Eu vou de calhambeque... Bi! Bi!

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Por Rafael Del Giudice Noronha

Mário Quintana, grande poeta brasileiro, uma vez disse: “A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar não teria inventado a roda.” Não entraremos na questão sobre ser ou não preguiçoso. O fato é que a roda transformou a humanidade.

Desde que o século XVII a necessidade que o homem tinha de se locomover mais rápido, com mais comodidade e segurança, forçou os estudiosos e curiosos a testarem inúmeras experiências até que se chegasse ao que chamamos hoje de automóvel. Aquilo que era pra ser apenas mais uma ferramenta de trabalho tornou-se um verdadeiro amigo do homem.

Hoje existem carros elétricos, automáticos, com climatizadores, air-bags e toda essa parafernália. Essa comodidade é positiva, mas não é romântica. O romantismo está realmente nos carros antigos, reformados, que trazem consigo sentimentos que air-bag nenhum é capaz de superar.

Os amantes do rei Roberto Carlos, e mesmo aquelas pessoas que não gostam muito do mais ilustre filho de Cachoeiro do Itapemirim, certamente conhecem a música “O Calhambeque”. Nela, o rei conta a história de que mandou seu Cadillac – carro da moda na época – para o conserto e recebeu um carro velho para não ficar a pé. Curiosamente, ele apaixonou-se pelo calhambeque e quis conservá-lo.

Essa trilha, muito mais do que um marco da jovem guarda, é uma realidade. Os automóveis restaurados são uma mania que vem se popularizando cada vez mais. Seja por paixão, por família, por lembranças, cada história tem o seu Q especial. A verdade é que nós, homens modernos do século XXI, adoramos conservar lembranças materiais que nos transmitam histórias do passado.


Restaurados em Frutal

Paulo Aurélio, proprietário de um Ford 1929, confirma que os carros são, além de uma ferramenta de trabalho, um amigo do homem: “Automóvel é uma paixão que corre na veia de todo mundo. E é algo bom, é um instrumento de trabalho que, desde que seja bem usado, você tem a condição de ter uma vida melhor.”

O apaixonado por carros discorre sobre os cuidados necessários que tem com seu veículo e comenta a repercussão que há quando as pessoas o vêem: “É necessário tempo pra se dedicar a esse hobby, que é caro, as vezes tenho que ir para longe buscar alguma peça para manter o carro sempre bonito e arrumado, porque é algo diferente. Todo mundo que vê quer registrar o momento.”

O Policial Rodoviário Federal, Mário José Pereira, proprietário de um VW Passat L, do ano de 1973, diz que gosta dos carros mais antigos pelo design: “Desde pequeno sempre gostei de coisas antigas, acredito que pelo romantismo, ou pelo design, esses materiais nos fazem recordar.”, analisa.


Duas Rodas

As motocicletas também são sinônimo de orgulho, tanto de Mário, quanto de Paulo. O primeiro tem uma Lambretta Série Brasil, do ano de 1963. Ela estava abandonada e foi encontrada pelo policial há alguns anos, e como o dono não procurou, Mário acabou conseguindo o documento do veículo e o comprou. Investiu, e hoje a aparência da Lambretta está perfeita, como a original.

Paulo é proprietário de uma CB 400 da Honda e assim como o Ford, a mantém sempre nas melhores condições possíveis. Duas relíquias de valor incalculável.


Quer vender?

Se atualmente nos deparamos com carros que valem cerca de milhões de reais, dólares ou euros, a afirmação de que esses milhões não comprariam um carro antigo de quem o tem não soaria como absurda.
Normalmente, quem compra e investe em automóveis restaurados não os vende de maneira alguma.

Primeiro, porque os gastos são inúmeros e segundo, porque a paixão sempre fala mais alto. Paulo Aurélio conta que herdou do pai o gosto por automóveis antigos. “O meu Fordinho também serve de lembrança. É uma lembrança que passa de pai para filho e esse é mais um motivo de não encontrar razão ou dinheiro algum para vendê-lo.”

Igual a Paulo, Mário se nega a vender seu Passat. “Há um valor sentimental. Por isso, mesmo que consiga um valor alto em moedas no mercado, não venderia.”