Editorial: O preço da Copa

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Quando se decidiu pela realização da Copa de 2014 no Brasil, junto com a euforia nacionalista capitaneada pelo presidente Lula, ouviram-se várias vozes contestando a viabilidade e a necessidade de o Brasil realizar um evento de tamanha magnitude.

Alguns argumentos eram antigos, mas a sua antiguidade não lhes tirava a sensatez. Em um país de carências tão brutais em áreas como saúde, educação, moradia e saneamento, para se citar apenas as mais urgentes, investir bilhões de reais em uma copa do mundo parecia uma irracionalidade e uma insensibilidade social.
   
O contra-ataque a estes questionamentos tinham como principal argumento o legado para o país, já que as obras de infraestrutura – metrô, estradas, aeroportos – e a publicidade que se faria, com o conseqüente aumento do turismo, justificariam todos os gastos, e melhor, acabariam por gerar mais receita do que despesas.
   
Faltando pouco mais de três anos para a abertura da copa, as piores previsões estão próximas de se concretizar e um caso específico vem chamando a atenção: a novela da construção dos estádios.
  
A escolha de 12 sedes, para agradar parceiros políticos da senhora CBF, já foi um erro. A copa se viraria muito bem com 10 ou 8 sedes. Além do número exagerado, cometeu-se a irresponsabilidade de escolher sedes que não possuem clubes tradicionais e que precisam construir estádios.
   
Cidades como Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília se encaixam neste perfil. A construção de estádios nestas quatros cidades consumirá quase 3 bilhões de reais. Vamos colocar em números para que este despropósito fique ainda mais evidente: R$ 3.000.000.000,00.
   
É muito dinheiro para se construir elefantes brancos. O futebol destas praças não sustenta um estádio deste porte. A conversa inicial de que não haveria dinheiro público nesta farra não se ouve mais. Existe e existirá cada vez mais dinheiro público nestas obras. O atraso é proposital e bem calculado. Quando parecer que não dará tempo para terminá-las, o cofre se abrirá e jorrará dinheiro farto.
   
O exemplo recente da África do Sul deveria nos alertar. Os sul-africanos não sabem o que fazer com os estádios construídos que estão subutilizados pela falta de tradição do futebol em algumas cidades onde foram construídos. Chegaram a cogitar da demolição de uma arena que custou 1 bilhão de reais. Este drama viveremos aqui nas cidades citadas. O Pan no Rio de Janeiro ainda está na memória recente. Custou 10 vezes o valor orçado e o legado é inexistente.
  
Em entrevista à Folha de São Paulo, a nova ministra da Casa Civil, Ideli Salvatti, disse que sua tarefa imediata “é flexibilizar as regras para as obras da copa”. É o governo já adiantando que caiu no jogo dos organizadores.
   
Entre os organizadores, o senhor absoluto, dono do evento é Ricardo Teixeira, o todo poderoso presidente da CBF. Um cartola que está sendo acusado de ter recebido propina para votar nas sedes das copas de 2018 e 2022, conforme reportagem da conceituada BBC. Este poço de credibilidade comanda os destinos da copa brasileira.
  
Não é possível que a população veja tamanho descalabro sendo realizado e permaneça passiva. É preciso cobrar atitude do Estado brasileiro, que não pode ficar de agrados com gente que tem postura de gângster. Ou torna-se cúmplice.