O centenário da primeira escola de Frutal

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Por Rafael Del Giudice 

Todo aluno sempre tem lembranças das primeiras professoras, das primeiras travessuras escolares, dos intervalos, dos amigos, das broncas. O período escolar é único e algumas marcas ficam para o resto da vida. Frutal, no ano de 2013 completou 126 anos da sua fundação. 2013, também registra outra comemoração importante. E diz respeito à primeira professora de Frutal. A centenária, a tradicional e cheia de histórias Escola Municipal Gomes da Silva.

Apelidamos, carinhosamente, de primeira professora de Frutal, porque a escola Gomes da Silva foi o primeiro grupo, o primeiro local de estudos para as crianças frutalenses. Os trabalhos começaram, como a matemática nos mostra, no ano de 1913. Mas a inauguração oficial do grupo escolar só veio acontecer em 1924.

Pela escola já passaram muitas pessoas públicas da cidade de Frutal. Ex-prefeitos, vereadores, empresários. Os registros do Gomes da Silva são repletos desses figurões.

Na região central, em frente ao prédio da Biblioteca Municipal, a escola figura sempre entre o top 3 em educação municipal, segundo o IDEB – Índice de Desenvolvimento de Educação Básica. Fruto de trabalho sério e comprometimento de toda a família Gomes da Silva, como explica Maria do Rosário Peito Macedo Batista, a Rosarinha, atual diretora da instituição.

Hoje, funcionam na escola duas salas de educação infantil, três salas do primeiro e terceiro ano do ensino fundamental e duas do segundo, quarto e quinto anos.  Além do curso de supletivo que também usa da estrutura do prédio. Ao todo, são 32 funcionários e 321 alunos que formam a família Gomes da Silva. No início do período letivo, é preciso recusar matrículas, tamanha procura da população pela escola.


A Comemoração do Centenário

Para a comemoração dos 100 anos de história da escola, a equipe pedagógica do Gomes da Silva, desenvolveu, ao longo do ano, diversos projetos com os alunos para contar essa história à sociedade. Foram feitas exposições e apresentações.

Cada professor ficou responsável por contar uma década da existência da escola. Desde sua fundação, até a polêmica demolição do primeiro prédio e da inauguração do prédio atual aos fatos mais recentes. Tudo foi trabalhado em sala de aula. “Fizemos apresentações de sala em sala para informar aos alunos da importância disso. Houve exposição na festa junina, também. E o desfecho das comemorações foi o baile do dia 4 de outubro”, conta a diretora Rosarinha.

A decoração do baile tinha um pé no saudosismo. Logo na entrada, no salão do Alvorada, um painel mostrava fotos antigas, em meio às mais recentes. Ao lado, uma mesa com os primeiros livros de registros, histórias e curiosidades sobre a escola. Foi uma festa de gala e o dinheiro arrecadado será revertido em benefício dos alunos e em melhorias na escola.


As lembranças do Centenário

Num século, muitas coisas acontecem. Não foi diferente com a Escola Municipal Gomes da Silva. Como já dito, várias pessoas que se tornaram notáveis em Frutal passaram por seus bancos escolares. Uns seguiram carreira política, outros viraram empresários e, outros, ainda estão na escola. Sim, Rosarinha já foi aluna. E foi das mais participativas, como faz questão de dizer.

Estudou na escola entre os anos de 1960 até 1964. Depois, em 1979, voltou para ser professora. A primeira escola que lecionou, foi aquela em que estudou e na qual hoje é diretora. São histórias que se cruzam. Para quem conversa com Rosarinha, fica evidente o amor sentido pela escola.

Das lembranças de sala de aula, Rosarinha fala do clube de leitura da Dona Dora, professora. “Ela trazia jornais, revistas e gibis todas as semanas. O clube era organizado, tinha secretária e tudo mais. Em nossas reuniões, primávamos pela leitura e, mesmo com o grande incentivo pela leitura vindo de casa, acredito que muito da minha bagagem cultural se deve a essas reuniões. É muito gostoso lembrar tudo isso. Foi tão marcante pra mim que implantei nas escolas por onde passei.”, relembra Rosarinha.

Outra mulher com história que se confunde com a do Gomes da Silva é a ex-prefeita Ciça. Sua mãe trabalhou na escola por anos. Foi diretora. Suas tias atuaram como professoras e Ciça e seus irmãos foram alunos. “A nossa família participou da história da escola. Eu me lembro com saudade dos auditórios, das disputas esportivas, dos incentivos dos professores para participarmos de tudo. Eu participava e me orgulho disso.”, comenta. Perguntada sobre um fato que a tenha marcado, a ex-prefeita não titubeou: “Uma vez a nossa saudosa diretora, dona Teotônea completou 50 anos. Fomos até o pátio cumprimentá-la e ela disse que fazia meio século de vida. Eu imaginei o quão velha ela era. Hoje, eu já tenho meio século de vida completo. A escola, comemora o primeiro século. É a história sendo feita, o tempo que passa rápido sem que a gente nem se dê conta. Mas, fatos assim nos fazem lembrar com saudade daquele tempo.”.

Já o empresário Carmo Andrade foi estudante nos anos 50. Estudou no primeiro prédio. Segundo ele, o maior crime da história de Frutal foi a demolição. “Era um prédio maravilhoso. Dava pra fazer as alterações e manter a estrutura. Era lindo, um monumento histórico, mas, fazer o quê?”, argumenta.

Carmo conta que a escola o acolheu como uma mãe que acolhe um filho e lhe dá o que vestir, o que comer e amigos para contar nas horas difíceis: “Quando fui estudar no Gomes da Silva, não tinha nada. Todo o meu material era da caixa. Inclusive o uniforme. E todo mundo sabia disso. Como a calça era azul, com o tempo ela ia desbotando e ficava roxa. A gente ria e era facilmente identificado, mas era uma honra. Todo meu repertório cultural foi desenvolvido lá. Devo muito aos anos passados no Gomes da Silva.”.

Ele lembra, também, de cada professora e das atividades de cálculos mentais e composição – antiga definição de redação da época – segundo o próprio Carmo, ele ganhava todas essas tarefas. “Recordo-me da dona Almira Bandeira, pessoa extraordinária. Depois, a dona Dora Mello, um anjo de pessoa. Ela não tinha filhos e, parece que tinha os alunos como filhos. Era uma coisa muito maternal a nossa relação com os professores. No quarto ano, foi a Dona Guiomar Costa Oliveira, esposa do Maestro Josino. As professoras tinham o nosso respeito. Algumas eram mais bravas, mas era coisa normal. O que importava era o que nos passavam, com total profissionalismo. Nas atividades eu me dava bem. Foi uma época maravilhosa.”.


Os anos passam, as marcas, ficam

Tantas lembranças e histórias, certamente não cabem nesses caracteres ou nas folhas deste jornal. Mesmo assim, perguntamos aos entrevistados desta reportagem, qual marca ou o que o Gomes da Silva, na visão deles, passa para a sociedade frutalense. Sem edição alguma, aqui vão as declarações.

“Pra mim, a escola que está no meu coração. É amor mesmo pela escola. Há 16 anos eu trabalho aqui. Eu estudei aqui, trabalho aqui e todos os meus filhos já estudaram aqui. É uma escola que eu não me imagino fora. Já recebi convites e não quis sair, então é amor pela escola. É minha segunda casa.”, Lilian Fernanda da Silva Souza, bibliotecária da escola.

“Tem que ser algo tão profundo. Eu acho que ali é uma escola maternal, as professores eram como mães, os alunos como irmãos. A gente aprendia mesmo. Era uma coisa muito familiar. Ta aí, familiar é a palavra certa.”, Carmo Andrade, empresário e ex-aluno.

“Um local onde uma equipe responsável busca ensinar o jovem pra sua vida. Eles buscam moldar o cidadão para o seu futuro. Esse é o comprometimento que me lembra a Escola Municipal Gomes da Silva.”, Maria Cecília Marchi Borges, Ciça, ex-prefeita de Frutal e ex-aluna.

“Eu coroava a Nossa Senhora Aparecida quando aluna. Foi o primeiro lugar que lecionei. Hoje, me sinto honrada em ser diretora, nesse momento. Então, eu sei que aqui, a educação de qualidade é o principal objetivo. Com envolvimento dos pais, da comunidade, da cidade, em geral. Para mim, é tradição e comprometimento com ensino a imagem que nós passamos.”, Rosarinha, ex-aluna, ex-professora e diretora da Escola Municipal Gomes da Silva.


Quem Foi Comendador Gomes da Silva

Joaquim Antonio Gomes da Silva nasceu, em 1838, na cidade de Pitangui. Foi jornalista, escritor, músico e senador. Fundou a cidade de Uberaba e elevou Frutal à Vila, em 1855. Foi um homem muito atuante no âmbito público e respeitado pelos cidadãos de sua época. Dá nome ao primeiro grupo escolar de Frutal e, também, à cidade de Comendador Gomes, vizinha de Frutal.