Por Mariana Nogueira
Stand Up Comedy. Este é o nome do estilo humorístico que vem ganhando o público. Geralmente é apresentado por uma pessoa só em pé (daí o nome Stand Up, que vem do em inglês), mas pode ser apresentado por um grupo de comediantes.
Diferente dos shows de piada, neste tipo de espetáculo o humorista cria um texto envolvendo assuntos atuais, o que torna o show bastante variado. Para quem assiste, parece tudo um mero improviso, mas o texto é ensaiado e lapidado ao longo das apresentações. Diante de perguntas e provocações da plateia o intérprete precisa estar afiado para responder com inteligência e acidez, em muitos casos.
Os precursores
A comédia stand up surgiu no final do século 19 nos Estados Unidos com Jack Benny, Fred Allen e Bob Hope. Considerados os pais deste gênero, os três vieram do teatro de revista (vaudeville) e da época de ouro do rádio.
José Eugênio Soares, José Thomaz da Cunha Vasconcelos Neto e Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, possivelmente mais conhecidos por Jô Soares, José Vasconcellos e Chico Anysio são os precursores deste tipo de humor no Brasil.
Nos anos 60, José Vasconcellos introduziu o gênero One Man Show em terras tupiniquins. O estilo é o que mais se aproxima do Stand Up que conhecemos. A grande diferença fica por conta da inclusão de canções, cenas e interpretação de alguns personagens durante o show. Chico e Jô difundiram este estilo humorístico em programas mostrados ao vivo para todo o Brasil.
A nova geração
Um palco, um microfone e uma platéia. É o suficiente para os comediantes que se apresentam nos shows de Stand Up pelo Brasil. São muitos nomes conhecidos: Bruno Motta, Dani Calabresa, Danilo Gentili, Diogo Portugal, Fábio Porchat, Fábio Rabin, Fernando Caruso, Geraldo Magela, Gigante Léo, Luiz França, Marcela Leal, Marcelo Adnet, Nany People, Rafinha Bastos e Tatá Werneck.
A maioria dos humoristas explodiu na mídia como fenômenos da internet, com vídeos de seus shows postados na rede, rendendo milhares de visualizações. Outros foram campeões de concursos de Stand Up, promovidos por grupos de comediantes como o Clube da Comédia. Todos são caras de pau e talentosos o suficiente para sair Brasil afora divertindo as pessoas e apimentando as ideias que o povo tem sobre política, futebol, etc.
Comédia X Polêmica
Ao lidar com temas tabus o stand up pode gerar polêmica. A comédia que aborda temas banais do cotidiano provoca algumas vezes reações de mau humor.
Recentemente, o humorista Bem Ludmer, ao fazer piada sobre gordos, recebeu um soco nada engraçado de um integrante da platéia. O curioso é que o próprio Ludmer está acima do peso e não se envergonha de fazer piadas de si mesmo e sua forma física.
Danilo Gentili é o humorista stand up que mais se envolve em discussões. As mais conhecidas são sempre relacionando pessoas com estereótipos racistas. Em 2009 ele disse em seu Twitter, rede social em forma de microblog: “King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”. A declaração rendeu uma representação do Ministério Público.
O Stand Up polemiza e abre a mente do publico. Os assuntos sério que são tratados com humor entram mais facilmente no cotidiano dos cidadãos. Muitos, quando saem do espetáculo, levam consigo uma motivadora pulga atrás da orelha capaz de induzir as pessoas a se informarem e se atualizarem a respeito dos assuntos do Brasil e do mundo.
ENTREVISTA
Dia 11 de setembro acontecerá em Frutal o show de stand up com o Gigante Léo. Com pouco mais de um metro de altura, em seu show ele aborda o universo de quem vê tudo por outro ângulo. E conta como anda de ônibus, usa o chuveiro e reage quando as pessoas perguntam se é anão.
360 - Com 9 anos você fez sua primeira peça de teatro mas sua carreira no Stand-up Comedy começou ativamente neste ano. Por que a opção pelo stand-up?
Na verdade o Stand-up Comedy começou ativamente em meados do ano passado. Sempre fui e serei um eterno apaixonado pelo teatro. No teatro, embora já tenha feito alguns personagens sérios (Prof. Henrique da peça "Pigmaleão" de George Bernard Shaw) e vilões (Bruxo Belzebu III da peça infantil "A Bruxinha que Era Boa" de Maria Clara Machado), a maioria dos meus personagens no teatro sempre teve uma veia cômica. Não uma comédia pastelão, mas personagens cômicos relevantes para drama. Não explorava o fato de ser anão nas peças. Os personagens não faziam menção que eu era anão, eles tinham sua graça por si só, o fato de eu ser anão era apenas um detalhe, não relevante para a peça. Com esta bagagem teatral e de humor, o stand-up foi quase que uma consequência natural. Eu arriscaria dizer, da forma como as coisas aconteceram tão naturalmente, que o stand-up foi que me escolheu.
360 - O fato de ser anão o ajuda a ver o lado cômico de situações que pessoas de tamanho comum não vêem?
Creio que não. Ser anão ajuda sim, a surgirem situações inusitadas que, pelo modo de eu viver e encarar a vida, transformo-as em uma grande comédia. Mas o humor é um estado de espírito de cada um. É uma maneira diferente que algumas pessoas têm para superar os obstáculos da vida. Desta forma, ser anão não contribui para que eu veja o lado cômico, mas sim, a maneira como eu costumo viver o dia a dia.
360 - Em uma entrevista recente você disse que está trabalhando em um livro. Qual vai ser o tema principal?
Estou finalizando um livro, que irá tratar do universo do anão sob a ótica do humor. Ele conterá desde piadas conhecidas de internet sobre anão até diversas situações engraçadas e curiosidades que as pessoas têm sobre nós, os baixinhos.
360 - Em suas entrevistas, você destaca que o público do interior é diferente. Quais as suas perspectivas para Frutal? E em relação aos mineiros, preparou algo especial para o show na cidade?
Adoro plateias de interior. Geralmente são plateias mais leves, mas de bem com a vida e disposta a se divertir junto com você. Diferente de platéias de grandes centros, onde as pessoas não conseguem se livrar do estresse nem na hora do lazer. Com isso, tenho grande alegria e expectativas para esse show em Frutal. E preparei coisas novas especialmente para o povo mineiro. Mas para as mineirinhas que quiserem ganhar meu coração, fica a dica: adoro pão de queijo (não custa nada tentar, já que estou solteiro mesmo).
360 - Você acredita que o preconceito tenha sido um incentivo para você praticar o humor?
Sempre digo que o preconceito está muito mais dentro da própria pessoa, do que no ambiente ou nas pessoas que a cerca. Por este ponto de vista, creio que a maneira de encarar as coisas com mais leveza, mais alegria e humor, ajudaram-me a vencer esse preconceito mais difícil, que é o preconceito que temos conosco mesmo. Esse auto-preconceito que nos dificulta a superar e aceitar nossas próprias limitações.
360 - Pelo fato de você ironizar as situações do cotidiano, acha que encoraja outras pessoas como você ou com outras deficiências a ver suas vidas de uma forma mais feliz?
Sim, como já diz o ditado popular: "rir é o melhor remédio". E o retorno de pessoas que veem me agradecer ao final do show, por eu ter transmitido algo de bom, algo que ela precisava ouvir, é uma grata surpresa que o stand-up pode me proporcionar. Hoje em dia é muito difícil as pessoas aceitarem suas limitações, suas imperfeições. Quantas pessoas não morrem fazendo cirurgiias plásticas para perder de milímetros de barriguinha. Creio que meu stand-up contribua para as pessoas cairem em si e perceberem que o hoje é um grande presente que Deus lhe deu, e não vale a pena jogá-lo fora por causa de alguns obstáculos.
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