Por Ana Carolina Araújo
Nós, jornalistas, gostamos de nos imaginar como os donos da verdade. Mas erramos. Muito. E o pior aspecto desta constatação: temos uma imensa resistência em pedir desculpas. Dia desses, estive olhando meus arquivos de casos da imprensa e encontrei uma discussão interessante sobre o caso do ex-deputado federal e presidente do PMDB do Rio Grande do Sul Ibsen Pinheiro. Ele teve o mandato cassado em 1994 pela CPI que investigou o escândalo dos anões do Orçamento. Pinheiro sempre negou as acusações e afirma ter sido alvo de um linchamento público encabeçado pela Revista Veja.
"A imprensa pode trabalhar o imaginário das pessoas e produzir danos devastadores sem mentir". Com essa frase, em entrevista à Revista gaúcha Press, o também jornalista e advogado Ibsen Pinheiro resume a indignação que sentiu ao ter seu mandato cassado "sem que se tenha feito uma acusação".
Ibsen discute os caminhos que os meio de comunicação de massa encontram para divulgar, cada um, não apenas os fatos, mas a sua própria versão dos fatos. No episódio da sua cassação, especificamente, ele lembra que chegou a parar de se explicar para reduzir pela metade as matérias negativas sobre ele. "As minhas declarações eram matérias contra mim", explica. Ele conta que quase sempre quando queria retificar informações que a imprensa divulgava sobre ele, o resultado eram manchetes como "Ibsen explica, mas não convence" ou "Ibsen se complica na explicação".
Não foi o primeiro e muito menos o último caso de "exagero" que a imprensa cometeu. Vale lembrar o estardalhaço que foi feito pela mídia no caso da Escola Base de São Paulo. Toda a cobertura feita pela imprensa foi baseada em suposições que não foram confirmadas. E neste caso, como em tantos outros, nenhuma mea culpa deu manchete.
Que o jornalismo erra porque é feito por seres humanos, que eventualmente podem errar, tudo bem. Mas não admitir o erro, não deixar a população ciente da informação equivocada que o meio de comunicação divulgou é uma falta grave na relação de confiança mantida entre a imprensa e o público. Mesmo quando não há a mentira, é imprescindível explicitar quando um texto traz a opinião do meio de comunicação ou do jornalista. A imprensa acabou se transformando num tribunal inquisitório, muitas vezes. Ibsen completa: “ela julga, condena e aplica a pena”.
Ibsen Pinheiro não é nenhum santo. A entrevista, aliás, pende à absolvição do político. Mas concordo com o jornalista quando diz que a responsabilidade de cada um é a melhor censura. Mas esse é um mecanismo cultural a ser alcançado, com grande tarefa delegada às universidades. Uma nova Lei de Imprensa poderia resolver em parte esse problema, mas não temos ouvido avanços sobre o tema. Ibsen, mais uma vez, defende essa causa: “Se os jornais não precisam de lei, o trânsito precisa? Será que as regras de trânsito são mais importantes do que as regras do exercício da liberdade de imprensa? Se a imprensa deve ser uma atividade auto-regulada, por que não a medicina?”
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