Era uma vez uma reportagem...

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Por Mariana Nogueira

O jornal 360 chegou a sua décima edição. E para que este jornal bonito e colorido chegue até você ,caro leitor, muita gente trabalha e se dedica. Com uma qualidade de jornal-revista, jornalistas, editor, designer, gráfica e entregadores suam a camisa, literalmente, em busca das melhores pautas.

Às terças-feiras, 9h da manhã é que são realizadas as reuniões de pauta. Nada muito formal: jornalistas munidos de blocos de anotações, canetas e ideias na cabeça se unem para discutir o que vai e o que não vai entrar na próxima edição. A escolha da pauta vai muito além do quesito bom assunto. É preciso ponderar logística, financeiro, tempo e fontes. Tudo tem que ser favorável. Muitas das pautas idealizadas no 360 não saíram do papel. Ainda.

É um trabalho democrático, de maneira que muitos jornais por aí não trabalham, e explicarei o porquê. Os jornalistas são livres. Cada qual com a sua pauta preferida. Tem os que gostam mais de esportes, os que preferem matérias investigativas, os que transformam pequenos detalhes cotidianos em textos incríveis, os que optam por tecnologia, gastronomia ou pessoas e suas histórias. Quando uma reunião de pauta acaba é evidente a expressão de felicidade exposta nos membros desta humilde equipe que conseguiram emplacar sua pauta.


Pautas em mãos, ideias na cabeça

É hora de trabalhar. Jornalismo compõe-se de 5% de inspiração e 95% de transpiração. E como transpiram os jornalistas no clima ameno de Frutal. O primeiro passo para a produção de uma matéria jornalística é a pesquisa. Todo jornalista deve buscar saber bastante sobre o assunto que vai escrever. Que variam desde a cotação das ações na Bolsa de Valores até o sistema de reprodução das formigas cortadeiras.

Depois da pesquisa é hora de buscar as fontes. As fontes são, normalmente, as pessoas que vão nutrir o texto de informações, vão dar credibilidade, e, algumas vezes, serão os personagens da matéria. Muitos telefonemas e entrevistas marcadas. É chegada a hora de gastar tinta de caneta anotando todos os detalhes que o entrevistado tiver a oferecer. O que diferencia um jornalista do outro é o ponto de vista. Uma mesma entrevista pode se transformar em várias matérias, cada uma a partir do olhar de um escriba.  Exercer o jornalismo é como exercitar um músculo. Você começa sentindo dores, sofrendo para cumprir a rotina, e quando já está acostumado com a carga, precisa de mais peso.


Os pilares da construção

Priscila Minani, estudante de Comunicação na UEMG, explica como surge uma matéria:“normalmente sugiro pautas de acordo com aquilo que se mostra ter maior relevância no contexto atual e, portanto, representam maior interesse público e do público. Mas também há aquelas que surgem como ideias momentâneas“, relata. E quando a pauta cai? O que fazer quando toda pesquisa foi feita, as fontes consultadas, e o texto já ia começar a ser escrito?  “a princípio, é desesperador, porque você tem um prazo para entregar suas matérias, já tinha uma linha de raciocínio para ela e de repente ela cai”, relata Minani.

Matérias prontas, o editor entra em ação. É hora de ler, reler e ler novamente todos os textos, de maneira a adequá-los ao veículo. No 360 grande parte dos seus repórteres não tem anos de experiência no jornalismo, o que para o redator-chefe Lausamar Humberto permite que eles ousem mais em suas matérias por serem dotados de novos olhares. Frutal nem sempre tem assuntos atemporais de sobra, e é aí que os temas mais inusitados entram, “assuntos como a rotinas dos cobradores de lojas, o uso de elevadores ou a vida nas repúblicas estudantis não são pautas comuns, mas que renderam reportagens muito legais”, diz Humberto. Há quinze anos atuando na área jornalística, Lausamar define sua função como uma obsessão pelo detalhe, para que a matéria não contenha erros e esteja a mais apetitosa possível para o leitor. “Exatidão e charme são as marcas de um bom texto jornalístico”, diz o redator.

Textos prontos, é hora de diagramar, ou seja, montar as páginas do jornal, uma a uma, imagem por imagem, texto por texto. Depois desse meticuloso trabalho, o jornal segue para a gráfica, onde é impresso. A partir daí os entregadores entram em cena e fazem este jornal bonito de se ver (e ler) chegar até os leitores de Frutal e região.

Deixando a objetividade um pouco de lado, constato: é mágico produzir jornal. Cada edição é uma planta semeada que vai crescendo até se transformar numa linda árvore carregada com os frutos da informação, da imagem e do trabalho.


A queda

Querido leitor, quer saber como uma pauta cai em pouco mais de dez minutos? Esta singela repórter vai relatar agora o processo de queda de uma pauta que ilustraria esta página, na décima edição do Jornal 360. Preparem-se para uma aventura de repórter.

Uma câmera fotográfica a tiracolo, bloco de anotações, celular, outra repórter e uma cadeira de rodas. Estes seriam os elementos chave da matéria que estaria diante dos olhos de vocês. Mas a pauta caiu. E junto com a pauta, a repórter que aqui vos escreve quase que foi parar no chão também. Explicarei.
Todos os dias quando caminhava pelas calçadas de Frutal ficava imaginando como seria para uma pessoa com deficiências ou dificuldades físicas realizar o mesmo trajeto. Na última reunião de pauta, toda a equipe me apoiou e disse que seria uma ótima matéria. Procurei fontes, montei a minha pauta e marquei um dia para enfrentar uma cadeira de rodas e percorrer os principais pontos de Frutal.

No dia escolhido, às 10 horas e 10 minutos da manhã em frente ao Fórum de Frutal, sentei na cadeira e comecei a busca por uma entrada acessível aos deficientes. É certo que a calçada da praça que cerca o prédio não está em suas melhores condições. A partir daí, transitei pela rua com a cadeira, sempre com o auxílio de outra repórter. Em dez minutos de matéria tudo corria bem. Como não sou portadora de deficiência física, a reportagem tornou-se muito mais difícil, porque eu não tenho prática alguma com o manuseio de uma cadeira de rodas.

Em uma fração de segundos, a pauta se desmorona e sai rolando junto com a roda dianteira da cadeira de rodas. Cadeira e pauta quebradas. Não que essa pauta foi por água abaixo, mas por falta de tempo ela precisou ser pausada, e em breve virá ilustrar as páginas deste periódico. A cadeira de rodas? Passa bem e está novamente em perfeita condições de uso. E a repórter? Encontrou em meio a este desastre uma nova pauta: mostrar ao leitor como as reportagens jornalísticas são produzidas. Como o texto que você lê é pensado, pesquisado e escrito. Fazer jornal não é um conto de fadas, é uma história bem real em que o trabalho intenso de hoje enrola o peixe e forra o chão do carro amanhã.