Por Eduardo Uliana
Diz o ditado que “tudo que sobe tem que descer”. Talvez a concepção do aparelho que conhecemos hoje como elevador tenha partido desse princípio. Ou não.
A verdade é que a invenção que surgiu no Egito, durante a construção da primeira pirâmide de pedra conhecida, é a alegria de pessoas que não gostam de encarar escadas e a tristeza de quem tem pânico de entrar em lugares apertados.
Muito comum em cidades de médio e grande porte – com arquitetura mais vertical - os elevadores começaram a ser fabricados no Brasil em 1918. Nessa época, era o cabineiro, girando uma manivela, que fazia com que o elevador subisse ou descesse. As portas eram abertas e fechadas manualmente. Com a construção de edifícios mais altos, o transporte movido à manivela foi substituído por sistemas elétricos mais complexos que dispensavam o serviço dos cabineiros.
Hoje em dia, os elevadores contam com modernos sistemas, que permitem grande conforto e segurança aos usuários.
Um dos elevadores mais antigos e famosos do país fica em Salvador. O Elevador Lacerda foi construído em 1873 para transportar moradores de bairros situados em níveis diferentes da cidade.
Subindo com o inimigo
Em Frutal, as possibilidades de ficar preso em um elevador são poucas. A cidade conta apenas com três prédios que possuem sistema de elevadores: os edifícios Executivo, Frutal e Três Poderes. Não há registros de acidentes graves, envolvendo vítimas, mas sempre ouvimos falar de pessoas que ficaram presas no elevador. Lausamar Humberto, editor chefe do 360, entrou recentemente para a lista dos “sorteados” que passaram por momentos de desespero dentro de um elevador com problemas. A coordenadora do Pólo de Educação à Distância da Universidade Federal de Minas Gerais em Frutal, Maria José Lacerda da Mata, também fala sobre suas precauções antes de entrar em um elevador. Confira:
“Domingo de manhã. Edifício 3 poderes às moscas. Para adiantar alguns trabalhos da semana resolvi buscar meu notebook que estava na 360. Ao descer pelo elevador, ele para no 1º andar. Não sabia, mas começava meu drama. A porta não abre. Aguardo alguns segundos e nada. De repente, o elevador despenca. Cai até a portaria, ou melhor, ultrapassa o piso da portaria em uns 70 centímetros. Não deu tempo nem de ter medo. Só senti o baque e cai de quatro, de gatão, que não é uma posição respeitável nem quando se está sozinho dentro de um elevador em queda. Já em pânico, pois meu estoque de coragem é pequenininho, começo apertar alucinadamente o botão pra porta abrir. Só abre a interna, a externa permanece fechada. Aperto a campainha. Ouço alguém dizer: _ Tem gente aí. Ufa, aleluia, vão me tirar daqui. Qual o quê, o martírio só começava. Do nada o danado do elevador começa a subir de novo. Aí, o desespero foi completo. O bicho não parava de subir e eu pensava: _ Agora não tem jeito, se ele cair daqui eu me arrebento, danou-se. Nesta hora a gente comprova o acerto de Einstein na teoria da relatividade. Segundos viram uma imensidão de tempo. A ferrugem da minha prática religiosa desfez-se por encanto. Rezei uns cem Pai-Nossos, umas cinqüenta Ave-Marias, uns vinte Credos e até a oração Salve-Rainha, que nunca consegui decorar, rezei umas dez vezes. E o elevador não parava de subir. Chega ao 8º andar. Pensei:_ É agora. Subir mais não dá. Ele vai cair. Não caiu. A porta se abre e eu, mais amarelo que maracujá maduro, me arranco pra fora. Uma faxineira limpa o corredor e só consigo dizer que o elevador está com problemas, e desço pelas escadas. Os músculos do meu corpo se tornam autônomos e mexem sozinhos. Chego na rua e ao alívio de um espaço aberto com as pernas tremendo mais do que caboclo com maleita. Percebo depois desta experiência que já sofri acidentes com carrinho de rolemã, bicicleta, moto, carro, ônibus, e agora, elevador. O problema não é com eles, é comigo. E ainda querem que eu viaje de avião. Acho que não. Melhor não”, relata Lausamar Humberto.
“Eu nasci prematura, de seis meses, e como os hospitais não disponibilizavam estufas, me colocavam em uma caixa de sapato para me manter aquecida. Os psicólogos explicam que pode ter vindo daí a causa de meu medo por locais fechados e escuros. Em uma visita que fiz ao MEC (Ministério da Educação) em Brasília, fiquei presa no elevador e precisava desesperadamente enxergar, ver ao menos um resquício de luz. Tive sudorese, fiquei zonza e quase desmaiei. Então, toda vez que entro em um elevador é imprescindível ter uma lanterna em minha bolsa. Caso aconteça novamente, já estarei prevenida. A lanterna é uma segurança, ou melhor, uma pseudosegurança, que me dá coragem.Não consigo permanecer em locais fechados sem que eu veja o ambiente externo. Em salas muito fechadas não permaneço por muito tempo, preciso de vento, daquela sensação de liberdade. Hoje meu medo está mais ameno. Não houve um tratamento específico. Foi uma busca pessoal, um amadurecimento. Procuro escrever, conversar com psicólogos para buscar me libertar desses fantasmas”, conta Maria José Lacerda da Mata.
Postar um comentário