o UFC 30, no ano de 2001. O acontecimento marcou a volta ainda mais forte do esporte para a mídia, tanto no pay-per-view quanto na produção de vídeos caseiros.


A popularização do UFC e o nocaute no boxe

Dana White, presidente do UFC, tinha uma missão: popularizar o esporte e diminuir a imagem de lutas brutais, cheias de sangue. Parafraseando o filme de José Padilha, missão dada é missão cumprida.

Ao longo dos anos, mesmo com as turbulências vividas, o UFC foi se estruturando. Criou regras, determinou o espaço e a duração das lutas, e tomou o lugar do boxe na preferência do telespectador. Hoje, já não se fica mais à frente da TV nas madrugadas para assistir a um combate de boxe. Assiste-se ao UFC.

Éder Jofre, lendário bicampeão mundial de boxe, reconheceu o declínio do pugilismo, em entrevista concedida ao SporTV no dia 2 de fevereiro de 2011: “do jeito que eu estou vendo, o boxe não tem muito futuro não.”

Nesta mesma data, o idealizador de “O Desafio Gracie”, Rorion Gracie, polemizou: “Quando criei o UFC sabia que acabaria com o boxe. Quem vê uma luta de UFC não se impressiona mais com o boxe.”

Cabe aqui citar as diferenças entre as categorias. No boxe, a luta acontece no ringue, enquanto que no UFC os combates são no octógono. Os pugilistas podem atacar uns aos outros apenas com os punhos e na linha acima da cintura. No UFC são permitidos socos, chutes, cotoveladas e até a finalização do oponente no chão. Os rounds também são diferentes. No boxe, o número chega a 12. No UFC, são disputados no máximo 5 rounds.


UFC Rio

As lutas, principalmente as que contam com grandes nomes do esporte, se tornaram  um grande espetáculo. O montante de dinheiro que gira em torno de um evento é gigante.

O Brasil, que agora é o país da moda em sediar eventos esportivos, receberá os melhores lutadores do mundo no próximo dia 27. A principal atração do evento é Anderson “Spider” Silva. O brasileiro enfrentará o japonês Yushin Okami, que foi o último lutador a derrotar Anderson, mesmo que esta vitória tenha sido após um golpe ilegal do brasileiro.

Além de Anderson, o evento terá a participação de outras feras brasileiras, como Mauricio Shogun e Minotauro. As lutas serão transmitidas ao vivo pela RedeTV!

Se você ainda tem dúvidas se vai assistir ou não, aqui está a palavra do presidente, Dana White: "Eu estive em todas. Eu estive nas finais da NBA, estive no Super Bowl, a decisão do campeonato de futebol americano. Assisti aos jogos da segunda fase e às grandes lutas. Não acho que esporte algum possa se comparar a uma final do Ultimate Fighting Championship."