Jornal 360 - 15ª Edição

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Editorial: Investimento no diálogo

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Nesta edição do 360, o jornal traz uma reportagem sobre a difícil situação do sistema educacional. Não é apenas o ensino, não é apenas a qualidade, não é apenas mais um triste retrato da realidade. A situação chegou ao ápice. Violência e falta de respeito que nunca combinaram com a escola, agora são pensados juntos da educação. Eram opostos. Hoje, quase sinônimos.
Verdade seja dita: a violência não existe a partir de agora. E o saudosismo também não cabe. Dizer que antes era melhor, era assim ou assado, é muito fácil. Lamentar é fácil. Há a necessidade de se pensar o ensino, o investimento, a sociedade.
O governo federal aumentou o investimento em educação. Os índices de educação sobem, mas, a realidade vivida pelas instituições de ensino ainda é temerária. E culpados – acusados? Não faltam. A escola fala do desinteresse do aluno, a família da falta de estrutura da escola, os professores da não valorização. E enquanto isso os alunos seguem nas distrações da vida de quase adolescentes.
O caminho para melhorias e uma real situação satisfatória parece ser complicado de encontrar, mesmo assim, existem possíveis saídas. Uma delas, a maturidade. Maturidade de entender os problemas, maturidade e capacidade de autoavaliação de todos os envolvidos: gestores, pais, alunos e professores. Junto da maturidade, vem também a humildade para reconhecer que as melhorias só irão acontecer quando todos falarem a mesma língua. Quando cada um entender o seu papel enquanto cidadão e, mesmo com situações adversas, tentar melhorar.
Maturidade e diálogo são, portanto, pontos extremamente necessários para melhorias, reivindicações e, acima de tudo, o Brasil, Minas Gerais, ou Frutal terem uma educação de qualidade, onde o medo e a violência não continuem sendo tratados com naturalidade. Em Frutal, ainda que embrionário, o diálogo parece começar a acontecer depois dos casos e brigas. Se dará certo ou não, veremos.

Mau comportamento nas escolas: educação à prova

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Por Rafael Del Giudice e Thaiz Beltrão

A atual situação do sistema educacional brasileiro traz à tona a necessidade de uma discussão aprofundada sobre as prioridades de investimentos nacionais. Mesmo com o aumento no repasse para a educação, o Brasil ainda sofre com problemas no setor.

Segundo números da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgados em setembro de 2013, o país elevou de 5,8% para 6,1% os investimentos totais para a educação em relação ao produto interno bruto (PIB). O percentual chega a ultrapassar o de países como Hungria, Itália e Suíça, mas, ainda assim, é pouco.
Além do mau desempenho em testes internacionais, a educação brasileira vem apresentando um grave problema com consequências sabidamente ruins: o alto grau de indisciplina nas salas de aula.

Se a realidade nacional é complicada, a municipal não foge à regra. Frutal apresenta alguns problemas que merecem atenção especial por parte da comunidade e de seus gestores. Há dificuldade no relacionamento entre aluno e professor, na escola com os pais, e esse ciclo gera um sentimento de medo e descaso com a educação.

Recentemente, dois casos em frente à Escola Estadual Maestro Josino de Oliveira ganharam repercussão e chamaram a atenção não só de quem faz parte da realidade da escola, mas de todos os frutalenses. Em uma briga, marcada através das redes sociais, uma aluna foi agredida com um soco inglês. Em outro fato, os alunos rasgaram livros em frente ao prédio escolar.

Este desrespeito entre os alunos e para com a escola levantam algumas hipóteses: uns dizem que há desinteresse dos alunos, outros falam na não valorização do profissional da educação, há também quem diga que a família deve ser mais presente no cotidiano dos estudantes e ex-alunos do colégio lembram que antes havia mais rigidez e normas na escola. Mas afinal, a situação melhorou, piorou ou passou por transformações?


A educação de antes era melhor do que a de hoje?

Cinomar Lopes é diretor da escola e fala sobre o atual cenário: “hoje o aluno tem muito mais direitos em relação à escola. Antes, havia um vestibulinho para selecionar os estudantes do Estadual, hoje não. Era necessário estar de uniforme para poder entrar nas aulas, hoje não. Enfim, havia mais rigidez. Os programas de inclusão têm bons propósitos, mas acredito que houve um resultado inverso do esperado”, diz o diretor.

Ele não defende a volta do vestibulinho como forma de seleção para os alunos, mas admite que antes o interesse era maior: “o vestibulinho era, de certa forma, discriminatório. Mesmo assim, a diferença é notável. Antes havia o interesse em aprender, a obrigação da nota para passar de ano. Hoje o aluno pode progredir as séries e continuar devendo matérias, então ele pensa e age da maneira mais cômoda, porque alguns ainda não têm consciência da importância dos estudos. Nosso trabalho é de conscientização, em todos os sentidos, e esperamos conseguir atrair aquele aluno menos interessado”, comenta.

Para a professora universitária e psicóloga Renata Dias, a diferença entre o perfil dos alunos se dá também pela diferença no modelo das diferentes épocas da sociedade. Segundo ela, antes, o professor era uma das únicas fontes para o conhecimento. Hoje, há uma série de ferramentas tecnológicas à disposição de todos, e a educação deve trabalhar para se tornar interessante e compatível com os dias atuais. “Todos os esforços devem convergir a favor da educação. Com a tecnologia, não é diferente. Ela deve servir como instrumento para alcançar objetivos de ensino e aprendizagem. E pode ser bem utilizada no meio educacional tanto por alunos quanto professores desde que na medida certa”, diz.

Renata fala ainda que o discurso saudosista deve ser mais bem analisado: “antes havia a violência, mas de maneira mais sutil. Havia a violência fruto da exclusão social - somente os filhos das classes mais favorecidas economicamente tinham a oportunidade de estudar - ; a violência do autoritarismo; a violência da arbitrariedade de regras e punições”, analisa.


Investimento e diálogo: os possíveis caminhos

As transformações na sociedade mudaram também a maneira de as pessoas se comunicarem, como pontua a psicóloga Renata. A partir disso, a escola tenta mudar e evoluir, mas, sem investimento, o esforço fica restrito em poucas ações.
Segundo a supervisora do Estadual, Juraciara Matos, há orientação para os professores deixarem as aulas mais dinâmicas. “Esse trabalho é feito, mas é complicado. O giz, lápis e caderno não podem ser deixados de lados. Não é toda atividade que pode ser tratada com dinamismo, e os recursos também são poucos”, avalia.

A supervisora faz menção também aos países com elevadas taxas de qualidade de vida: “se você parar para observar, todos os lugares onde há investimento pesado em educação, há desenvolvimento, há boa qualidade de vida. Um bom professor, valorizado, motivado, pode fazer diferença por toda a vida de um estudante”, diz.

Já para a inspetora de ensino Suzete Machado, mesmo que exista investimento e qualificação, há ainda mais o que ser feito pela educação. “Quando eu penso em educação e nesses problemas que temos enfrentado, acredito que haja uma necessidade de reflexão. Se acontecem desentendimentos, se a relação é difícil, se não há motivação, o que existe é uma falha. É nossa obrigação, enquanto envolvidos com o setor educacional, parar e refletir sobre tudo isso. Não basta dizer que o aluno é desinteressado, que falta investimento ou que a família precisa ser mais presente. Além de investimentos, o diálogo é extremamente necessário”, comenta.

Suzete comenta sobre uma palestra feita em parceria com a Polícia Militar de Frutal, no dia 12 de março. O evento reuniu pais, professores, gestores do ensino e contou também com a presença do atual chefe do batalhão da polícia militar em Frutal, o tenente Leonel Gonçalves dos Santos.

O tenente aproveitou a oportunidade para sugerir a criação de conselhos escolares de segurança, onde atuariam os professores, diretores, pais e alunos. Segundo Leonel, essa seria uma forma de discutir os problemas, buscar soluções e tomar decisões mais acertadas, afinal, seriam mais vozes no debate de segurança pública.

Para Suzete, o caminho para melhorias no ambiente escolar, passa, necessariamente pelo diálogo: “Essas atividades de reunir a comunidade e discutir os problemas são de suma importância. Geralmente são poucos os pais que participam, uns trabalham, outros não vão. Mas dessa vez, até pelos últimos acontecimentos, a presença foi grande. Isso nos ajuda muito a disseminar as informações e a troca de opinião é sempre positiva”, diz.


Briga na porta da escola

Em fevereiro deste ano, uma briga entre meninas assustou a população frutalense. Segundo informações, as garotas haviam planejado tudo através das redes sociais. A confusão terminou com uma menina ferida com um soco inglês (tipo de arma branca).

Depois do incidente, a direção da escola prestou o atendimento necessário. “Nós a socorremos, mas é bom falar que o que acontece do muro para fora, não é de nossa responsabilidade. Demos o apoio necessário por ser aluna da escola e estar com o uniforme, mas situações assim fogem do nosso controle. O que fazemos é pedir o apoio para a Polícia Militar nos horários de entrada e saída, já mandamos diversos requerimentos e, na medida do possível eles nos auxiliam”, diz a supervisora Juraciara.


Alunos rasgaram livros

Outro episódio que chamou a atenção e repercutiu nas redes sociais foi quando os alunos rasgaram livros na porta da escola. Houve uma grande discussão sobre o fato. Uns diziam ser coisa normal, de quem ainda é imaturo e extravasa em alguns momentos, já outros trataram o assunto como uma falta de respeito por parte dos jovens.

Dentro da escola, segundo a supervisora Juraciara, há a orientação para a preservação do material em boas condições, para sua reutilização em anos seguintes. “O que foi destruído, era doação. Só pegou livro na escola o aluno que quis. E lá fora, eles fazem o que querem. A gente orienta e pede o cuidado com o material, mas não conseguimos fazer tudo”, avalia.

O centenário da primeira escola de Frutal

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Por Rafael Del Giudice 

Todo aluno sempre tem lembranças das primeiras professoras, das primeiras travessuras escolares, dos intervalos, dos amigos, das broncas. O período escolar é único e algumas marcas ficam para o resto da vida. Frutal, no ano de 2013 completou 126 anos da sua fundação. 2013, também registra outra comemoração importante. E diz respeito à primeira professora de Frutal. A centenária, a tradicional e cheia de histórias Escola Municipal Gomes da Silva.

Apelidamos, carinhosamente, de primeira professora de Frutal, porque a escola Gomes da Silva foi o primeiro grupo, o primeiro local de estudos para as crianças frutalenses. Os trabalhos começaram, como a matemática nos mostra, no ano de 1913. Mas a inauguração oficial do grupo escolar só veio acontecer em 1924.

Pela escola já passaram muitas pessoas públicas da cidade de Frutal. Ex-prefeitos, vereadores, empresários. Os registros do Gomes da Silva são repletos desses figurões.

Na região central, em frente ao prédio da Biblioteca Municipal, a escola figura sempre entre o top 3 em educação municipal, segundo o IDEB – Índice de Desenvolvimento de Educação Básica. Fruto de trabalho sério e comprometimento de toda a família Gomes da Silva, como explica Maria do Rosário Peito Macedo Batista, a Rosarinha, atual diretora da instituição.

Hoje, funcionam na escola duas salas de educação infantil, três salas do primeiro e terceiro ano do ensino fundamental e duas do segundo, quarto e quinto anos.  Além do curso de supletivo que também usa da estrutura do prédio. Ao todo, são 32 funcionários e 321 alunos que formam a família Gomes da Silva. No início do período letivo, é preciso recusar matrículas, tamanha procura da população pela escola.


A Comemoração do Centenário

Para a comemoração dos 100 anos de história da escola, a equipe pedagógica do Gomes da Silva, desenvolveu, ao longo do ano, diversos projetos com os alunos para contar essa história à sociedade. Foram feitas exposições e apresentações.

Cada professor ficou responsável por contar uma década da existência da escola. Desde sua fundação, até a polêmica demolição do primeiro prédio e da inauguração do prédio atual aos fatos mais recentes. Tudo foi trabalhado em sala de aula. “Fizemos apresentações de sala em sala para informar aos alunos da importância disso. Houve exposição na festa junina, também. E o desfecho das comemorações foi o baile do dia 4 de outubro”, conta a diretora Rosarinha.

A decoração do baile tinha um pé no saudosismo. Logo na entrada, no salão do Alvorada, um painel mostrava fotos antigas, em meio às mais recentes. Ao lado, uma mesa com os primeiros livros de registros, histórias e curiosidades sobre a escola. Foi uma festa de gala e o dinheiro arrecadado será revertido em benefício dos alunos e em melhorias na escola.


As lembranças do Centenário

Num século, muitas coisas acontecem. Não foi diferente com a Escola Municipal Gomes da Silva. Como já dito, várias pessoas que se tornaram notáveis em Frutal passaram por seus bancos escolares. Uns seguiram carreira política, outros viraram empresários e, outros, ainda estão na escola. Sim, Rosarinha já foi aluna. E foi das mais participativas, como faz questão de dizer.

Estudou na escola entre os anos de 1960 até 1964. Depois, em 1979, voltou para ser professora. A primeira escola que lecionou, foi aquela em que estudou e na qual hoje é diretora. São histórias que se cruzam. Para quem conversa com Rosarinha, fica evidente o amor sentido pela escola.

Das lembranças de sala de aula, Rosarinha fala do clube de leitura da Dona Dora, professora. “Ela trazia jornais, revistas e gibis todas as semanas. O clube era organizado, tinha secretária e tudo mais. Em nossas reuniões, primávamos pela leitura e, mesmo com o grande incentivo pela leitura vindo de casa, acredito que muito da minha bagagem cultural se deve a essas reuniões. É muito gostoso lembrar tudo isso. Foi tão marcante pra mim que implantei nas escolas por onde passei.”, relembra Rosarinha.

Outra mulher com história que se confunde com a do Gomes da Silva é a ex-prefeita Ciça. Sua mãe trabalhou na escola por anos. Foi diretora. Suas tias atuaram como professoras e Ciça e seus irmãos foram alunos. “A nossa família participou da história da escola. Eu me lembro com saudade dos auditórios, das disputas esportivas, dos incentivos dos professores para participarmos de tudo. Eu participava e me orgulho disso.”, comenta. Perguntada sobre um fato que a tenha marcado, a ex-prefeita não titubeou: “Uma vez a nossa saudosa diretora, dona Teotônea completou 50 anos. Fomos até o pátio cumprimentá-la e ela disse que fazia meio século de vida. Eu imaginei o quão velha ela era. Hoje, eu já tenho meio século de vida completo. A escola, comemora o primeiro século. É a história sendo feita, o tempo que passa rápido sem que a gente nem se dê conta. Mas, fatos assim nos fazem lembrar com saudade daquele tempo.”.

Já o empresário Carmo Andrade foi estudante nos anos 50. Estudou no primeiro prédio. Segundo ele, o maior crime da história de Frutal foi a demolição. “Era um prédio maravilhoso. Dava pra fazer as alterações e manter a estrutura. Era lindo, um monumento histórico, mas, fazer o quê?”, argumenta.

Carmo conta que a escola o acolheu como uma mãe que acolhe um filho e lhe dá o que vestir, o que comer e amigos para contar nas horas difíceis: “Quando fui estudar no Gomes da Silva, não tinha nada. Todo o meu material era da caixa. Inclusive o uniforme. E todo mundo sabia disso. Como a calça era azul, com o tempo ela ia desbotando e ficava roxa. A gente ria e era facilmente identificado, mas era uma honra. Todo meu repertório cultural foi desenvolvido lá. Devo muito aos anos passados no Gomes da Silva.”.

Ele lembra, também, de cada professora e das atividades de cálculos mentais e composição – antiga definição de redação da época – segundo o próprio Carmo, ele ganhava todas essas tarefas. “Recordo-me da dona Almira Bandeira, pessoa extraordinária. Depois, a dona Dora Mello, um anjo de pessoa. Ela não tinha filhos e, parece que tinha os alunos como filhos. Era uma coisa muito maternal a nossa relação com os professores. No quarto ano, foi a Dona Guiomar Costa Oliveira, esposa do Maestro Josino. As professoras tinham o nosso respeito. Algumas eram mais bravas, mas era coisa normal. O que importava era o que nos passavam, com total profissionalismo. Nas atividades eu me dava bem. Foi uma época maravilhosa.”.


Os anos passam, as marcas, ficam

Tantas lembranças e histórias, certamente não cabem nesses caracteres ou nas folhas deste jornal. Mesmo assim, perguntamos aos entrevistados desta reportagem, qual marca ou o que o Gomes da Silva, na visão deles, passa para a sociedade frutalense. Sem edição alguma, aqui vão as declarações.

“Pra mim, a escola que está no meu coração. É amor mesmo pela escola. Há 16 anos eu trabalho aqui. Eu estudei aqui, trabalho aqui e todos os meus filhos já estudaram aqui. É uma escola que eu não me imagino fora. Já recebi convites e não quis sair, então é amor pela escola. É minha segunda casa.”, Lilian Fernanda da Silva Souza, bibliotecária da escola.

“Tem que ser algo tão profundo. Eu acho que ali é uma escola maternal, as professores eram como mães, os alunos como irmãos. A gente aprendia mesmo. Era uma coisa muito familiar. Ta aí, familiar é a palavra certa.”, Carmo Andrade, empresário e ex-aluno.

“Um local onde uma equipe responsável busca ensinar o jovem pra sua vida. Eles buscam moldar o cidadão para o seu futuro. Esse é o comprometimento que me lembra a Escola Municipal Gomes da Silva.”, Maria Cecília Marchi Borges, Ciça, ex-prefeita de Frutal e ex-aluna.

“Eu coroava a Nossa Senhora Aparecida quando aluna. Foi o primeiro lugar que lecionei. Hoje, me sinto honrada em ser diretora, nesse momento. Então, eu sei que aqui, a educação de qualidade é o principal objetivo. Com envolvimento dos pais, da comunidade, da cidade, em geral. Para mim, é tradição e comprometimento com ensino a imagem que nós passamos.”, Rosarinha, ex-aluna, ex-professora e diretora da Escola Municipal Gomes da Silva.


Quem Foi Comendador Gomes da Silva

Joaquim Antonio Gomes da Silva nasceu, em 1838, na cidade de Pitangui. Foi jornalista, escritor, músico e senador. Fundou a cidade de Uberaba e elevou Frutal à Vila, em 1855. Foi um homem muito atuante no âmbito público e respeitado pelos cidadãos de sua época. Dá nome ao primeiro grupo escolar de Frutal e, também, à cidade de Comendador Gomes, vizinha de Frutal.

Brincadeira de gente grande (e pequena também)

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Texto: Rafael Del Giudice 
Foto: Even Vendramini

A estrutura é simples. Entre o antigo lixão e a o prédio da APAC, existe uma pista de terra, com mato em volta e sol o dia todo. Aos sábados e domingos a paisagem ganha outros detalhes. Entre os urubus, que ainda procuram alimento, voam alguns aviões pequenos. São conhecidos como aeromodelos. Quem passa pela estrada, ainda de terra, que liga Frutal à Pirajuba, consegue ouvir o som dos mini motores.

O aeromodelismo em Frutal, aos poucos, vem ganhando adeptos e praticantes. Tudo começou há 15 anos, quando Jorge Luiz da Silva viu uma matéria sobre o hobby no programa do Gugu: “Vi a reportagem e fiquei apaixonado. Procurei em revistas, pesquisei e comprei uma planta para tentar construir meu aeromodelo. Seria o primeiro que eu iria ver ao vivo, sem ser o da televisão. Não consegui e fiquei um pouco frustrado”, lembra Jorge.

Depois da tentativa sem êxito, o pioneiro no aeromodelismo frutalense foi até São José do Rio Preto para comprar seu avião. Conheceu um homem que o ensinou a pilotar. Era o Piu. Mas foram poucas aulas. Logo Piu seguiu para um curso de piloto agrícola. “Daí em diante, eu fui meio na raça mesmo. O hobby era mais caro na época, então eu tentei fazer novos modelos. Fui pesquisando até que consegui fazer os meus aviões e voar. Éramos eu e um amigo que hoje mora em Uberlândia, o Alex. Ele mudou-se e fiquei sozinho. Tive de abandonar o hobby por um tempo”, conta.

Neste período afastado do aeromodelismo, Jorge viu que não conseguia ficar sem o hobby. Voltou a fazer contato com Alex e começou a tentar convencer os irmãos a praticarem. Tudo para que a atividade não morresse na cidade. “Meus irmãos aprenderam e a gente começou a voar lá no aeroporto. Um dia o Frank – aponta para o amigo – estava passando por lá e falou que tinha um aeromodelo parado há mais de um ano. Falamos pra ele trazer e, pouco tempo depois o grupo já ganhava novos integrantes”.


Aeromodelo desde cedo

Quem chega à pista dos aeromodelistas encontra sempre alguns carros -  que servem também para recarregar as baterias dos aviões -, barracas para proteger do sol forte e o zunido marcante dos modelos. Entre os membros do grupo, Eduardo Henrique Grecco Lopes, é o mais novo. Aos 12 anos ele comanda seu aeromodelo com a experiência de quem pratica há muito tempo.

Fanático por aeromodelismo, o garoto não parou quieto enquanto estávamos no local. De repente estava no meio da pista com um avião. Num piscar de olhos já vinha junto dos carros para recarregar as baterias dos aviões elétricos. E dali, já ia ajeitar tudo no avião à combustão. O que importa aos finais de semana é voar. Importa tanto, que Eduardo ficou no meio de um redemoinho de poeira que se formou enquanto estávamos no local. Detalhe importante: mesmo com o olho irritado pela poeira, não deixou o avião cair.

Peço uma entrevista. Prontamente o menino atende ao pedido e conta como surgiu o interesse pelo hobby: “Eu vi um vídeo no youtube e gostei. Pedi um aeromodelo de presente para o meu pai. Depois que ele me deu começamos a praticar com o Jorge. Já faz uns três meses que eu piloto”, conta o garoto, meio apressado e ansioso para voltar a pilotar.

Mais uma pergunta e Eduardo conta que no começo Jorge o ajudou muito com aulas, dicas e manutenção. Hoje, se seu aeromodelo der algum tipo de problema, o menino não passa por dificuldades: “Os modelos elétricos eu consigo arrumar sozinho. Quando é alguma coisa com os de combustão, peço ajuda ao Jorge ou a alguém da turma. Todo mundo aqui se ajuda e isso facilita muito”, diz o menino que hoje tem cinco aeromodelos. Dois à combustão e três elétricos.


Como funciona o mundo do aeromodelismo

Se você pensa que o fato de um garoto saber fazer a manutenção e pilotar um aeromodelo, torna a máquina fácil de manusear, está enganado. O modelo elétrico é menos complicado e necessita da bateria, do controle e da frequência correta para funcionar. Além, é claro, de muita prática.

Já o aeromodelo movido à combustão tem praticamente a mesma estrutura de um avião de voo normal. Motor, estrutura de pouso, combustível. Tudo cópia em miniatura dos aviões que vão de um lado a outro do planeta.

Jorge produz aeromodelos para quem deseja: “Um estilo treinador, que serve para o aluno iniciante, sai R$850,00 e mais uma taxa simbólica para quem quiser ter aulas. Parece um valor alto, mas, em termos de aeromodelismo, não é. Já vi aeromodelos custarem até R$160.000,00 sem exagerar”, afirma.

Os modelos que fabrica são feitos com depron. “Aquela caixinha de isopor que traz o lanche”, explica. As chapas têm de 4 a 5 milímetros e tudo é feito manualmente. Os outros membros do grupo contam que já desenvolveram algumas ferramentas para auxiliar na produção. Outro material indicado para um aeromodelo é a madeira balsa. “Com a balsa já é mais complicado, para o piloto mais experiente. É claro que fica um trabalho mais detalhado, mais bonito. Mesmo assim, os que a gente produz não deixam nada a desejar e voam como qualquer outro”, comenta Jorge.

Depois de ter o avião, o praticante precisa, é claro, de uma pista. O local onde o grupo se encontra atualmente é bom, mas estão à espera de melhorias: “Antes a gente voava no aeroporto. Viemos pra cá depois da proibição do uso da pista. Desde então estamos tentando conseguir asfaltar aqui e construir uma estrutura pequena, mas ideal para a nossa prática. A prefeitura disse que vai nos ajudar. Estamos esperando”.


Fim do dia, compromisso firmado para a próxima semana

O sol começa a se pôr e o dia termina. Em meio às inúmeras curiosidades, Jorge ainda fala de alguns modelos projetados por ele e pelo amigo Emerson, de Itapagipe. “O Emerson tem um modelo que você pilota através de um óculos. É uma simulação mesmo, tem que ter muita noção”.

Essa sensação de pilotar, além de distrair, constrói sonhos. O garoto Eduardo, aquele que esteve no meio do vendaval, sonha em ser piloto. Para ele, a sensação de estar ali todos os finais de semana é igualzinha a de pilotar um avião de verdade.

Mas a sensação não pode ser definida apenas com as palavras. Jorge tentou me ensinar. Disse pra tocar de leve no controle na hora de fazer as curvas e para tentar manter o avião no ar. Os pouco mais de cinco segundos que o aeromodelo esteve sob meu comando certamente foram de grande emoção para a imaginária tripulação. Antes que um desastre maior acontecesse, Jorge reassumiu o controle.

Perguntado sobre mais alguma história, ou fato sobre o tema, Jorge é interrompido pelo amigo Frank: “Mais alguma coisa? Só esperar o próximo final de semana chegar para brincar de novo. E você pode voltar, chama o pessoal. Vem aqui com a gente, é muito bacana”.

Entre Fé e Razão: a religião no meio acadêmico

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Por Even Vendramini e  Rafael Del Giudice

Numa discussão sobre fé ou o estudo religioso, a primeira polêmica que surge diz respeito ao livro sagrado: “Primeiro nós temos que ver: que Bíblia? Muitas religiões pregam que a Bíblia é a palavra de Deus. Tá bom. Se é a palavra de Deus, então como tem interferência do homem? Quem escreveu a Bíblia? A Bíblia foi compilada em 314 d.C.. Ou seja, foi no terceiro século depois de Cristo que juntaram todos aqueles pergaminhos e formaram um livro. Nós precisamos ver qual era o interesse dos políticos daquela época em fazer isso. Porque eles queriam fundar uma religião nova? Até então, eles acreditavam em vários deuses. Chegou uma época que não teve jeito. Constantino viu que se não acreditassem em um Deus único, ia ficar difícil de governar, porque a maioria já acreditava nesse Deus único, então ele precisava tomar conta daquilo, e aí, muitas coisas foram trocadas, continuam sendo trocadas, adaptadas até hoje, dependendo da instituição”, afirma a teóloga Realina Silva Alves.

E o assunto religião no ambiente universitário? A discussão sobre isso é iniciada pelo fato de existir em Frutal a ABU – Aliança Bíblica Universitária. Um grupo de jovens que se reúnem todas as quartas no intervalo das aulas noturnas na UEMG. Para eles, é possível sim um estudo religioso no meio acadêmico. E que, embora a ABU seja uma espécie de braço da fé evangélica, está aberta para qualquer pessoa que quiser participar.

O movimento teve início em Frutal em maio de 2012. Em sua história geral, começou no final dos anos 50, a partir de estudos bíblicos praticados por diversos cristãos. Os pioneiros no Brasil foram Robert Young e Ruth Siemens e, quando os primeiros obreiros chegaram ao Brasil, começaram a auxiliar na formação de líderes para a igreja evangélica brasileira. Ainda segundo a história da ABU, o grande desafio do grupo é a urgência de se proclamar o Evangelho integral em uma sociedade cada vez mais carente de Deus. Além disso, a ABU busca se preocupa com a comunidade que a envolve. As ações sociais também são foco do grupo.

Presidente da ABU-Frutal, a aluna do 6º período de Publicidade e Propaganda da UEMG, Gabryella Fernandes, participa dos encontros desde o início. Ela fala que a ABU é importante na vida do jovem porque surge, não só como um estudo religioso, mas também como um grupo de apoio para as pessoas que saem de casa e chegam a uma cidade nova: “Quando a gente não conhece ninguém, não tem amigo e nem família por perto, fica meio abalado, meio perdido. Muitas vezes nos afastamos de Deus, da nossa fé. É como se fosse uma ajuda mesmo pra gente se “alimentar” de alguma coisa boa e se “autoajudar”, não sei se essa seria a palavra certa”, conta.

Os encontros do grupo acontecem em uma sala no primeiro piso do Bloco B da UEMG. Lá, os membros levam temas ligados a algum assunto da Bíblia e começam a discussão através de outros textos, músicas, conversas e debates. Segundo Gabryella, ninguém está ali para pregar nada e nem levantar nenhuma bandeira, mas algumas pessoas ainda não entendem isso: “A maioria dos membros é evangélico, e de diversas igrejas. Não existe uma só igreja lá. E tem muitos católicos também que dão os estudos. Mas mesmo assim, acho que existe certo preconceito. Não só com os evangélicos, mas por ser algo conhecido como religioso. Acho que a faculdade e a religião têm meio que um bloqueio. Essa ponte é um tanto difícil de ser construída”.

Priscilla Lemos é aluna do curso de Letras, na UFTM – Universidade Federal do Triângulo Mineiro – e também participa da ABU daquela universidade. No grupo desde fevereiro de 2012, ela conheceu o movimento através da internet: “Eu vi um vídeo da Rede Fale (uma vertente da ABU) que denunciava a desapropriação de terras. A partir daí, comecei a procurar, vi que tinha um amigo que participava e fui. Eu era muito tímida, com o tempo, me soltei. Hoje, converso com todo mundo, participo e dou treinamentos também. Então, a ABU me ajudou muito nesse sentido”, conta.

Sobre a realidade vivida por ela, na ABU em Uberaba, Priscilla fala que a participação de membros de outras religiões, que não sejam as evangélicas, é rara. Ela conta também que, assim como acontece em Frutal, percebe um bloqueio das pessoas com a organização: “É sempre assim “ah, você quer impor alguma coisa” ou então “você fala uma coisa, mas você não faz”. Então sempre estão prontos para nos julgar, ou podar. Não nos deixam falar nada. E até os professores, às vezes também, por conta de algumas polêmicas, acabam julgando o todo por uma parte”, avalia.


Fé que pensa, razão que crê?

Mais uma vez, surgem dúvidas sobre a fé no meio acadêmico. Existe espaço para manifestação religiosa dentro da academia? E essa manifestação, deve se restringir à fé, à crença, ao misticismo ou, por estar no meio acadêmico, deve participar também da produção de conhecimento?

Augusto Vasconcelos é professor universitário e gosta de estudar a religião, ou, como ele prefere dizer, teologia. Segundo o estudioso, entender a teologia é muito importante para o mundo contemporâneo, pois essa ciência está diretamente ligada à economia: “Toda vez que a gente passa por uma crise, os investidores e acionistas das bolsas de valores, são os primeiros a falar “olha gente, mantenha a confiança, calma”. Manter a confiança é manter a fé, a crença. Então assim, a base da economia é a teologia. Não é à toa que nas notas de dólar tem lá “In God We Trust”, ou seja, “Em Deus nós Cremos”. Isso porque a economia é especulativa, porque a matéria da economia também tem o mesmo estado da matéria espiritual. Não é a fisicalidade que importa, mas é o jogo especulatório”, conta.

Mais do que discutir qual religião seguir, Augusto acredita que as universidades perdem muito ao desvalorizarem o estudo da teologia: “Eu não sei lhe dizer nem se é bom, nem se é ruim e nem se deve ser substituído por alguma outra coisa (a ABU). A única coisa que eu sei é: a gente perde por desconsiderar o papel não só da religião, mas da teologia na produção do conhecimento e no entendimento do mundo moderno. A gente acha que teologia é necessário só pra entender a Idade Média, e não é”, afirma.

Já a pesquisadora e também professora universitária, Daniella Portela, acredita que fé e razão (produção acadêmica) devem trabalhar em esferas diferentes. De acordo com ela, os pensadores, antes de terem uma religião, são pensadores racionais e o estudo deve acontecer. “O que não pode é a fé suplantar a razão. Desse modo, ela se tornaria nociva à produção acadêmica e ao pensamento racional da sociedade”, comenta.

Questionada sobre a fé ser um impedimento na produção acadêmica ou no modo de viver, a presidente da ABU-Frutal, Gabryella Fernandes aponta os extremos como problemas: “Eu acho que não é a fé que altera alguma coisa. É a religião, a religiosidade na verdade. E eu acho que são os extremos. A nossa frase é fé que pensa, razão que crê justamente porque nós buscamos explicações. Nós queremos realmente acreditar em alguma coisa e saber o porque daquilo. Não é algo alienado”.

O professor Rodrigo Furtado aponta que a religião tem lugares específicos para se manifestar. Quando ela se faz presente em outros meios, o processo é mais complexo: “Entendendo a liberdade de consciência e de expressão de pensamento e valores em respeito aos mesmos direitos de outras pessoas. Penso que isso deva ser feito nos espaços apropriados e específicos para os ritos. De modo que no espaço público e laico possamos antes debater, compreender, dialogar publicamente sobre os fatos do que trazer o foro íntimo, como é feito. Ou, então, abre-se para toda e qualquer manifestação religiosa e de crença”, analisa.

A discussão da religião no meio acadêmico também não é vista com bons olhos pela teóloga Realina: “Se é importante estudar a Bíblia? Eu acredito que no meio acadêmico não. Religião é coisa da família. Na universidade não iria dar certo, porque ali são pessoas de culturas diferentes. Às vezes, tem pessoas da mesma religião que brigam. Não é fácil discutir a Bíblia com pessoas que acreditam em coisas distintas”, aponta.


Mais do que crer, é preciso enxergar

Fica claro que a religião é um tema amplo e com um leque de opções para debates quase que incalculável. A presença de uma instituição religiosa no meio acadêmico gera polêmica e, mesmo que essa instituição seja aberta às pessoas de diferentes religiões, a existência de uma vertente e de como são trabalhadas essas discussões, são questões complicadas. Os assuntos polêmicos para a religião, por exemplo, evidenciam este fato.

Quando questionada sobre como acontece o debate sobre sexo com camisinha, relacionamento homoafetivo e qualquer outro assunto mais “forte”, a participante da ABU de Juiz de Fora, Paula Rejane, explica que os alunos que participam do grupo têm a Bíblia como uma espécie de manual de conduta e, a partir daí, buscam apoio com os mais experientes: “O que fazemos, geralmente, é ter momentos nos GB's (Grupo de Base). Procuramos aconselhamento de pessoas mais experientes, sejam pastores, assessores, abuenses mais antigos, etc. Eles nos ajudam a pensar sobre esses temas”, explica.

Mas e os não-evangélicos que frequentam as reuniões? Não fica uma situação desconfortável a procura por um pastor? Segundo Gabryella, não: “Nunca houve reclamação quanto a nossa "fonte" consultada. Geralmente, quem nos procura para tratar sobre esses temas sabe qual é nossa base de fé, a evangélica”, conclui.

A presença de uma vertente religiosa, portanto, abre espaço para o diálogo. E se uma sala foi concedida a um grupo na universidade, é justo que o espaço seja aberto para outros grupos também. O diretor do campus da UEMG Frutal, Ronaldo Wilson Santos, garantiu que, se for solicitada uma sala por algum outro grupo de estudantes, a situação será analisada. No caso da ABU, a resposta foi positiva.

A religião tem sua importância na vida e no mundo contemporâneo. Mas essa linha tênue entre razão e fé tem de ser definida para que uma não atrapalhe a outra. Ou, como diz a teóloga Realina: “Não pode ter fé cega. A fé cega não contribui, na minha opinião, pra nada”.

Se você quiser conhecer o perfil do Brasil quando o quesito é a religião, é fácil. Basta acessar o link http://oglobo.globo.com/infograficos/censo-religiao/

Frutal na 1021ª no Ranking do IDHM. Isto é bom ou é ruim?

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Por Rafael Del Giudice


No final do mês de julho a Organização das Nações Unidas – ONU – divulgou o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) das cidades brasileiras. Frutal tem um IDHM alto, 0,730 (o valor é variável de 0 a 1), e a classificação nacional foi a 1021ª colocação dentre os 5565 municípios da Federação. No ranking estadual a cidade aparece na 83ª posição. Mas o que isso significa? Que colaboração esses dados podem ter no planejamento das ações do poder público e dos gestores da cidade?

Antes de pensar nas respostas para essas perguntas é necessário entender o índice. O IDHM é calculado por três variáveis – educação, longevidade e renda – que são medidas, somadas, divididas e aí formam a nota final.

A composição da nota para educação municipal é a mais complicada de se entender. Existem dois indicadores diferentes. O percentual de pessoas com mais de 15 anos que estão alfabetizados recebe peso dois. Depois, leva-se em conta a soma do número de pessoas – independentemente da idade – que frequentam os cursos fundamental, secundário ou superior da cidade e divide-se esse valor pelos habitantes que têm entre sete e 22 anos de idade. Esse percentual recebe peso um. A partir daí, é feita uma média geométrica dos valores até que se chegue à nota final.

O critério utilizado para compor a nota da renda do município é o da renda per capita, ou seja, a soma da renda de toda a população é dividida pelo número total de habitantes.

A última variável, da longevidade, é medida pela esperança de vida ao nascer. Para isso, o cálculo é hipotético e leva em conta o número médio de anos que a pessoa pode viver naquela localidade no ano da pesquisa. As condições de saúde são referências nesse critério.


A educação fala: um olhar mais atento é necessário

Numa observação global, o quesito com a menor nota foi o da educação: 0,615. Tal fato se dá devido à falta ou a pouca escolaridade da população adulta.

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 mostra a fatia da população frutalense que necessita atenção especial: pessoas que têm entre 18 e 25 anos de idade. Pelos dados divulgados no site www.pnud.org.br, menos de 50% da população com 18 anos ou mais tem o ensino fundamental completo. A situação se agrava quando o que é medido nessa faixa etária é o ensino médio completo. Apenas 37,37% da população conclui o ciclo de ensino.

Sobre isso, o historiador e professor dos ensinos fundamental, médio e superior, Marcelo Leolino, 33, atenta para a ausência dos alunos na escola entre o 6º e 9º ano: “Do 1º ao 5º ano a educação é bem atendida em Frutal. Mas eu percebo que a partir do 6º ano o número de alunos, principalmente os homens, começa a diminuir. No ensino médio isso é ainda mais gritante. É um dado sério e precisa ser discutido pela gestão municipal. Ainda que seja uma responsabilidade do Estado essa parte do ensino em Frutal (o fundamental e médio), nós temos que gritar e mostrar que existe um problema”, afirma.

O Secretário Municipal de Educação, José Luiz de Paula e Silva, diz conhecer os problemas, mas ressalta que a partir do 6º ano do ensino fundamental até o ensino médio, a educação em Frutal é responsabilidade do Estado: “O que a gente percebe é a tentativa de um compromisso com as famílias em manter as crianças na escola. Essa fase da adolescência, quando o jovem sofre mudanças tanto físicas quanto psicológicas, necessita de uma atenção especial. A gente pede isso por parte do Estado e eu percebo que, aos poucos, há uma melhora”, conta José Luiz.

Além desses jovens que na maioria das vezes deixam a sala de aula por necessidade de trabalho, ou porque fora da escola as possibilidades são muitas, a prefeitura busca resgatar o público mais velho para dentro da sala de aula.

Frutal ainda tem por volta de 3000 analfabetos no município e isso, claro, é um fator que afeta na qualidade de vida das pessoas: “Eu gostaria de salientar que a prefeitura tem vagas, tem material especial e salas de alfabetização. O que a gente nota, às vezes, é que até por vergonha, as pessoas deixam de nos procurar e isso é preocupante. Então, quem estiver com o jornal em mãos no momento e conhecer alguém nessa situação (analfabetismo), pode nos procurar que nós temos como ajudar”, ressaltou o Secretário.

Ainda sobre educação, o professor Marcelo faz algumas considerações que dizem respeito justamente ao público mais velho que não teve tantos estudos. Segundo ele, isso influencia na criação dos filhos e, por fim, no desenvolvimento do país: “Nós precisamos admitir que nosso ensino é ruim. Não em Frutal, mas em todo o Brasil. Precisamos admitir isso. Esse problema não vai ser resolvido do dia para a noite. Leva toda uma geração. Por exemplo, na minha família eu sou o primeiro com ensino superior e mestrado. Antes, nós olhávamos para nossos pais e as nossas referências ou instruções, eram um tanto confusas. O meu filho vai ser melhor instruído.

Isso significa dizer que, em vida, os filhos das pessoas da minha geração jamais vão ultrapassar os pais em conhecimento e assim eu acredito que vai ser. Na sociedade de hoje não há mais espaço e nem tempo para quem não esteja vinculado à uma instituição de ensino. Ao meu ver, esse processo é o caminho para a melhoria, mas leva tempo”.


Vive-se mais e a renda também aumenta

Nos quesitos longevidade e renda, as notas da cidade foram mais altas. 0,865 em longevidade representa que as pessoas vivem mais em Frutal e isso pede uma estrutura municipal adequada. O idoso necessita de atividades e ações para não ficar à margem da sociedade.

Atualmente a Prefeitura Municipal, junto do Governo Federal e através da Secretaria de Promoção Humana desenvolve o Projeto Feliz Idade que funciona todas as manhãs na Rua Senador Gomes da Silva, número 1235, onde era a casa de festas Mutirão. O objetivo é proporcionar atividades de lazer, educação, artesanato, esportes e encontro com pessoas da mesma idade. É onde os velhinhos já aposentados e sem muitos afazeres podem se encontrar e distrair a mente.

Frutal hoje, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano, tem 4492 pessoas com 65 anos ou mais. De acordo a secretária de Promoção Humana do município, Ana Cláudia Brito Marchi, o projeto Feliz Idade que atende 140 idosos todos os dias é suficiente e colabora na qualidade vida dessa população: “Pelo que percebemos o projeto está adequado para a nossa demanda. É importante lembrar que não são apenas 140 pessoas. 140 é o número de vagas que nós temos, mas eu afirmo: tem gente que não falta nenhum dia. É um momento do dia que eles se distraem”, relata.

Ana Cláudia ainda ressalta que se houver aumento na procura de idosos pelo projeto ou por qualquer outra assistência, a secretaria vai tomar as providências necessárias: “Hoje nós entendemos que o serviço supre as necessidades do público. Antes atendíamos 60 idosos, agora já são 140, então, se for necessário, nós pensaremos na melhor maneira de atender os nossos idosos”, conclui.

A renda do município recebeu a nota 0,730. Atualmente a renda per capita é de R$752,01 e, ainda segundo os dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, houve uma queda no Índice de Gini – responsável por medir o grau de concentração de renda – de 0,56 para 0,47.
Esses dados mostram que mais pessoas passaram a trabalhar em Frutal nos últimos anos. Com isso a porcentagem de pessoas pobres que no ano 2000 era de 13,72, atualmente é 5,28% da população.


É necessário avançar mais e o IDHM pode ajudar

A divulgação de índices como o IDHM serve no auxílio para o planejamento dos gestores da cidade. Isso é o que pensa o professor Marcelo: “Eles (índices) ajudam a demonstrar problemas, mas ficam longe de demonstrar a realidade do município. A própria ONU que criou o IDH sabe disso. É um indicador bom e como todo indicador ele deve auxiliar a tomada de decisão, mas existem outras maneiras de verificar a realidade municipal. Maneiras até mais aprofundadas”, afirma.

No comparativo com os anos anteriores, Frutal, de 1991 pra cá, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, melhorou o seu IDHM em 41,47%, mas o número ainda está abaixo da média nacional (47, 46%) e também do crescimento estadual que é de 52,93%. Ou seja, os indicadores mostram avanços, apontam problemas e servem de ajuda, mas não são totalmente satisfatórios para a cidade.

“Existe certo progresso e uma boa intenção em melhorar o município, o que falta é capacitação pra isso. Eu vejo muitos gestores com boa vontade, mas antes de “meter a mão na massa” é necessário entender a massa, pensar a massa. Isso vem com educação. Então, eu penso que a partir do momento que melhorarmos nesse setor, melhoraremos em todos os outros. Pesquisas mostram que o cidadão bem educado tem mais saúde, se orienta melhor, resolve mais problemas, gerencia melhor sua vida pessoal, consegue ter melhor discernimento das coisas, consome produtos melhores, trabalha e produz melhor. O cidadão bem educado é benéfico não só pra ele, mas pra toda a sociedade”. Os números do IDHM mostram que o avanço existe e não deve ser deixado de lado, mas ainda há muito a ser feito. Ao que parece, tudo tem início na educação. E a melhora desde índice levará a um ganho também nos demais, o que fará Frutal ultrapassar a média nacional e se tornar, de fato, uma cidade com alto índice de desenvolvimento humano.

Mauri Alves: um gaúcho frutalense

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Por Lausamar Humberto, Patrícia Paola Almeida e Rafael Del Giudice Noronha


No escritório bem decorado, dois detalhes chamam a atenção: o rádio antigo atrás da mesa do homem de cabelos poucos e grisalhos e o bar, que, ao invés de ostentar um caro uísque, traz três garrafas de cachaças populares ocupando o espaço junto a pequenos potes de amendoins e outros petiscos.

O homem de cabelos poucos e grisalhos por trás da mesa de vidro é um dos mais importantes empresários da região. Sua empresa possui sete filiais e emprega de forma direta mais de 170 funcionários. Construiu sua carreira praticamente toda fora do mundo político. E agora quer ser prefeito de Frutal.

Mauri José Alves é gaúcho de David Canabarro, cidade próxima a Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, que só tornou-se realmente um município quase um ano depois do nascimento do menino, no ano de 1964.

Jovens deixarem a cidade natal e tentar a vida em outra região é comum. Seja para buscar novas oportunidades de emprego, seja para estudar, a partida acontece, mais hora, menos hora.

E esta hora chegaria para Mauri. Filho do campo, até os 18 anos viveu no pequeno sítio de 20 hectares dos pais. Desde os sete anos já estava na labuta. Trabalho na lavoura todo manual, com boi, arado. Compraram um pequeno trator apenas em 79. Sem energia, à noite a vida era iluminada por lampião a gás. O pai nunca teve dinheiro. Tinham o que comer - do que era nascido da própria terra -, nunca passaram necessidade, mas dinheiro sobrando não tinha. Seus pais continuam morando no sítio.
Nessa época participava do CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Era declamador de poesia. Poesia regional, das quais se lembra, mas não quis declamar para a reportagem.

A educação inicial foi em escola rural. Escola na cidade só no ginásio. Mauri considera que sempre foi um aluno normal. Nunca teve dificuldade com nenhuma matéria. É formado em economia pela Uniube. Já não teria paciência para outra faculdade, mas valoriza todos os cursos que fez. O empresário que é foi se aprimorando com todas essas lições. Gosta de ler biografias. A leitura atual é a do fundador da Apple, Steve Jobs.

A saída do Sul se explica rápido. No sul quem tem terra não vende. É difícil expandir. Mauri queria trabalhar com agricultura. Num primeiro momento pensou em Mato Grosso. Acabou em Minas, com uma breve passagem por São Paulo.


Em terras mineiras

“Quem diabos têm uma penteadeira? Isso é do tempo de minha avó”, estranhou Márcio Santana Brito. Um Fiat 147 vermelho, uma cama e uma penteadeira. Com estes bens Mauri aportou em terras frutalenses. Márcio é protético e acolheu Mauri em uma república que montou depois que seus pais haviam mudado para Goiânia. Não de estudantes, mas de viajantes, trabalhadores. Foi o primeiro a recebê-lo e tornou-se o primeiro amigo.

Márcio lembra-se bem deste tempo. “O gaúcho era branquinho, magrinho e não tinha lugar pra ficar. Aí eu disse: a república é igual a coração de mãe.” Foram tempos de vacas magras. O cardápio quase sempre era arroz, feijão, macarrão e ovo. Como Mauri circulava muito pelas fazendas, Márcio brincava: “vê se ganha umas mandiocas pra gente dar uma variada na comida.” Entrava semanas sem comerem uma carne. Um dia um dos companheiros de república trouxe carne, começou a se achar o dono da cocada e a tirar sarro dos outros. Um vendedor de Pirapora, meio esquentado, não aceitou e chamou pra briga. Mauri apaziguou. Era de seu gênio, diz Márcio. “Sempre foi tranqüilo. Os vizinhos o adoravam.”

Só se viam de tardezinha. Mauri levantava às 5h da manhã e picava a mula no fietinho. Vendia o “Adubo 4/14/8”. E vendia bem. Certa vez, Marcio arrumou um emprego na concorrência. Passou a ser vendedor da Manah. “Virei concorrente morando junto com o Gaúcho. Quando disse a ele, riu. “o sol nasceu pra todos”, comentou.
Mas o protético não se dava bem com o comércio. “Clamei minha situação pra ele. Um dia ele me chamou e disse pra darmos uma volta. Naquela tarde vendi mais de 200 toneladas de adubo. E eu era concorrente.”

Logo Mauri conheceu Wilma, sua futura esposa e resolveu casar. Já tinha definido que aqui seria sua vida. Chamou Márcio para padrinho. Márcio ponderou: “Mauri, você conhece tanta gente, fazendeiros, que podem presentear com uma coisa melhor.” “Estou te chamando porque você é o meu amigo. Foi a pessoa que me acolheu. Não importa se não pode me dar uma galinha, você vai ser meu padrinho.” Quando Márcio casou tempos depois, também chamou Mauri para padrinho. Mas avisou: “olha, você já está muito bem de situação, não vou querer uma galinha de presente não.”, lembra e ri.


A família

Quando foi abrir uma conta para a sua empresa, a Coragro, Mauri conheceu Wilma, bancária. O ano era o de 1985. “Mauri era um rapaz cheio de sonhos. Passava a impressão de coragem, determinação.” Essa foi a primeira impressão da atendente do Banco Real, que em 1989 se casou com Mauri. O casal tem três filhas. Verônica, de 21 anos, Vitória, de 17 e Luiza, de 14.

Mauri é caseiro. Gosta de cozinhar um frango caipira e assistir futebol. Futebol nacional, vê quase nada do estrangeiro. Achou estranhou quando chegou em Minas encontrar poucos torcedores de Atlético e Cruzeiro. Mas a TV só passava jogos de São Paulo e Rio. A filha Luiza acompanha o pai assistindo aos jogos do Internacional, time do qual Mauri é torcedor doente e sócio de carteirinha. No ano passado assistiu um jogo da Libertadores no estádio. Falcão é o ídolo maior do volante amador. Márcio garante que o amigo era muito bom de bola. Questionado se seu estilo era mais Falcão ou Batista, Mauri é direto: “era mais Caçapava”.

As filhas são o xodó do empresário. E não é um pai ciumento, conforme afirma Verônica. “Ela é formada em dança e está com seu negócio. Já é uma pequena empresária”, diz um Mauri orgulhoso da filha mais velha. Tanto ela quanto Luiza dizem que o pai, em casa, é diferente da figura pública que as pessoas conhecem. É muito brincalhão e divertido. Não é de muitas broncas, é objetivo e simples. “Fala pouco, mas é muito”, afirma a caçula Luiza.

Questionadas sobre o desejo do pai de ser prefeito, Luiza diz que ficou assustada no começo, mas o apóia. Verônica lembra que o pai gosta de ver as coisas bem feitas e que tem vontade de ajudar a cidade. “Ele quer uma cidade melhor pras suas filhas”, diz. Luiza é categórica: “ele sempre nos apoiou. Agora que ele precisa, vamos estar do lado dele.”

Nos fins de semana Mauri costuma visitar as fazendas. De família católica, é praticante. Frequenta a igreja Nossa Senhora do Carmo. É noveleiro, sempre que pode assiste alguns capítulos. Na música, Mauri conta que não abandonou suas preferências por música popular gaúcha, mas em Frutal aprendeu a gostar do bom e velho sertanejo.


Coragro

Uma das maiores empresas da região, a Coragro nasceu em um pequeno escritório ao lado do Posto do Paulo, no centro de Frutal. Em 86 passou a ter sede própria, onde hoje é a empresa Rosa Mística. Funcionou ali até 2000, quando foi transferida para a moderna sede atual, na avenida JK. O nome foi inspirado por uma empresa que um tio de Mauri tinha, a Cotagro. Só trocou o T pelo R.

Logo no começo Mauri trouxe o irmão Luiz Carlos para ajudá-lo. O outro irmão, Aírton, chegaria logo depois. São sócios até hoje. Até 90 trabalhavam só com vendas, depois passaram a plantar soja. Quando veio para Frutal Mauri percebeu o potencial de expansão. “A agricultura ia crescer nesta região, fomos crescendo com o crescimento da região”. Mas cresceu devagar. “Quem vai com muita sede ao pote corre o risco de se afogar.”

Empresário experimentado no ramo e também por sua vivência no Sindicato Rural, Mauri avalia que a agricultura vive um bom momento, mas faz um alerta: “a agricultura é muito cíclica. É hora do agricultor se estruturar financeiramente para a hora que chegar a crise ele estar preparado. A produtividade da agricultura deu um salto muito grande.”

Questionado como foi possível alcançar este estágio de desenvolvimento da empresa, Mauri começa a revelar seu jeito de administrar. Diz que trabalho e boa vontade não são o bastante para crescer e permanecer bem posicionado no mercado. A relação pessoal é necessária, afinal dentro da empresa existe todo tipo de gente. Do seu jeito, Mauri conseguiu e consegue estabelecer relações com todos os funcionários, para que sua empresa continue a crescer.

“Conheci o Mauri na Coragro, onde trabalho faz 19 anos. Ele é um bom patrão e amigo. Sempre está nos churrascos com a gente.” Assim, Valdir Guilherme Primo, o Valdirão, que tem 54 anos e é chapa no armazém da empresa, resume a relação com o chefe.

Dino Marques de Oliveira tem 28 anos e trabalha no escritório da Coragro. Chegou à empresa no ano de 2003 através de um convite feito por Mauri. Segundo ele, Mauri é sempre um dos primeiros a chegar ao trabalho e quando é preciso ser mais exigente, ele é. Gosta de conversar com todo mundo e passa sempre um pensamento positivo. “Nós temos um relacionamento aberto e carta branca para fazer o que é necessário para a empresa. Se errarmos, arcamos com as consequências, mas temos total respaldo para trabalhar com tranquilidade” afirma Dino.


Sindicato Rural 

No início dos anos 2000 foi convidado para participar na diretoria do sindicato.  Não tinha pretensão de ser presidente. Presidente por seis anos e meio, Mauri e toda a diretoria que lá está hoje, conseguiu reestruturar o sindicato. Sobre esta experiência, Janes Cesar Mateus, o Janão, atual presidente, analisa: “O único defeito que encontro no Mauri é a timidez. Mas aqui dentro, comandando os 14 diretores durante seis anos e meio ele sempre foi transparente e muito honesto. Até hoje, mesmo afastado, quando precisamos ele está disponível.”

Janão pensa que Mauri fez uma administração correta, pelo fato de ser ao mesmo tempo vendedor e comprador dos produtos agrícolas: “ele está em ambos os campos, tanto na venda, quanto na compra. Isso faz com que os produtores e comerciantes confiem nele.”
Foi no sindicato rural que o embrião da pré-candidatura foi gerado. “Ali dentro, conversando com amigos, eles diziam: você tem que ser candidato a prefeito. Falar demais, pega”, brinca Mauri. Na eleição passada viu que não era o momento.


A pré-candidatura

Mauri é reservado, conversa pouco. Observador, não é daquelas pessoas que distribuem sorrisos por aí. “Não sou tão expansivo, aberto. Não sou muito político”, ri. Mas isso não é um problema para quem se prepara para enfrentar uma campanha?  Mauri diz que não. Os planos que têm para a cidade e os apoios que vem recebendo animam o pré-candidato.

O amigo Márcio vê nesta reserva uma qualidade de Mauri: “Ele nunca gostou de aparecer. Jamais teve alguém pra ficar escrevendo no jornal: Mauri fez isso, Mauri fez aquilo. Mas sempre foi participativo. Ele sempre está em encontros na igreja, festas para entidades.” Márcio aposta que o amigo vai disputar a eleição “pelas pessoas que estão aderindo a esta idéia de ter um administrador já muito testado na prefeitura.”

As conversas sobre a pré-candidatura são, por enquanto, informais e pessoais. Não há ainda movimentações partidárias.

“Ele pode ser um bom administrador para Frutal, da mesma maneira que foi no Sindicato. A cidade poderá continuar crescendo, pois Mauri tem a qualidade de tomar decisões importantes rapidamente. Timidez? Pode atrapalhar no começo, mas com o passar do tempo a população verá que Mauri é uma ótima pessoa.”, analisa Janão.

Dentro da Coragro, a candidatura também é comentada: “Existem comentários. Acredito que ele vai sair sim. É um sonho que ele abraçou.”, avalia Dino, que diz ainda que nada mudou na empresa com o fato de Mauri ser um pré-candidato: “Há, é claro, uma maior segmentação, uma divisão no trabalho, afinal são sete filiais. Mas este é um processo comum nas grandes empresas, não se deve ao fato da pré-candidatura e sim, a continuidade do crescimento”, diz Dino.

Por que ser candidato? Mauri justifica sua decisão: “Tudo que construí foi nesta cidade. Quero retribuir isso com meu trabalho, com minha experiência de ter acompanhado a vida de Frutal nos últimos 30 anos. A questão do simples poder, do salário, isso não me atrai de maneira alguma.”

Em um possível mandato, Mauri não acha correto falar em prioridades. Acha que é preciso balancear as atenções. “Não dá pra falar em organizar as ruas e estradas do município e deixar a saúde e a educação de lado. Se um setor não vai bem, há um desequilíbrio.” Mas se preocupa com a segurança. “Este é um dado preocupante e tem que se acompanhar bem de perto.”

Mauri não acredita em revolução, em se chegar e mudar tudo. “Em qualquer lugar que se chegue é preciso conhecer para mudar. É preciso ver a realidade do negócio.” Até porque acha que a prefeita Ciça tem feito um bom papel. “Ciça foi parceira no Sindicato. A construção do CIAP, trabalho do Nárcio e Zé Maia, teve o apoio da prefeita. Ela fez o dever de casa, é uma pessoa íntegra e sai com o dever cumprido.

Fez uma opção de priorizar saúde e educação. No geral, leva uma nota oito.” Acredita que pode ter o apoio de Ciça?  “Claro, será muito bem recebido. Uma prefeita que termina o mandato com uma popularidade de quase 80% qualquer candidato deseja o apoio dela.”.

Sobre o perfil de uma possível administração Mauri, o empresário sintetiza: “Administrar o dinheiro que entra é mais fácil. É preciso que o prefeito seja mais um administrador. Hoje o que faz a empresa crescer é descentralizar o poder. Acho que no poder público é igual. Você precisa ter as pessoas certas nos lugares certos. Estes escolhidos têm que dar conta e fazer o negócio andar.”

Mauri diz não ter muitos ídolos políticos, mas admira o ex-presidente FHC. Lembra da época em se ganhava dinheiro só com a especulação. A partir do Plano Real o Brasil entrou no rumo. “O Real permitiu o planejamento. Antes uma caneta custava um real e dali a um mês custava dois. É impossível ter desenvolvimento com a economia deste jeito. FHC organizou isso. O Brasil hoje se toca quase sozinho. Basta não atrapalhar muito.”

Gosta do estilo e avalia positivamente o governo Dilma. “A presidente é técnica. Dilma é um estilo, Lula era outro. Ela é discreta, Lula aparecia todo dia. Gosto da mulher no poder. A mulher é igual ao homem ou até melhor - é mais responsável.”
Entra em detalhes apenas em uma área específica, o esporte, não escondendo a paixão: “acho que esporte tem que ter orçamento, secretário. Separar da cultura. Dá pra arrumar os campinhos. Não precisa de muito dinheiro, é só mais incentivo. E precisa apoiar a cultura. Cinema, teatro. Uma peça que venha a Rio Preto, a Ribeirão, traz pra cá. Tem que haver uma participação do poder público.”

Sobre o apoio dos deputados, Mauri afirma: “sempre apoiei e vou apoiar Nárcio e Zé Maia. O patamar político do agora secretário de estado Nárcio é muito importante. É preciso aproveitar isso para o desenvolvimento de Frutal.”

Aplicar as estratégias de administração de uma empresa bem sucedida pode não ser tarefa fácil quando se trata de um município, mas Mauri diz e garante que é de sua história de sucesso que vai tirar o melhor para aplicar em Frutal. É o que pretende combinar com os eleitores.

Na essência, não é negócio

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Por Rafael Del Giudice Noronha

Nos últimos dias, duas quedas no mundo no mundo do futebol. Adriano é dispensado de mais um clube e Ricardo Teixeira cai. Este último, uma queda e tanto. Avallone diria que a frase merece muitas exclamações. Realmente merece.

No ano passado participei de uma palestra no 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo. A mesa era formada por Juca Kfouri, Sérgio Cabral e tinha como principal membro Andrew Jennings. Autor de livros como “Os senhores dos Anéis”, que trata das negociações obscuras existentes nas Olimpíadas e “Jogo Sujo – O mundo secreto da Fifa”, o jornalista da BBC apresentou uma série de documentos com denúncias e mais denúncias sobre Teixeira. Jennings falava para futuros jornalistas e pedia: investiguem Teixeira. Ou seja, a queda era certa, mais hora, menos hora, ela viria. Ela veio. E o que isso muda?

Há quem diga que são seis por meia dúzia. José Maria Marin – aquele que pegou uma medalhazinha na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior – dará continuidade ao trabalho de Teixeira. Sim, esse continuísmo não é o ideal, não é nem perto do que desejamos. Mudam-se os nomes, mas o jogo, as regras, tudo continua igual. Porém, com a saída de Teixeira – que o livra das acusações da Fifa – agora, o cenário é outro. Haverá uma briga de poderes. Dirigentes irão se confrontar. Existirão pontos falhos que eram impossíveis de se imaginar com Teixeira no poder.

Ok, ok, ok. O anunciado, em 1989, “Poderoso Chefão” pela Revista Placar, saiu de cena, alegou problemas de saúde e está em Miami. Problemas de saúde, os dele, tratados em Miami. Mas, quem assiste os canais ESPN e acompanhou a série de reportagens Areia Movediça – a Copa Sob as Dunas, viu que serão afetados muitos outros organismos que não poderão viajar para Miami para tratamento. Este caso de Natal é  apenas um exemplo entre outros que fugiriam do limite de 3000 caracteres que tenho para este texto.

A saída de Teixeira, esquematizada, deve então ser o pontapé inicial para que paremos e pensemos. O que é o futebol? Quando se é criança, futebol é juntar uns amigos, uns com camisa, outros sem, uns de chuteira, outros descalços, e formar dois times para brincar. Na rua, num campinho de terra, em qualquer lugar. Passar um tempo se divertindo. Futebol é isso. É diversão, é paixão.

Em outra definição, a do dicionário, futebol é o “jogo esportivo disputado por dois times, de 11 jogadores cada um, com uma bola de couro, num campo com um gol em cada uma das extremidades, e cujo objetivo é fazer entrar a bola no gol defendido pelo adversário.”.

O futebol, este que amamos tanto, não é pra se tratar como um negócio qualquer. Ainda mais no Brasil, onde o esporte é parte essencial da cultura nacional.

Para o assunto não se estender, defender o futebol era a última coisa que o ex-Poderoso Chefão fazia. Interesses particulares, manobras lucrativas, conquistas que maquiavam a real situação, eram seu foco principal. Assim foram os 23 anos de Teixeira na presidência da CBF. E agora, o que nos resta? Desatar todos os nós criados e deixados por ele, realizar uma copa da maneira mais limpa possível e lutar por mudanças reais. Afinal, as regras são deles, mas a luta é nossa.

Três palminhas e uma notinha

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Por Rafael Del Giudice Noronha


A velha frase “pago tudo que consumo com suor, do meu emprego”, da canção “Maneiras”, poderia, porque não, sofrer algumas alterações. Calma. Não estou querendo ser compositor e muito menos metido a músico. Só temos de notar que, pagamos sim, com suor dos nossos empregos, mas, muitas vezes, com uma taxinha extra. Taxinha extra? Sim. Vai dizer que você que está aí com o 360 em mãos nunca atrasou uma conta, por um motivo ou outro? Pois é.

Atrasar o pagamento não é vergonha nenhuma. E, por favor, caro leitor, não se sinta ofendido com o primeiro parágrafo desta matéria. Não lhe chamo de caloteiro, claro que não!  Estas palavras acima servem apenas para justificar o emprego de inúmeros jovens frutalenses. São os cobradores.

Caracterizados em sua maioria por uma bicicleta e uma bolsinha preta, esses jovens fazem parte do cotidiano de Frutal. Ser cobrador exige atenção, responsabilidade e um tratamento pessoal diferenciado. Em algumas lojas, o cobrador é o primeiro a chegar e o último a sair.

A rotina dos cobradores não é nada fácil. Faça chuva ou faça sol (e que sol nesse Frutal!), eles estão lá, todos os dias pra cima e pra baixo com as suas bicicletas e a pastinha preta. Deve-se ressaltar que não sou frutalense e essa atividade, para mim, é muito atípica, ou, melhor dizendo, é uma característica que encontrei em Frutal.

Se existem os clientes que não gostam de ouvir as palmas na porta de casa e, na sequência, enxergar algum cobrador que está ali no exercício de sua profissão, eu digo: nada é tão ruim que não possa piorar. Pense nos telefonemas das agências bancárias, das operadoras, das grandes empresas que ligam, fazem você conversar com um estranho que fala tudo certinho pra lhe dizer que existe uma dívida.

Na cobrança “à la Frutal” existe, pelo menos, o relacionamento humano. As pessoas se conhecem e a conversa pode ser menos mecânica do que é quando um banco te liga. Pense melhor então, quando o cobrador bater à sua porta. Pode ser muito pior.


As cobranças e o perigo

Andar de bicicleta o dia todo sem correr risco algum é algo impossível. Andar o dia todo e todos os dias então, nem se fale. Acidentes, quedas, micro-atropelamentos e alguns imprevistos acontecem. Um dos muitos cobradores frutalenses falou sobre essa rotina. O nome e o lugar onde trabalha não serão revelados para que não seja criado nenhum tipo de problema.

O jovem não é de Frutal e veio pra cá aos 15 anos, sem conhecer nada. “No começo foi difícil, mas hoje conheço todos os clientes. Quando coloco as notinhas na bolsinha já sei onde tenho que ir.” Em um dia, são feitas cerca de 90 cobranças em toda a cidade. Seja no centro ou no Frutal 4, o cobrador tem de ir.

Numa tarde, enquanto ia de um lugar para o outro com a bicicleta, nosso amigo se deparou com uma porta de carro na sua frente: “Eu estava descendo com a bicicleta. De repente, a porta do carro abriu e caiu tudo. Bicicleta pra um lado, notinha pro outro. Foi uma confusão. Ainda queriam que eu pagasse a porta. O jeito foi fugir.”

Das inúmeras histórias engraçadas, existe uma que se destaca sobre as outras, conta o jovem cobrador, já com menos vergonha do que no início da entrevista: “uma vez eu comprei um óculos caro. Uns R$200,00. Mas parcelado. Comprei e fui visitar um cliente. Bati palma e ninguém atendeu. Entrei e bati na porta. Aí eu vi um cachorro vindo na minha direção correndo e a dona gritando ‘Para Baby, para!’. Dei a volta e disparei, mas não consegui abrir o portão, então pulei o muro. O problema é que eu estava com o óculos e aí ele quebrou. A cliente até perguntou, mas na hora eu disse que tinha sido apenas um arranhozinho, que estava bom. Afinal, tinha que receber a notinha.”

Além das histórias engraçadas, o jovem, que sonha em fazer uma faculdade de administração, tem gosto por aquilo que faz. E deixa bem claro que existem clientes difíceis, a rotina é complicada, mas ser cobrador é bom. Se você não gostar, ao menos um pouco de história terá para contar para os amigos.


Prefira o cara a cara

Por mais desagradável que seja receber um cobrador em casa – e isso acontece, afinal a inadimplência no Brasil tem crescido – vamos levantar a bandeira aqui: prefira receber alguém e não um telefonema.

Telefonema é chato, não toma cafezinho, tem umas musiquinhas insuportáveis. O cobrador pode ser engraçado, falar sobre qualquer coisa e até perder uns minutinhos para um pão de queijo ou uma coca-cola. Por isso, quando ouvir umas três palminhas na porta de casa e ver uma notinha de cobrança, prefira o cara a cara. E se você está inadimplente, tenha quase certeza, pelas estatísticas, que a vizinha fofoqueira também está.