Profissão sobre duas rodas

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Por Patrícia Paola Almeida


Frutal possui cerca de 200 mototaxistas e mais de 15 pontos de mototáxi. Os números não podem ser exatos, afinal eles não possuem sindicato, associação, ou qualquer outro tipo de organização na cidade. Enfrentam o trânsito desarrumado frutalense, longas jornadas de trabalho, preconceito, os riscos e instabilidade conhecidos dos trabalhadores informais. E quem são esses homens - e mulheres - que ganham a vida sobre duas rodas?

Circulando pelas ruas de Frutal, para vê-los não é preciso esforço. Eles surgem com seus coletes, aparecem e somem na mesma velocidade. Precisa de um mototáxi? Os postes, calçadas, orelhões, sempre têm um número anotado de algum ponto. E não precisa se preocupar, eles aceitam ligação a cobrar. Mas não de celular, não exagere também.

Não muito dispostos a contar sobre suas vidas como mototaxistas, demorou certo tempo e muita saliva foi usada até que se abrissem para narrar  suas experiências. E nas conversas, que foram várias vezes interrompidas pelas corridas que precisavam fazer, foi possível conhecer um pouco da rotina e perspectivas desses homens e mulheres - muitas mulheres, para minha surpresa, que buscam seu sustento e complemento da renda.

Grande parte trabalha como mototaxistas para complementar a renda. Encontrei gente que trabalha em usinas, eletricistas, hidráulicos e até secretárias do lar, apesar de que a maioria das mulheres diz trabalhar como mototaxistas justamente para fugir do serviço doméstico.

Nelva, do moto táxi Matriz, é uma dessas mulheres. Ela trabalha há 14 anos como mototaxista. Conta que não queria trabalhar como empregada doméstica e como sempre pilotou moto e gosta muito disso, não hesitou e ingressou na profissão. Ao ser questionada sobre preconceito por se mototaxista e por ser mulher, a resposta veio rápido: disse que o preconceito contra a mulher ainda existe em todo lugar, mas que você não pode se importar e deve apenas fazer o seu serviço bem feito.

E Nelva não está sozinha. Várias mulheres trabalham como mototaxistas, e eu, que também tinha lá meu preconceito, encontrei guerreiras, mulheres decididas, que trabalham e gostam do que fazem. Vaidosas, circulam pelas ruas de Frutal e ninguém está pensando em mudar de profissão, mesmo que, quem ainda não tem, encontre um trabalho melhor, quer continuar como moto taxista para complementar a renda.

José Antônio, do Minas Mototáxi, que também trabalha na usina, diz que não gosta da profissão. A instabilidade e a falta de segurança são os principais motivos. Consciente, conta que um dos problemas na profissão é que não existe nenhum tipo de segurança. Se algum dos colegas sofre um acidente, por exemplo, são os próprios companheiros que ajudam com despesas médicas e na renda. Se o acidentado não puder trabalhar durante um período, eles não possuem sindicato e nem algum tipo de registro na prefeitura. É cada um por si.


A profissão

A lei que regulariza a profissão foi aprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009 e estabelece que o condutor tenha no mínimo 21 anos para exercer a profissão. Além disso, os profissionais têm que ser aprovados em um curso especializado sob os termos do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), ter pelo menos dois anos de carteira de habilitação de motocicleta e usar o colete de segurança com dispositivo refletivo. A lei também prevê a instalação de equipamentos de segurança nas motocicletas, como o protetor mata-cachorro, para proteger a moto e a perna do motociclista, e a antena contra linhas de pipa.

Os mototaxistas concordam que uma maior organização seria boa para os trabalhadores e para a população. Mas para isso é necessário uma movimentação dos mesmos e adequação dos profissionais.
A margem disso, Sebastião, do Opção Mototáxi, organiza reuniões com os companheiros, onde decidem o valor das tarifas e outros pontos de interesse dos trabalhadores. Apesar do número aproximado de 200 mototaxistas em atividade, essas reuniões são pequenas, poucos comparecem, e as decisões e recados são passados boca a boca por quem foi.

O serviço não é fácil. A começar pelas jornadas de trabalho, que são longas. Nas madrugadas, o sono e cansaço são os principais inimigos. E , o trânsito frutalense, sempre caótico, não é diferente do que podemos assistir na tevê. Os motociclistas não são respeitados e, muitas vezes, também não respeitam. O preconceito também é presente. Muitos se queixam de que a profissão não é valorizada, e que não é raro escutarem que mototáxi não é emprego.


O início

A profissão surgiu na cidade de Crateús, no estado do Ceará, no final de 1995, mas, segundo alguns estudiosos, já existia na Alemanha desde 1987 e na Bolívia desde 1992. O serviço é encontrado em várias cidades do Brasil. Mas, perdoem minha ignorância, eu fiquei encantada com o novo meio de transporte tão utilizado aqui em Frutal, já que vim de São José dos Campos, cidade que fica a menos de duas horas da capital paulista, e lá, eu nunca tinha visto um mototáxi. Apenas na cidade de São Paulo, mas por lá eu fui orientada a não utilizar o serviço. E o que preenche e movimenta o trânsito paulistano são os motoboys e motofretistas, e aqui em Frutal, os mototaxistas estão em todos os lugares. Um fascínio. Não riam.

A região Nordeste foi pioneira no Brasil na luta mais ativa para conquistar os direitos desses trabalhadores. Mas é onde também que freqüentemente reportagens sobre a falta de segurança do transporte vão ao ar, já que é transportado mais de duas pessoas na mesma moto, não se usa capacete, abusam da velocidade, entre outras infrações.


São muito unidos, fato que pode ser notado em qualquer lugar do mundo, e como ouvi: "a linguagem da moto é universal, pois o motociclista sabe o que o outro pensa e sente", eles trabalham como podem, lidam com as dificuldades da profissão juntos, todos possuem sonhos e ambições, e todos esperam e alguns lutam para que logo a profissão receba a assistência que precisa e, por conseqüência, a valorização desse serviço chegue e facilite e assegure a vida desses homens e mulheres, e de você, que tenho certeza, já deu uma voltinha de mototáxi por ai.