Por Priscila Minani
Salvar vidas. Talvez esse seja o objetivo que torna a Corporação de Bombeiros a instituição mais respeitada pela sociedade. Em suas fardas e com viaturas vermelhas, devem estar sempre prontos para qualquer ocorrência ao toque da sirene.
Incêndios, acidentes, enfartes, captura de animais, afogamentos, desabamentos, inundações... É triste, mas os bombeiros vivem, na maioria das vezes, próximos de tragédias. Viver assim não é fácil.
Todos os dias são colocados à prova da vida e da morte. Pode ser que seja um dia tranquilo, somente cumprindo horário de serviço e fazendo plantão. Mas pode ser que o pelotão seja convocado a lidar com uma situação, por exemplo, de pessoas presas em ferragens em um grave acidente, o que requer muito esforço e concentração. O cotidiano é incerto, mas a vontade de ajudar é o que move esses profissionais.
Tal impressão é percebida quando se pode acompanhar de perto o trabalho deles. Por isso, na manhã do dia 3 de novembro de 2011 a equipe 360 estava a postos no quartel do Corpo de Bombeiros de Frutal. Por volta das 9 horas somos apresentados à estrutura do lugar. O soldado Tiago Fachinelli fala sobre a demanda de Frutal. Por ser uma cidade interiorana, é calma. Enquanto pronunciava essas palavras, a sirene tocou, como que desafiando o soldado. O serviço o chamava.
Explicações interrompidas, pois a agilidade é primordial. O chamado no 193 era pra um caso de suspeita de AVC, o popular derrame. Poucos segundos de movimentação e estavam todos prontos para o socorro. Fomos autorizados a acompanhar a ação, desde que num carro particular. Assim o fizemos. No caminho, uma verdadeira perseguição à viatura, afinal tratava-se de uma emergência. Chegando ao local as ações são rápidas e logo a vítima é levada ao hospital. Frei Gabriel ou São José? O destino é definido de acordo com a propriedade ou não de plano de saúde. Enquanto acompanhávamos o trabalho dos bombeiros, um senhor, conhecido da família, estava no local e antes que eu perguntasse, já deu seu depoimento: “Acho o Corpo de Bombeiros melhor para Frutal do que a ambulância, porque eles são estudados para isso e são muito atenciosos e cuidadosos”, declarou Jades Reis da Silveira. Prova espontânea de admiração e reconhecimento.
A vida do quartel
Já que é para cumprir horário em prontidão, ou seja, 24 horas de serviço por 48 horas de descanso, que seja num lugar confortável. O quartel frutalense possui boas instalações. A estrutura, além de compreender o espaço destinado ao trabalho, ainda possui área para a prática de atividades físicas, como campo de futebol, quadra e piscina. O alojamento e a cozinha dão um ar caseiro ao lugar que acaba se tornando o lar dos profissionais no plantão.
Oito horas da manhã. Inicia-se a jornada. Passos calmos de quem ainda está sonolento, levam os bombeiros à sala de serviço. Um bom dia aqui, outro ali e as conversas fiadas com os colegas de trabalho a qualquer momento podem ser interrompidas. Se o telefone toca, a indicação da ocorrência é dada por um dispositivo com quatro cores de lâmpadas posicionado na parede frontal do quartel. Se a vermelha acender é sinal de que será um resgate; a verde indica salvamento; e a amarela e a azul representam os casos de socorro. Independente da cor, o caso é o mesmo: o papo muda e a seriedade e compromisso com o profissionalismo são as vozes da vez.
No caminho, o carro vermelho com o soar da sirene deixa olhares preocupados por onde passa, pois se está apressado é sinal de que alguém corre risco e qualquer minuto pode fazer toda a diferença na vida de uma pessoa. Assim que a correria passa, o retorno ao quartel é tranquilo. No período entre as ocorrências, o clima é de descontração, até porque todos precisam recuperar as energias diante das situações do expediente.
São cerca de 30 bombeiros que formam o efetivo de Frutal. Comandados pelo Sargento Leopoldino, eles têm à sua disposição viaturas e um barco para salvamento. Em média, são sete no plantão diário, que se dividem nos trabalhos. Quando não é possível que estejam todos, o serviço se torna mais complicado, porém não deixa de ser bem feito.
As cidades de Itapagipe, Limeira d’Oeste, Iturama e São Francisco de Sales estão entre as que são cobertas pelo comando de Frutal. Trata-se de uma região muito grande para um efetivo muito pequeno. Outra dificuldade é a falta de referências por parte da sinalização e das pessoas que requerem o serviço. O tempo perdido nessa situação pode mudar os rumos da vida de uma pessoa. Isso ainda deve ser melhorado para que a prestação de serviços possa ser cada vez mais eficaz.
A escolha
Apesar de ser corriqueira a maioria dos atendimentos, a pressão é constante. Aliás, tem que ser dessa forma. Pois, mais hora, menos hora, pode ser que a monotonia seja quebrada e o psicológico deve estar preparado. Por isso, desde o curso de formação, o emocional e a pressão são trabalhados a todo instante.
A tarefa mais difícil nem é a do socorro, mas a de voltar ao quartel como se não tivesse saído, lidando com o sofrimento de forma natural. Não é frieza emocional, é necessidade profissional.
É assim que Tiago Fachinelli tem vivido. Há três anos na corporação, diz gostar cada vez mais do que faz. Sempre gostou de correr riscos e essa profissão lhe agrada. Por fim, a repórter pergunta: “já pensou em desistir?”. A resposta: “Nunca. Na época do curso de formação vivemos o extremo para saber se é isso que queremos, e eu tenho certeza”.
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