Mau comportamento nas escolas: educação à prova

Posted in Marcadores:



















Por Rafael Del Giudice e Thaiz Beltrão

A atual situação do sistema educacional brasileiro traz à tona a necessidade de uma discussão aprofundada sobre as prioridades de investimentos nacionais. Mesmo com o aumento no repasse para a educação, o Brasil ainda sofre com problemas no setor.

Segundo números da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgados em setembro de 2013, o país elevou de 5,8% para 6,1% os investimentos totais para a educação em relação ao produto interno bruto (PIB). O percentual chega a ultrapassar o de países como Hungria, Itália e Suíça, mas, ainda assim, é pouco.
Além do mau desempenho em testes internacionais, a educação brasileira vem apresentando um grave problema com consequências sabidamente ruins: o alto grau de indisciplina nas salas de aula.

Se a realidade nacional é complicada, a municipal não foge à regra. Frutal apresenta alguns problemas que merecem atenção especial por parte da comunidade e de seus gestores. Há dificuldade no relacionamento entre aluno e professor, na escola com os pais, e esse ciclo gera um sentimento de medo e descaso com a educação.

Recentemente, dois casos em frente à Escola Estadual Maestro Josino de Oliveira ganharam repercussão e chamaram a atenção não só de quem faz parte da realidade da escola, mas de todos os frutalenses. Em uma briga, marcada através das redes sociais, uma aluna foi agredida com um soco inglês. Em outro fato, os alunos rasgaram livros em frente ao prédio escolar.

Este desrespeito entre os alunos e para com a escola levantam algumas hipóteses: uns dizem que há desinteresse dos alunos, outros falam na não valorização do profissional da educação, há também quem diga que a família deve ser mais presente no cotidiano dos estudantes e ex-alunos do colégio lembram que antes havia mais rigidez e normas na escola. Mas afinal, a situação melhorou, piorou ou passou por transformações?


A educação de antes era melhor do que a de hoje?

Cinomar Lopes é diretor da escola e fala sobre o atual cenário: “hoje o aluno tem muito mais direitos em relação à escola. Antes, havia um vestibulinho para selecionar os estudantes do Estadual, hoje não. Era necessário estar de uniforme para poder entrar nas aulas, hoje não. Enfim, havia mais rigidez. Os programas de inclusão têm bons propósitos, mas acredito que houve um resultado inverso do esperado”, diz o diretor.

Ele não defende a volta do vestibulinho como forma de seleção para os alunos, mas admite que antes o interesse era maior: “o vestibulinho era, de certa forma, discriminatório. Mesmo assim, a diferença é notável. Antes havia o interesse em aprender, a obrigação da nota para passar de ano. Hoje o aluno pode progredir as séries e continuar devendo matérias, então ele pensa e age da maneira mais cômoda, porque alguns ainda não têm consciência da importância dos estudos. Nosso trabalho é de conscientização, em todos os sentidos, e esperamos conseguir atrair aquele aluno menos interessado”, comenta.

Para a professora universitária e psicóloga Renata Dias, a diferença entre o perfil dos alunos se dá também pela diferença no modelo das diferentes épocas da sociedade. Segundo ela, antes, o professor era uma das únicas fontes para o conhecimento. Hoje, há uma série de ferramentas tecnológicas à disposição de todos, e a educação deve trabalhar para se tornar interessante e compatível com os dias atuais. “Todos os esforços devem convergir a favor da educação. Com a tecnologia, não é diferente. Ela deve servir como instrumento para alcançar objetivos de ensino e aprendizagem. E pode ser bem utilizada no meio educacional tanto por alunos quanto professores desde que na medida certa”, diz.

Renata fala ainda que o discurso saudosista deve ser mais bem analisado: “antes havia a violência, mas de maneira mais sutil. Havia a violência fruto da exclusão social - somente os filhos das classes mais favorecidas economicamente tinham a oportunidade de estudar - ; a violência do autoritarismo; a violência da arbitrariedade de regras e punições”, analisa.


Investimento e diálogo: os possíveis caminhos

As transformações na sociedade mudaram também a maneira de as pessoas se comunicarem, como pontua a psicóloga Renata. A partir disso, a escola tenta mudar e evoluir, mas, sem investimento, o esforço fica restrito em poucas ações.
Segundo a supervisora do Estadual, Juraciara Matos, há orientação para os professores deixarem as aulas mais dinâmicas. “Esse trabalho é feito, mas é complicado. O giz, lápis e caderno não podem ser deixados de lados. Não é toda atividade que pode ser tratada com dinamismo, e os recursos também são poucos”, avalia.

A supervisora faz menção também aos países com elevadas taxas de qualidade de vida: “se você parar para observar, todos os lugares onde há investimento pesado em educação, há desenvolvimento, há boa qualidade de vida. Um bom professor, valorizado, motivado, pode fazer diferença por toda a vida de um estudante”, diz.

Já para a inspetora de ensino Suzete Machado, mesmo que exista investimento e qualificação, há ainda mais o que ser feito pela educação. “Quando eu penso em educação e nesses problemas que temos enfrentado, acredito que haja uma necessidade de reflexão. Se acontecem desentendimentos, se a relação é difícil, se não há motivação, o que existe é uma falha. É nossa obrigação, enquanto envolvidos com o setor educacional, parar e refletir sobre tudo isso. Não basta dizer que o aluno é desinteressado, que falta investimento ou que a família precisa ser mais presente. Além de investimentos, o diálogo é extremamente necessário”, comenta.

Suzete comenta sobre uma palestra feita em parceria com a Polícia Militar de Frutal, no dia 12 de março. O evento reuniu pais, professores, gestores do ensino e contou também com a presença do atual chefe do batalhão da polícia militar em Frutal, o tenente Leonel Gonçalves dos Santos.

O tenente aproveitou a oportunidade para sugerir a criação de conselhos escolares de segurança, onde atuariam os professores, diretores, pais e alunos. Segundo Leonel, essa seria uma forma de discutir os problemas, buscar soluções e tomar decisões mais acertadas, afinal, seriam mais vozes no debate de segurança pública.

Para Suzete, o caminho para melhorias no ambiente escolar, passa, necessariamente pelo diálogo: “Essas atividades de reunir a comunidade e discutir os problemas são de suma importância. Geralmente são poucos os pais que participam, uns trabalham, outros não vão. Mas dessa vez, até pelos últimos acontecimentos, a presença foi grande. Isso nos ajuda muito a disseminar as informações e a troca de opinião é sempre positiva”, diz.


Briga na porta da escola

Em fevereiro deste ano, uma briga entre meninas assustou a população frutalense. Segundo informações, as garotas haviam planejado tudo através das redes sociais. A confusão terminou com uma menina ferida com um soco inglês (tipo de arma branca).

Depois do incidente, a direção da escola prestou o atendimento necessário. “Nós a socorremos, mas é bom falar que o que acontece do muro para fora, não é de nossa responsabilidade. Demos o apoio necessário por ser aluna da escola e estar com o uniforme, mas situações assim fogem do nosso controle. O que fazemos é pedir o apoio para a Polícia Militar nos horários de entrada e saída, já mandamos diversos requerimentos e, na medida do possível eles nos auxiliam”, diz a supervisora Juraciara.


Alunos rasgaram livros

Outro episódio que chamou a atenção e repercutiu nas redes sociais foi quando os alunos rasgaram livros na porta da escola. Houve uma grande discussão sobre o fato. Uns diziam ser coisa normal, de quem ainda é imaturo e extravasa em alguns momentos, já outros trataram o assunto como uma falta de respeito por parte dos jovens.

Dentro da escola, segundo a supervisora Juraciara, há a orientação para a preservação do material em boas condições, para sua reutilização em anos seguintes. “O que foi destruído, era doação. Só pegou livro na escola o aluno que quis. E lá fora, eles fazem o que querem. A gente orienta e pede o cuidado com o material, mas não conseguimos fazer tudo”, avalia.