Por Priscila Minani
A cidade de Frutal é um lugar de poucos prédios. Portanto, seu crescimento é horizontal. Com uma densidade demográfica de aproximadamente 22 habitantes por quilômetro quadrado, coincidentemente a mesma do Brasil, nas últimas décadas o crescimento tem espalhado esta população. E aí surge um problema: como a maioria dos serviços públicos ainda se mantém na região central, de que forma os moradores dos mais distantes pontos da cidade fazem para se locomover? Como anda o transporte público da cidade?
Com esta questão em mente, o Jornal 360 se propôs a verificar esta situação. Para se conseguir fazer uma pesquisa de campo é preciso que se tenha material para ser analisado. Portanto, hora de pegar o bonde, ou melhor, o ônibus...
Eis aqui a primeira dificuldade: onde e em quais horários eles circulam? Uma das primeiras fontes de busca foi o site da Prefeitura. Depois de revirá-lo, não consegui obter nada que facilitasse meu trabalho. Tais informações, que deveriam ser de fácil acesso para a população, não estão ao alcance de quem mais necessita.
Após alguns telefonemas e insistente procura por dados, consegui, com um funcionário do Pátio da Prefeitura, uma lista escrita à mão, com os locais que contam com a presença do poste de, aproximadamente, 1,50m, nas cores branco e vermelho com o indicativo “CIRCULAR” gravado em preto. São 66 pontos espelhados pela cidade, por onde circulam dois ônibus.
Lugar indicado para partida: Praça da Matriz. Trata-se do ponto de maior fluxo do ônibus circular na cidade, pois é de onde chegam e de onde saem os usuários que moram em locais afastados e precisam do veículo para chegar ao centro e, depois, para voltar para casa.
A informação recebida era a de que o ônibus sairia às 11 horas. São 10h45 e cerca de 10 pessoas já se encontram no local. A hora passa, o ônibus não chega e mais pessoas aglomeram-se. É gente simples que, em sua maioria, levantou cedo para conseguir realizar suas tarefas. Não é preciso muito para que comecem as conversas enquanto o ônibus não vem. Já passam das 11h15 e uma senhora exclama: “que demora!”. Dona Guadalupe Aparecida Silva é de Comendador Gomes. Estava no calçadão de Frutal com sua filha e precisa do ônibus para ir para casa da mãe, que mora no bairro Frutal III.
Mais um pouco de espera e algumas pessoas desistem. Acabam gastando dez reais para ir de taxi, porque a demora cansa. Foram oito reais a mais que para essas pessoas farão toda a diferença. Enfim, 11h39 e o circular chega. A aparência externa não é das melhores. Dois reais na mão do motorista, porque não há cobrador, e se tem acesso à parte interna do veículo. Essa preocupa mais que a externa. Bancos sujos e tremeliques que tornaram cuneiforme as anotações no papel.
A viagem é desbravadora. Boa oportunidade para quem conhece apenas a região central da cidade. É o meu caso. Há um ano e oito meses – para ser mais específica – habitando as terras mineiras, procurei morar num lugar que satisfizesse as minhas necessidades. Assim, tendo bancos, mercado, farmácias e lojas em geral ao meu redor, o único lugar que precisei apelar para o ônibus foi no trecho Praça da Matriz – UEMG, pois até a Agência 360 localiza-se no centro.
Continuando... Uma virada à esquerda aqui, outra à direita ali e as ruas desconhecidas levam a lugares familiares, como a rodoviária. Durante o trajeto, o coletivo é lento. É natural que sua velocidade não seja a de um carro de corrida, mas é necessário que ele se locomova mais devagar que o normal para garantir que nenhuma parte de sua lataria fique para trás. É isso mesmo. A impressão é a de que há peças soltas no veículo. O barulho que se ouve devido ao choque com o solo esburacado é assustador.
O caminho segue pelas ruas que cercam o Recinto de Exposições. Lá do alto consegue-se avistar a parte conhecida da cidade, com destaque para os edifícios Executivo, Frutal e o Hotel do edifício 3 Poderes.
Agora parece que o ônibus está saindo da cidade. Engano. A placa indica “Rua Belo Horizonte”. Estamos atrás da Cervejaria Fass. Mais um pouco de andança e o Viaduto Conrado Heitor de Queiroz é a passagem para os bairros Frutal II, III e IV. Já se passaram 20 minutos do início da viagem, e bem longe do centro da cidade, o ônibus trafega por ruas nas quais o que resta de asfalto se confunde com a terra vermelha. Há poucas pessoas no transporte. Lá no fundo, uma mulher cheia de sacolas e de olhar curioso. Conversei com ela.
De aparência jovem, Vilma Santos é uma mato-grossense que veio visitar a família. Está a alguns dias na cidade e por já ter gasto um bom dinheiro com mototáxi, não teve alternativa a não ser o transporte público. “O mototáxi cobrou cinco reais para me levar pra casa. Hoje gastei o dinheiro comprando umas coisas e tive que vir de ônibus, mas não gostei, é muito demorado”, disse.
Na busca por alguém que fosse usuário freqüente do circular, avisto uma mulher entrando. Ela está acompanhada de duas meninas que provavelmente são suas filhas e mostrou encaixar-se no perfil procurado. De jeito simples, Érica Aparecida Presedina usa o meio de transporte público só quando não há outra forma de locomoção. Ela diz que o ônibus precisa de maiores cuidados e que teme andar porque diz não ser seguro, principalmente por causa das crianças. Quando questionada sobre reivindicações, ela responde: “direto vai gente lá reclamar, mas nunca resolve”. Sobre o mesmo fato, outro usuário desabafa: “não adianta reclamar, aqui só tem moral quem tem dinheiro”.
A paisagem estranha aos olhos de quem só conhece o centro logo encontra o Lions Club, numa esquina da Avenida JK. Bom, deve ser o fim da viagem: o ônibus segue pela avenida, contorna o calçadão e chega ao destino final. Certo? Não, errado. É hora de cruzar a rua e explorar o XV de Novembro. Mais voltas e voltas. O relógio marca 12h57. O ônibus passa pelo bairro Princesa Isabel - para os mais íntimos, Brejinho – passa pelo Cemitério Municipal, passa pela Assistência Social Pio XII.
O trajeto é muito longo. Não há uma divisão de percurso com mais ônibus fazendo o itinerário, o que tornaria as viagens mais rápidas. Esta falta de rapidez é a principal reclamação dos usuários e certamente o principal motivo para que o circular trafegue quase às moscas.
Finalmente, depois de uma hora e 20 minutos chega-se ao fim desta viagem e ao fim desta matéria com uma constatação: o transporte público de Frutal é inadequado, caro, pela qualidade que oferece, e quase impossível de se usar pela simples falta de informação sobre horários e itinerários.
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