Por Alexandre de Paula, estudante de Jornalismo da Universidade de Brasília
Depois de me ver cansado e desiludido à frente do texto apagado, pensei seriamente em falar aqui apenas da impossibilidade desta crônica. Mas em tudo deve haver limite e eu sou um pseudo-cronista muito novo para me entregar ao lugar-comum mais hediondo de toda a história deste gênero ao rés do chão. Por fim, decido-me a não mais devolver à tela a brancura original.
Em busca da crônica perfeita, avalio temas diversos, mas me perco na incapacidade de tratá-los como se deve. A crônica não é o tema, dizem tantos, mas o modo como é apresentado. Daí que todas as minhas acabam com esse ar de artigo mal feito, de academicismo barato e desprovido de embasamento. Na verdade, percebo, não se trata da impossibilidade desta crônica, mas da minha impossibilidade em me tornar cronista.
Ontem, estava desiludido e não percebi, mas hoje notei que adoro a palavra ontem e que isso poderia ser um bom motivo para crônica. O ontem que nunca veio, é o título do texto, que só me surgiu quando eu escrevia este e que terá de se contentar em ser apenas um parágrafo aqui mal encaixado entre outros parágrafos piores.
Quando penso, no entanto, na utilidade desta crônica, tudo me parece mais simples. E precisa ter utilidade?, perguntem-me, por favor. Não, não precisa, mas esta tem. E está aí, nos recônditos da pobreza crônica, o valor deste mal ajambrado amontoado de palavras. Imagino um jovem escritor, deitado em sua cama, angustiado com a dificuldade de escrever um grande conto, um poema genial ou, pelo menos, uma boa crônica.
Sobre as páginas de um Rubem Braga, repousam lágrimas. A luz fluorescente ilumina muito e cega os olhos. Odair José, agora cult, grita no headphone que felicidade não existe, só momentos felizes. O jovem escritor está convencido de que é incapaz de escrever algo melhor que Braga e se desespera. Pensa na morte, na falibilidade da espécie humana, no erro original.
Eis que, de súbito, pela janela pouco aberta adentra, inverossímil, este jornal . O jovem escritor o folheia, embora imagine que não vá encontrar ali nada que o console. E, então, dá-se a mágica. Esta pobre crônica se insinua aos olhos dele, que acabará por entregar-se. Ele não resiste e a cada linha se sente mais forte. É como se recebesse -- depois da jogada maravilhosa, porém não convertida em gol -- um passe brilhante que o deixa livre para marcar. Ri satisfeito, pois entende que esta crônica, que já começa a terminar lá pelo meio, serve apenas para mostrar que é capaz de escrever textos muito melhores.
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