A vida sobre rodinhas

Posted in

Por Rafael Del Giudice Noronha

Viver no país do futebol e praticar outro esporte pode parecer complicado, difícil mesmo. Mas o Brasil é a nação da miscigenação, das misturas, de todos os povos, raças, credos, estilos e, esportivamente falando, não poderia ser diferente.  Aqui, o atletismo tem espaço, o vôlei, basquete, natação, tênis, handebol e o skate, assunto em questão.

A década era a de 1960 e o local, Califórnia. A paixão pelo surf entre os californianos era enorme, mas a necessidade de diversão fora das águas foi o que proporcionou a criação do skate. Bastaram quatro rodinhas e uma prancha de madeira. Pronto. Agora era possível surfar sem ondas.

De 60 até 80, o skate passa por altos e baixos. Em 1970, muitas pistas foram fechadas, competições canceladas e houve uma decadência, gerada pela mudança de foco da revista Skateboarder, a bíblia do esporte na época, que passou a cobrir competições de bikers.

Também na década de 70, os skatistas começaram a usar as piscinas vazias – conseqüência do racionamento de água nos EUA – como local para realizar suas manobras e criar o que hoje é conhecido como skate vertical.

Em 1980, surgem os half pipes, que são as pistas em forma de “U”. Além dessas pistas, importantes ícones mundiais do skate, como Rodney Mullen, revolucionaram o esporte. Mullen inventava manobras e foi inúmeras vezes campeão do mundo, até que foi proibido de competir por sempre ganhar com suas próprias manobras.

Visualmente, o esporte é belíssimo. As manobras exigem precisão, leveza e coragem, muita coragem. A cada giro no ar, o risco de uma queda, com conseqüentes lesões e fraturas, está presente. A união do skatista, de uma pequena prancha com rodas e o desafio ao cimento e à gravidade levam a manobras que desafiam os limites do homem, objetivo dos esportes que merecem receber este nome.


Didática do Skate

Como todo esporte, o skate tem suas particularidades, suas gírias, expressões.
Quem se depara com alguém dizendo que mandou um ollie pode achar estranho, mas o que a pessoa mais vai estranhar mesmo é saber que aquele nome esquisito é uma manobra básica para os skatistas, que consiste simplesmente em tirar o skate do chão com um salto.

Se você já ouviu falar em kickflip e não entendeu o que aquilo queria dizer, é simples. É a combinação de movimentos que o skatista faz para que o skate gire uma volta na vertical enquanto completa os 360 graus na horizontal.

Portanto, ao escutar as gírias e expressões típicas do skate, não se assuste. É o jargão, o palavreado próprio do esporte. É a maneira dos skatistas se comunicarem entre si e soa tão natural para eles quanto tiro de meta, impedimento e meia lua soam pra nós. Pode parecer complicado, mas entender não é uma obra de outro mundo.


O skate em Frutal

Frutal hoje trata o skate com mais carinho do que era tratado antes dos anos 2000. Raphael Rogério Silva, responsável pelo esporte radical da cidade, conta como conheceu o esporte: “Conheci o skate em 1998. Desde então me apaixonei e sempre me envolvo nos eventos do esporte na cidade ou na região, seja como atleta ou organizador.”

Raphael relembra que em 1998 o skate não tinha incentivo algum na cidade, não havia uma pista e, portanto, os atletas sofriam com a falta de incentivo.

Atualmente, há a Associação de Skatistas, que foi fundada no ano de 2004 e passou a reivindicar os interesses dos atletas junto às autoridades públicas. Em 2006, aconteceu o evento memorável para os amantes do skate: a inauguração da Pista Municipal Esperança Skate.

Esses acontecimentos, além de solidificarem o sonho dos atletas, trouxeram novos adeptos para o esporte, e hoje, a situação já é diferente: “Desde 2005, nossas prioridades foram atendidas. O mais importante é que conseguimos ter, dentro da Prefeitura, alguém que entendesse e compreendesse o esporte radical.” Diz Raphael.


O Crescimento x O Preconceito

O preconceito com esportes radicais existe, mas hoje não é tão forte como o de anos ou décadas atrás. O skate sofreu com isso, mas continua crescendo: “É o esporte com o segundo maior número de praticantes no mundo, só perde para o futebol.” Aponta Raphael.

A conscientização de que o esporte, seja radical ou não, traz consigo melhorias na formação de cada pessoa é pensamento quase unânime. Porém uma criança que deseja aprender skate ainda não encontra uma escolinha, como aquela disponível para quem quer jogar futebol. E esse obstáculo pode ser o caminho para o preconceito.

Nenhuma mãe não vai deixar o seu filho simplesmente pegar um skate e ir para a rua com ele. Raphael avisa que a situação irá mudar: “É verdade que hoje não temos uma escolinha para dar início ao aprendizado das crianças, mas há um projeto para que no ano que vem possamos inaugurá-la.”

Ressalte-se que o skate, além de esporte, é uma maneira de viver a vida. O skate nasceu com uma identidade ímpar, tem suas marcas, suas expressões e sua cultura. Praticado de forma saudável e com responsabilidade, deve ser respeitado e visto, acima de tudo, como benefício.


Skatistas Frutalenses


O estilo de vida que estimula jovens a cada vez mais ingressarem ao skate também é presente em Frutal.

Ainda não temos nenhum Bob Burnquist e nenhum Mineirinho, atletas brasileiros que já foram campeões mundiais da categoria vertical, mas os atletas frutalenses sobem degrau por degrau as categorias do esporte para um dia brilharem.

Raphael analisa a situação e diz que as expectativas são boas: “Temos muitos atletas de capacidade. Hoje estamos na categoria Amador. Um jovem de Frutal que se destaca é o Matheus Sato. Ele tem muito potencial e se houver incentivo dos órgãos públicos, da iniciativa privada e das marcas de skate, a chance dele se tornar um profissional é grande.”