Uma crônica de geração

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Por Alexandre de Paula

De longe, o que vemos é a imensidão. De perto, a nossa pequenez. Mais um gole de cerveja, três ou quatro palavras jogadas fora e um pouco mais de tristeza para adornar a noite e o céu de Brasília. Melancólicos, somos poetas pálidos e sozinhos de uma geração que nasceu velha e sem ter o que dizer. Às vezes, trocamos a lucidez por sonhos de grandeza e desabamos trôpegos às margens do Congresso Nacional.
A vida grave, sempre grave, assim considerada sem ênfase. Viver é muito perigoso, diziam nossos antepassados, mas não há risco para quem escolhe o caminho reto para a queda. Equilibrados na cruz da Catedral, gritamos nossa descrença e forjamos um salto rumo ao nada. Nada. Somos todos sombras de nada, à beira de. Não temos vozes, formas, versos ou canções. Artistas sem arte, poetas sem poemas, cantores sem voz.
Na primeira vez em que saltamos, o pulso acelerado nos sugeriu três ou quatro palavras de ordem. Na primeira vez em que saltamos, já sabíamos onde iríamos cair. No centro de nada, no ilusório quase risco. Não há, de fato, ousadia. Calculamos sempre o tombo, a queda e a palavra. Almejamos o chão e louvamos a ausência da glória. Mentimos. Sonhamos longos poemas, filmes brilhantes e não lineares, autoalimentamos nosso complexo de épico.
Três ou quatro elogios para três ou quatro palavras-poemas que se imiscuem no sem sentido de tudo e desta frase. Grande? Nenhum de nós será grande e há tantos que se sonham grandes que não pode haver tantos (sim, há portugueses Campos que já tenham dito isso antes). Não há grandeza na ausência de talento e no excesso de ego. Compomos ladainhas e brindamos à superioridade da nossa reflexão. Elite intelectual em um deserto de pensamento. Às vezes, deliramos, como em frases anteriores.
Choramos, por uma questão de estilo e de pose. Afinal, recusamos as aparências, desde que não estejam relacionadas à aparente despreocupação que temos com as aparências. Aceitamos críticas, desde que digam que somos brilhantes e que o mundo ainda nos conhecerá. Temos nossos óculos de aros grossos, nossa barba (se formos homens), nossa revolta de boutique, nossas camisetas com frases despretensiosamente significativas.
Em um dia ou outro, acabaremos escrevendo um texto, como este, aparentemente irônico e que também apenas aparentemente aponta o dedo para o centro do nosso nada. Assim, pareceremos humildes, nobres, modestos. Enquanto o pôr do sol nos espera para mais um clichê, sorvemos nossa angústia e, doentes, esperamos que, no fim das contas, o vão da noite nos revele que exista alguma espécie de razão.