Por Rafael Del Giudice Noronha
Correr. Correr talvez seja uma das mais antigas atividades do homem. Desde os primórdios, antes da invenção de rodas, charretes, bicicletas, veículos automotores, desde sempre o homem corre. E correr faz bem.
Nos Jogos Olímpicos, competição que reúne a realeza dos atletas de diferentes nacionalidades e modalidades, correr é nobre. Há quem corra para abrir o evento – caminho feito com a tocha até chegar à pira – e há quem corra para fechar o evento. Fechar com chave de ouro, vencendo a maratona. É por esses fatores que a corrida é fascinante.
Em Frutal, existe uma equipe que leva o nome da cidade pela região e pelo país. Como? Correndo. E esse time reúne atualmente sete atletas. Alguns mais experientes. Outros ainda jovens, buscando aprender e aprimorar suas técnicas para um dia, quem sabe, chegarem a frente de quenianos e outros atletas já consagrados em competições onde o nível é altíssimo.
A experiência que corre
Matusalém de Lima é um personagem que faz parte dessa história há 23 anos. O corredor começou no esporte aos 21 anos, quando, após ter morado em Itumbiara, regressou a Frutal e encontrou uma equipe de atletas em formação. Foi uma das pontas de uma rivalidade citada por quem conhece os atletas frutalenses. Disputando com ao lado de Marco Tulio, as provas ganhavam ares de verdadeiras decisões regionais. Mas Frutal e a região iam se tornando pequenas diante da ambição e da paixão dos corredores que sonhavam mais além.
A partir daí, a equipe de Frutal voou para competições em cidades como Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Nessas cidades, Matusalém obteve resultados expressivos para sua carreira. Foi sétimo colocado na Maratona Internacional do Rio, quarto colocado em Curitiba, no ano de 1999 e 11º (2000) e 14º (2009) nas provas de 42 quilômetros realizadas em São Paulo. Na conhecida corrida de São Silvestre, realizada todos os anos no mês de dezembro, a melhor colocação do atleta foi um 36º lugar no ano de 1998.
Outro corredor já mais experiente é Reinaldo Moura, de 43 anos. Quando está em alguma prova, ou mesmo no treino, Reinaldo sente-se com a saúde renovada. Ele visita o médico a cada seis meses para fazer uma avaliação e nunca encontrou problema algum. “A maioria do pessoal que corre, não tem problemas.”, comenta.
Os anos especiais para Reinaldo foram entre 1985 e 1995. Mas ele fala que a corrida que mais marcou, aconteceu em 1990, na cidade de Fronteira: “Me emocionei com a vitória sobre José Antonio Diniz, que havia vencido 200 militares em Uberaba e participou daquela corrida. Ele era visto como favorito, mas consegui superá-lo.”, relembra.
A nova geração
Se engana quem pensa que Frutal tem apenas atletas mais experientes e que os jovens não se interessam pelo atletismo. Matusalém coordena um projeto, em parceria com a Unimed e com a Prefeitura, para revelar corredores e tirar as crianças das ruas. “Procurei o Dr. Alberto Bichara (presidente da Unimed Frutal) e falei sobre o projeto há uns 8 ou 10 anos, quando começamos. Ele acatou a idéia. A Unimed nos fornece tênis, uniformes e lanches nas viagens, enquanto a prefeitura auxilia com o transporte.”, conta Matusalém.
Atendendo a jovens de ambos os sexos com idade entre 7 e 17 anos, com treinos no Marretão, a iniciativa já mostra resultados.
O estudante Jairo dos Santos, de 19 anos é apontado como revelação do projeto. O pernambucano, que mora em Frutal há 12 anos e disputa provas regionais, diz que a corrida mais importante da sua vida aconteceu em Brodowski, onde ele venceu a prova de 10 quilômetros e ganhou, além da um troféu, uma bicicleta. “A cada quilômetro que avanço sinto prazer. Depois, na hora de receber os prêmios, independente da colocação, ver o pessoal gritando seu nome é bom. Gosto daquilo que faço.”
Hugo Patrício de França tem 26 anos e atualmente tem o apoio dos Correios, onde trabalha, para participar das competições. Começou a correr quando adolescente, aos 16 anos. “Comecei a correr simplesmente para praticar algum esporte com o apoio do Matu, depois vi que os Correios tinham um projeto na empresa de incentivo aos funcionários. Decidi fazer parte da equipe e hoje estou bem ranqueado. Recentemente estive em Porto Alegre com a equipe que era composta pelos oito melhores tempos do Brasil, então, acredito que estou bem.”, diz.
Os resultados mais expressivos de Hugo aconteceram em provas dos Correios. “Já venci a etapa estadual, em Belo Horizonte. No ano seguinte, em Brasília, consegui superar atletas e funcionários dos Correios do Brasil inteiro. Essas duas vitórias são bastante significativas.”
A falta de incentivo
Apesar dos bons resultados, os atletas frutalenses esbarram na falta de incentivo ao esporte. O apoio dado pela Prefeitura Municipal, ainda que pequeno, é bem-vindo. “A Prefeitura nos fornece alguns medicamentos e verduras todos os meses. Disponibiliza um veículo para as provas mais próximas, e quando a prova é muito longe, se houver uma conversa antes, às vezes conseguimos alguma ajuda também. Além disso, todos os anos nós recebemos um par de tênis , mas a necessidade é maior. Eu gasto a cada dois meses um par de tênis para treinamentos, ou seja, necessitaria de seis pares por ano apenas para os treinos e mais uns três que seriam usados nas provas. Mesmo assim, agradecemos a colaboração”, diz Matusalém.
Enquanto a maioria dos atletas conta com a contribuição da Prefeitura, Hugo tem o apoio dos Correios, que é uma vantagem, mas não é um patrocínio. “Eu não posso pedir para correr quando quero. Se os Correios não participarem com a equipe, minha presença na prova fica comprometida”, comenta.
Fora essas pequenas ajudas, o comércio local também tem sua parcela de contribuição. Estes empresários são tratados pelos atletas como amigos do esporte e não patrocinadores.
O vício do bem
Todos os atletas têm o mesmo sentimento ao falarem do atletismo. Matusalém enfatiza o quanto é importante correr para ele: “Enquanto houver apoio, não vou parar. Tenho mais de 500 troféus e as medalhas são incontáveis. O corredor não tem fim. Em provas a gente vê gente da 3ª idade correndo e isso é maravilhoso.”.
Hugo, que conheceu o esporte e se apaixonou resume bem a sensação da Equipe de Atletismo de Frutal: “Acredito que o atletismo tenha se tornado um vício na minha vida, assim como na de todos os corredores. Um vício que só traz benefícios e que todo homem deveria conhecer”, conclui.
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