Por Rafael Del Giudice Noronha
“Sou filho único, tenho minha casa pra morar...” Quem gosta de Demônios da Garoa ou de qualquer outro artista que tenha regravado esta canção, ao ouvi-la certamente se lembra do seu lar, da terra natal, da família.
O segundo corte do cordão umbilical se dá quando o filho, por causa de estudo, de trabalho ou por outro motivo qualquer, sai de casa. É um evento natural e corriqueiro. Mas como dói. Especialmente para as mães.
Por natureza, toda mãe é carinhosa, amorosa e tem um imenso sentimento de proteção aos filhos. Por isso, quando as crianças crescem e começam a bater suas asas, se não há uma preparação para a nova fase da vida que está por vir, a mãe tende a passar por um período de crise que é chamado de Síndrome do Ninho Vazio. A síndrome, nos casos mais graves, pode levar a mulher ao alcoolismo e à depressão.
Nas décadas passadas, era mais comum que as mulheres adoecessem na hora da partida dos filhos. Hoje a mulher se tornou independente e tem filhos quando já é mais velha. Essa mudança no papel social feminino contribui para que as conquistas dos filhos e as responsabilidades dela própria, de certo modo deixem pouco espaço para a saudade, que existe e é imensa, não afete tão drasticamente o ambiente familiar como antes.
Filhos para o mundo
Nice Helena Franco Botelho é mãe de três filhos que moram fora. Maria José Domingos Machado Luz é mãe de um casal. As duas concordam que o processo de sair de casa é natural na sociedade moderna, mas não escondem a saudade e a falta que fazem os filhos.
Maria José conta que Letiele, de 21 anos, e Altivo Neto, de 19, sempre foram muito unidos, assim como a família toda e por isso a saudade sempre aperta. Letiele estuda medicina em Araguari, enquanto Altivo Neto está matriculado na Universidade Federal do Mato Grosso e mora em Uberlândia, onde ainda faz cursinho por sonhar com alguma faculdade mais próxima de casa. “Altivo Neto chegou a estar matriculado no Ceará, mas conseguiu vir um pouco mais pra próximo de nós. Acredito que todo filho deva sair de casa para amadurecer, mas a família sofre um pouquinho com esse processo.” diz Maria José.
Na outra família, a de Nice, o processo de afastamento ocorreu praticamente todo de uma vez só. Os filhos, Lívia, de 30 anos, Ricardo, de 29 e Marcos, que completa 28 neste mês, saíram de casa quase que ao mesmo tempo e essa foi a maior dificuldade apontada pela mãe. Lívia mora na Espanha e trabalha com comércio exterior, Ricardo é advogado em São Paulo e Marcos é contabilista auditor em Ribeirão Preto.
Nice, profissional da saúde, afirma que a Síndrome do Ninho Vazio deve ser encarada como mais um processo da maternidade, que traz perdas e ganhos, assim como a primeira vez que o filho vai à escola, faz suas primeiras escolhas e começa a amadurecer para no futuro, formar um novo ninho.
A importância de uma família bem estruturada também foi citada por ambas. Gilson, marido de Maria José, brinca e reforça a idéia dessa união mesmo com a distância: “Eu falo: nós temos quatro escovas de dente. Uma em casa, uma na fazenda, uma em Araguari e outra em Uberlândia. E sempre que podemos, estamos juntos e passamos boas horas com nosso filhos.”
Nice, que não tem – ou se tem, não revelou – escovas de dente espalhadas pelas casas dos filhos, comentou sobre a vida familiar e a visita dos filhos: “Eu e meu marido nos tornamos mais próximos após a saída dos filhos. Nosso relacionamento sempre foi saudável e agora, quando algum deles vem nos visitar, tem de vir para ficar em casa e matar a saudade.”
A saída de casa dos filhos, portanto, deve ser encarada com naturalidade, pois é um processo necessário para a formação de qualquer pessoa. Mesmo que haja saudade, e ela existirá, há a gratificação em saber que a pessoa que um dia foi segura no colo pela mãe, hoje cresceu, criou autonomia e tornou-se sinônimo de orgulho para a família. É o ciclo da vida.
Devemos considerar também que, se há saudade sentida pelas mães, também há pelos filhos. É o caso deste repórter que, estudante da UEMG, está a 430 km de sua mãe. Peço, portanto, licença ao leitor, que saberá perdoar este jeito inusitado de encerrar uma matéria, e deixo aqui minha homenagem para a pessoa mais importante da minha vida. A você, minha mãe, toda a felicidade do mundo, todo carinho e força para superar os pequenos obstáculos que enfrentamos todos os dias. A você, Dona Maria Tereza, desejo paz e serenidade para, assim como eu, seguir tocando em frente. Sua benção.
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