Por Priscila Minani
“São peças únicas, personalizadas”. É a partir das palavras de Luciane Macedo que se pode perceber o que torna o artesanato algo tão especial. E não é só para ela. Do compartilhamento da mesma opinião, começou uma história de paixão e dificuldade. Mas que grande história não tem lá seus obstáculos?
Antes de falar um pouco mais sobre estas empreendedoras, fiquemos com algumas informações sobre o tema desta reportagem.
Do artesanato
Da escolha da matéria-prima até a elaboração final do produto através de um trabalho manual, o artesanato surgiu por volta de 6.000 anos A. C. A pedra polida, a cerâmica, a pintura com tingimentos naturais, e até a tecelagem, são exemplos de uma gradação na história do artesanato.
No entanto, o ser humano aperfeiçoou as suas habilidades, e com esse desenvolvimento surgiu a tecnologia. Cada vez mais presente no cotidiano humano, a produção sem a sua utilização tornou-se desvalorizada, como se produtos assim fabricados fossem tornados em um material “tecnologicamente” atrasado.
Se você compartilha desse pensamento, permita que lhe diga que está enganado. O artesanato é um grande sobrevivente em meio à tecnologia. Mesmo após o surgimento do “industrianato”, que é o produto semi-industrializado, o trabalho manual ainda persiste, e o toque caprichoso de quem faz agrega valor ao material. Pintura em tela e pano, bordado, biscuit, trabalho em madeira e telhas, arranjos, bijuterias, cabaças, estão entre os vários artigos de decoração que podem ser encontrados na atividade.
Do artesanato frutalense
Ano: 2002. Local: antigo prédio da Caixa Econômica Federal, em Frutal. 26 artesãos da cidade se reuniram para expor seus trabalhos. O evento aconteceu por iniciativa de Dirce da Silva C. Pereira que viu numa palestra do SEBRAE sobre empreendedorismo a oportunidade de divulgação. E assim se fez. Outras feiras vieram, outros artesãos também e o trabalho ganhou reconhecimento estadual. Uberlândia, Belo Horizonte, Uberaba, Fronteira, Itapagipe e Araxá estão entre os lugares que puderam conhecer um pouquinho de Frutal.
Com esse crescimento, foi necessária uma boa organização e documentação para cadastramento. Assim, contando com 42 artesãs, no dia 27 de agosto de 2004 foi criada a Associação Raízes do Artesão. A partir daí, veio a decisão. Aconteceram algumas feiras esporádicas até se definir a abertura de uma loja permanente. Não demorou muito e no dia 30 de abril de 2005 nasceu a Loja de Artesanato.
Inicialmente, estabelecida no térreo do Edifício Executivo, permaneceu por lá até 2007, quando se mudou para a Rua Floriano Peixoto, 523, no Centro de Frutal, próxima ao Calçadão Municipal, onde se localiza até hoje.
A associação das artesãs compartilha de uma organização invejável. Trata-se de um grupo pequeno, mas apesar disso, a divisão de responsabilidades não deixa a desejar.
Presidente, vice-presidente, duas tesoureiras, duas secretárias e duas suplentes. Os cargos são decididos em eleições democráticas feitas a cada três anos. No decorrer do trabalho, há assembleias e reuniões mensais. Além disso, possuem estatuto e regulamento interno a ser cumprido. Diante disso, o interesse em ser associado é bem-vindo, mas deve atender a alguns critérios, por uma questão de disciplina profissional, afinal, artesanato representa a cultura de um lugar e é o resgate dos costumes, como explica a presidente Elcia Lina Santana Carvalho, 41 anos, que zela pela manutenção da boa qualidade dos produtos.
Dificuldades
Mas, infelizmente, a beleza do trabalho corre o risco de ser ofuscada. A associação passa agora por dificuldades. Sem apoio de órgãos superiores que patrocinem a atividade, as associadas são independentes não por escolha, mas por necessidade, e com isso têm que dividir entre si as despesas da loja. Mais uma prova de que o trabalho de artesã é sinônimo de amor, pois dali ninguém tira seu sustento, todas possuem seu trabalho extra e dedicam um tempo de sua rotina a produção do artesanato. Cada uma é especialista em uma arte, mas aprenderam a fazer um pouco de tudo e produzem no seu dia de expediente.
Cleidimar, Cleonice, Dora, Elcia, Luciane, Marta, Neila, Noemia, Raquel, Rose Mary, Sandra, Marilena... quantas outras pessoas com esses mesmos nomes você conhece? Talvez uma ou outra, talvez muitas, mas, a questão é saber se possuem a mesma coragem e dedicação de enfrentar as dificuldades para fazer sobreviver a atividade apaixonante do artesanato. Assim como elas, tantas outras pessoas já foram associadas nesse empreendimento. Por motivos diversos abandonaram o sonho, porém, serão sempre bem-vindas se desejarem retornar. Ajudará a manter as portas abertas.
A maior carência sentida por essas mulheres é a falta de valorização do seu trabalho. O cidadão frutalense é o convidado especial para conhecer um pouco mais de sua própria história. Quem tem feito isso por ele são os visitantes. Resultado de uma cidade que vem crescendo, principalmente com a chegada dos estudantes da UEMG e da FAF, que na busca pela familiaridade, encontram no artesanato local uma maneira de se aproximar. São também lembranças dos mais diversos tipos para tornar a família da cidade natal, conhecedora de uma nova realidade.
A loja trabalha também com encomendas, o que, aliás, têm propiciado um alívio nas despesas. O telefone 3423-7450 toca. Enfeites para casamentos e aniversários acendem os olhos das associadas que enxergam uma oportunidade de manter a atividade que tanto gostam. Trata-se de uma relação incerta, que em meio aos obstáculos tenta sobreviver.
A maior colaboradora tem um nome diferente. Chames Miziara é a proprietária do lugar onde a loja se estabelece. O preço cobrado pelo aluguel é simbólico e segundo Luciane Macedo, secretária da associação, é o que permite a sustentação de um sonho realizado, mas que a qualquer momento, lamentavelmente, pode ser interrompido.
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