Projeto social no Waldemar Marchi injeta esperança no futuro de dezenas de crianças

Por Caio Machado

O exterior da casa é todo pintado de verde. O jardim, em sua entrada, reforça esse tom. Algumas lâmpadas suspensas entre o muro e o casarão garantem a iluminação noturna do local. A varanda ampla abrange a frente e a lateral esquerda da casa. É onde acontece a maioria das atividades do projeto. No seu interior, a casa possui uma vasta sala, uma cozinha espaçosa e organizada, além de duas salas destinadas ao reforço escolar, escritórios e banheiros.

A varanda está sempre repleta de crianças. No começo, elas podem até parecer efusivas demais, mas na verdade se mostram amáveis e bastante unidas. O ponto forte do projeto é oferecer um viés de que mudanças significativas podem ocorrer na vida dessas crianças. Sem o projeto elas poderiam estar envolvidas com aspectos negativos presente nas ruas. Lá, encontram oportunidades, amadurecem e se divertem com a orientação oferecida.

A assistente social Érika fica sensibilizada com a fragilidade social na qual algumas crianças encontram-se imersas. Crianças com pais que trabalham e, por falta de opção, deixam os filhos sozinhos em casa. Segundo a assistente social, o projeto é um meio de dar segurança e uma boa alimentação para os meninos e meninas: “Café da manhã e almoço são servidos durante o turno matutino, assim como mais duas refeições no horário da tarde. A preocupação com a alimentação é uma das principais ênfases do projeto”, afirma.


O bairro

O bairro Waldemar Marchi foi construído em meados de outubro de 2011, através de uma parceria entre o programa Minha Casa Minha Vida da Caixa Econômica Federal e a Prefeitura Municipal de Frutal. Com quase dois anos de existência o bairro possui 382 casas e, por ser o mais novo bairro, demanda de um cuidado especial em sua estruturação.

Com o objetivo de atender essa população mais distante, no dia 15 de maio de 2012, surgiu o Projeto Social Delfina Luzia do Carmo. Atualmente 100 crianças com idade entre 7 a 14 anos são atendidas nos períodos da manhã e da tarde. No projeto, elas participam de diversas atividades, como Educação Física, Coral, Reforço Escolar, Ballet, Hip Hop, Artesanato, Capoeira, etc. Os cursos são ministrados por professores contratados pela prefeitura.

No período da noite são oferecidos alguns cursos direcionados para a profissionalização do público adulto, em parceria com o SENAC. Além disso, existem atividades voltadas para adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. Alguns dos cursos disponíveis são: desenho e grafite, confeitaria de Bolo, pintor de Obras, reflexologia podal (massagem nos pés), etc.

Para Érika Jordão, assistente social responsável pelo acompanhamento das crianças, a adesão aos cursos do SENAC tem potencial para crescer. Ela afirma que mesmo com todas as vagas preenchidas, o projeto ainda tem estrutura para formação de mais turmas.

A matrícula para ingressar nas atividades da casa ocorre anualmente, mas todas as crianças do bairro que têm procurado o projeto são atendidas. O espaço supre a demanda das crianças. O projeto dura o ano inteiro e tem um recesso semestral de duas semanas. Há ainda uma colônia de férias, com programação diferenciada e que é realizada fora do espaço do projeto.

As aulas e atividades já renderam apresentações pela cidade. Ano passado, o coral se apresentou no Festival Agosto de Grandes Espetáculos e, para este ano, o projeto já possui algumas atrações confirmadas nos desfiles de 7 de Setembro e do aniversário da cidade, no dia 4 de outubro.


Levar educação, seja onde for, dá resultados

A coordenadora Alade Lima destaca a simultaneidade de atividades com lazer, cultura e educação para as crianças do Waldemar Marchi. De acordo com a ela, a escola mais próxima, Geralda de Carvalho de Souza, fica no bairro vizinho, Ipê Amarelo e por isso, a chegada do projeto caiu como uma luva para as crianças que necessitavam de um foco maior na educação.

As crianças possuem reforço escolar e fazem suas tarefas de casa no projeto, com acompanhamento de professores. Isso, além de aumentar o rendimento, serve de motivação e interesse num futuro melhor com auxílio dos estudos.

O acompanhamento da frequência é constante. Com três faltas, a coordenação já entra em contato com os pais da criança ausente. Os poucos casos de desistência ocorrem devido a conflitos familiares, como por exemplo, problemas relacionados à guarda dos filhos de pais divorciados, etc.

O acompanhamento de cada aluno é feito com cautela e discrição. Reuniões de pais ocorrem pelo menos bimestralmente e quando necessário, os mesmos são contatados para o diagnóstico de problemas. As famílias são visitadas frequentemente e contam com tratamento psicopedagógico para as crianças.


As crianças fora das ruas

O que os moradores do bairro perceberam foi que, com a adesão ao projeto, as crianças não ficariam mais nas ruas, sem ter o que fazer, expostas a marginalidade e às drogas. Além disso, a integração é evidente. Praticamente todas crianças se conheceram devido ao projeto.

“Foi a melhor coisa que aconteceu no bairro. Eles estão sempre elogiando e incentivando as crianças. O projeto sempre dá uma ênfase na questão da família em si e não apenas para a criança.” diz a moradora Wilsilaine, que tem filhos no projeto.

Wil, como é conhecida no bairro, elogia bastante a organização e a preocupação da coordenação com a família e com as crianças. Segundo ela, o projeto promoveu a união do bairro de uma maneira muito boa. Ela conta também que sempre participa das reuniões e das festividades promovidas pelo projeto, onde as próprias crianças fazem apresentações para os pais.

Ana Paula é moradora do Waldemar Marchi desde sua inauguração e tem dois filhos matriculados desde a fundação do projeto. Ela mostra sua satisfação com o projeto e afirma que houve mudança no comportamento dos filhos: “Antes eles eram bastante agitados, até agressivos, mas agora estão mais educados, a gente percebe o resultado”, relata.

Assim como a maioria dos pais do bairro, o fato de ter cada filho matriculado em um turno diferente do dia também facilitou que ela pudesse sair de casa para trabalhar com mais tranquilidade. Ressalta-se, ainda, que agora seus filhos têm acompanhamento escolar e auxílio nas tarefas de casa. Devido aos seu trabalho, tinha dificuldade em realizar este apoio. Fica feliz em ver que suas crianças estão bem encaminhadas.