Entrevista: Daniela Pinheiro

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Por Edwaldo Costa e Patrícia Paola Almeida

O bom jornalismo merece destaque em todo tipo de mídia existente. O Jornal 360 busca, em cada matéria, proporcionar bons momentos para o leitor. É assim que acontece em alguns outros veículos.
A revista Piauí é um exemplo de bom texto, boa leitura e, claro, bom jornalismo. Um dos destaques da publicação é a jornalista Daniela Pinheiro.

Formada pela Universidade de Brasília, Daniela trabalhou por dez anos na revista Veja, passou pelo jornal Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Época, e hoje é repórter especial na revista. Conhecida por produzir longos e polêmicos perfis, já entrevistou o pastor Silas Malafaia, o ex-governador José Serra, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira. Neste mês, Daniela ganhou pela quarta vez o Troféu Mulher Imprensa. E afirma não se imaginar em outra profissão sem ser o jornalismo.

A reportagem do 360 falou com a repórter, que conta sobre seus trabalhos e o jornalismo.

Em seus perfis para a revista Piauí você consegue tirar das personagens revelações impactante. Qual a estratégia para conseguir essas informações? Como lidar com o entrevistado?
Nós temos uma característica na Piauí que eu acho interessante: convivência. Nossas matérias demoram muito tempo para serem feitas. Em geral, fazemos matérias quando o entrevistado nos dá acesso. E depois de um tempo, vem surgindo o indivíduo debaixo do personagem e aí é quando a pessoa fala coisas mais interessantes. A convivência faz a gente perceber, sacar mais a pessoa. Esse tempo com o entrevistado é muito importante.

Qual a entrevista mais difícil que você já fez? Com maior tensão?
Todas são muito complicadas na verdade, mas sempre tem umas um pouco mais. Por exemplo, com o ex-governador José Serra. Foi uma matéria que eu demorei um ano e meio para fazer. Ele desistiu no meio da minha apuração duas vezes, depois disso nós retomamos, depois eu parei porque engravidei, enfim, era bem complicada. E ele é uma pessoa difícil também. Mas a complicação está no pacote das entrevistas.

Quando você terminou de escrever a matéria sobre o Ricardo Teixeira, já percebeu que era polêmica?
Eu não entendo nada de futebol, mas eu sempre fui vidrada na figura dele, o poder que ele tinha no futebol brasileiro, daquele cara que há anos mandava em todo mundo, ele era um rei do futebol. Então, eu não sabia exatamente a repercussão que aquilo teria, porque eu não sou do mundo do futebol. Em algumas declarações dele, eu imaginava polêmica, mas não o quanto seria. Agora, ele foi uma entrevista super fácil de fazer.

Há uma forte presença dos blogueiros no jornalismo hoje. Você gosta do jornalismo feito nos blogs?
Eu gosto do jornalismo feito nos blogs, mas eu acho que nós devemos fazer algumas distinções desse jornalismo. Mas, é super necessário, a linguagem agora é essa, é um jornalismo com mais opinião, um jornalismo personificado. Você dando sua opinião e as pessoas lêem porque querem saber o que você acha daquilo, não mais o que o seu jornal ou revista acham. É uma marca pessoal.

Houve um enorme aumento no número de colunistas na imprensa brasileira. Há um exagero nesta dimensão do jornalismo opinativo ou este mundo complexo exige mesmo estas múltiplas visões?
Eu acho um problema ter tantos colunistas. É colunista demais. Há quem diga que os jornais fazem isso para economizar dinheiro, eles não precisam contratar pessoas, não precisam pagar contrato CLT, então você contrata uma pessoa que faz uma coisa ali uma vez por semana, você não tem um vinculo trabalhista com ela. Talvez para os veículos seja melhor, nesse ponto de vista financeiro. Mas é opinião demais, é difícil até para o leitor, ele fica perdido. E o jornal, talvez ele não tenha que ser o abrigo desse colunistas, isso pode ser na internet, os colunistas poderiam estar um pouco mais identificados com a cara do jornal, não ser a voz do jornal, mas a cara do jornal.

Por que ser jornalista?
Por quê? Eu não sei. Eu sempre quis ser jornalista. Mas por que continuar a ser, é porque é muito gratificante essa profissão. Ela reúne coisas que para a minha personalidade é fundamental, eu odeio rotina, odeio ficar no mesmo lugar fazendo a mesma coisa. Eu adoro gente, eu me interesso pelas pessoas e eu sou muito fofoqueira, adoro fofoca. Jornalismo reúne essas coisas, um dia estou em um lugar, no outro dia em outro, no mês que vem eu posso fazer uma matéria que não tem nada a ver com a última que eu fiz, conheço muita gente, viajo para muitos lugares, eu consigo ler muita coisa diferente. Para a minha personalidade não existe outra profissão, não consigo ver nada que se adeque a mim. É até um problema isso, né? Não consigo pensar em fazer outra coisa.