Por uma fé lúcida e livre

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Por Lausamar Humberto

Nesta época, em que questões como o fundamentalismo religioso são amplamente debatidas, a relação entre fé pessoal e fé estatal deve ser discutida.
Muito se tem falado dos males do fundamentalismo islâmico que é o que está mais em evidência, em virtude de sua virulência e fanatismo, mas não se deve deixar nas sombras o fundamentalismo judaico e cristão.
Caracterizados por um conservadorismo e tradicionalismo em relação às questões morais e culturais, os fundamentalistas se negam à modernidade política, já que o pluralismo de idéias e o respeito aos direitos humanos estão em flagrante conflito com a sua inerente estrutura autoritária.
O combate a toda forma de fundamentalismo é das mais importantes tarefas da atual geração da humanidade. O respeito religioso, da escolha e da maneira pessoal de viver a sua fé, ou de não viver fé nenhuma, é das maiores conquistas que um povo livre pode aspirar.
O Brasil é o maior país católico do mundo. Ou, melhor dizendo, é o país de maior população católica no mundo. Durante séculos, o poder brasileiro esteve intimamente ligado aos altos escalões da igreja. Somente no século XX se deu de maneira clara a separação entre Estado e Igreja. Mas as marcas desta longa convivência são fortes até hoje.
Estas marcas são muitas vezes desconfortáveis para quem não professa a fé católica. De maneira implícita ou explícita, normas que deveriam atingir diretamente apenas os católicos, atingem toda a população.
Quando assuntos como aborto,  união homossexual, planejamento familiar são discutidos, sempre há os radicais religiosos querendo impor sua visão. É claro que convicções religiosas estarão presentes nestes debates, e é normal e legítimo que seja assim, mas a tentativa de imposição de uma visão religiosa como verdade absoluta não deve prosperar.
Este é apenas um dos riscos quando se mistura fé e política. A tendência moderna é que cada vez mais estes dois fatores se distanciem, relacionando-se, mas sem se misturar. É neste aspecto que acredito que podemos evoluir. A convivência entre todos os credos brasileiros é muito boa.
A própria constituição federal impõe o respeito a todos os credos e à livre crença religiosa. Não há outro caminho. Por respeito à religião, um país não pode ser religioso.