Ponto Crítico: O monarca da cultura popular

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Por Lausamar Humberto

Começo sem meias palavras e correndo o risco de desagradar um monte de gente: Roberto Carlos é o maior e mais importante artista popular brasileiro de todos os tempos. É natural que este título caiba a alguém da música. Afinal, temos os nossos ídolos populares no cinema, na TV, mas nada que ombreei com a força da MPB, entendida aqui como música popular mesmo, e não apenas aquela vestida de roupa de grife. E sendo da música, alguns gritarão: maior que Ary Barroso, que Tom Jobim, que João Gilberto, que Caetano, Chico, Milton e Gil? Maior, sim senhores. E saibam que adoro todos os citados.

Esta afirmação é algo que o Lausamar com 20 anos nunca faria e ainda seria capaz de jurar que jamais cometeria tal julgamento. As coisas mudam. O reconhecimento da grandiosidade de Roberto Carlos é uma constatação de uma fase mais madura, a partir dos 25, 30 anos.
Meu contato com o Rei foi primeiro pelas rádios AM. Minha mãe adorava rádio e fazia as tarefas de casas com o velho radinho de pilha ligado. Eu conhecia boa parte de seu repertório, mas sem nenhuma avaliação ou proximidade maior.

Na adolescência, o seu sucesso me intrigava. Nesta época o que eu ouvia era a MPB “sofisticada” e o pop/rock internacional. Para piorar, começa a sua fase de músicas para as mulheres pequenas, para as gordinhas e até para que usam óculos. Convenhamos que estas canções são indefensáveis.

O contato com algumas de suas músicas da fase inicial e romântica como Detalhes, Como é grande o meu amor por você e Eu te amo, Eu te amo, Eu te amo não deixavam dúvidas do seu talento como compositor e sua facilidade absurda de comunicação com a massa. Mas foi uma coluna de Nelson Motta na Folha de São Paulo, sobre um destes especiais de fim de ano e que atentava para o cantor espetacular que Roberto é, que me levou a prestar mais atenção na obra do Rei. Conclusão: o cara é muito bom.

Sua voz não possui grande extensão, o que é compensado com uma naturalidade de canto capaz de constranger aqueles para quem cantar é coisa dificílima. O disco Roberto Carlos – Acústico MTV é prova deste controle absoluto de sua arte que o Rei possui.

É um grande artista aquele que produz uma grande obra. Pode ser até única, a chamada obra prima. Um poeta que fez um grande poema, um escritor que fez um grande livro, um cineasta que dirigiu um grande filme, são todos grandes. Mais raro é produzir dezenas de obras primas. E estamos falando de uma destas raridades. Roberto, quase sempre com seu parceiro Erasmo, possui 20, 30 grandes canções. Quantos podem dizer o mesmo? Poucos no Brasil, poucos no mundo. Só os verdadeiramente geniais.


Minhas 10 maiores canções do Rei.

Detalhes – O maior sucesso. A não resignação pelo amor perdido.
Eu te amo, eu te amo, eu te amo – A música é um convite para a plateia cantar junto.
Fera Ferida – A melhor letra da dupla Roberto e Erasmo.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos – Canção de solidariedade que se tornou uma grande canção de amor.
As baleias – Uma música engajada que não é chata. Ao contrário, a melodia é linda e tem versos memoráveis.
O portão – “Fui abrindo a porta devagar / mas deixei a luz entrar primeiro / todo meu passado iluminei...” Só estes versos justificariam a escolha.
As curvas da estrada de Santos – Minha preferida. A mais rock and roll do Rei.
Fim de semana – A mais família das músicas brasileiras. Bonitinha, fofinha, a delicadeza em forma de canção.
Meu querido, meu velho, meu amigo – Difícil ouvir e não chorar.
Como é grande o meu amor por você – O modelo perfeito de canção romântica e a mais bossa nova das músicas de Roberto.