Estão virtualizando seus movimentos

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Por Alaor Ignácio


Seu corpo não lhe pertence!
Mas antes que você chegue a qualquer conclusão apressada, achando que está com “encosto” de algum espírito maligno, vou logo lhe tranquilizando que será desnecessário investir seu tempo e dinheiro em um pai de santo.
Na verdade, o “nosso corpo”, naquilo que se refere aos seus movimentos, tem pertencido cada dia mais às leis impostas pela tecnologia contemporânea.
Além de coçar a orelha, furar bolo ou apontar para o ridículo dos outros, o que você fazia com o seu dedo indicador antes da existência do mouse?
Pois é, passamos a fazer movimentos que, há alguns anos, eram absolutamente esdrúxulos ou fora de propósitos.
Claro, você já conhece a historinha da criancinha de dois anos que, quando lhe deram um livro infantil, deslizou a mãozinha sobre a página para “passar” à página seguinte. Pois é, o ser humano cada dia mais está movimentando o corpo de acordo com as exigências do mundo tecnológico.
Provavelmente a sua bisavó achará que você precisa tratamento psiquiátrico ou de uma boa benzedeira se o vir jogando tênis defronte à televisão, com um daqueles consoles virtuais.
Ocorre que essa transformação cibernética dos estímulos de nossas ações, e por consequência dos movimentos que passamos a praticar, também estão ocorrendo em nosso cérebro e em nossas manifestações públicas e políticas (políticas, cara pálida?).
Sim, você participou recentemente das manifestações pró-??? Pró o quê? Na Praça da Matriz de Frutal. Fenômeno idêntico ocorreu e ainda ocorre em todo o Brasil, com as recentes manifestações de rua.
Aspecto curioso é que você (e cada um dos participantes) levava o “seu” cartaz, protestando contra a “sua” indignação. Seu corpo exibia a sua própria revolta.
Aparentemente isso contradiz o início desta nossa conversa, quando eu dizia que seu corpo não lhe pertence. Mas toda a convocação do manifesto não foi feita via redes sociais?
Isto é, seu movimento político (seu corpo, com o seu cartaz, exibindo o conteúdo que você escolheu) não expressa primordialmente a visibilidade que você dá à materialização de seu próprio desejo a partir de um contexto virtual?
Chama o pai de santo, a benzedeira e o padre exorcista, porque a coisa pegou.