Editorial: o poder público e a imprensa

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A relação entre jornalistas e ocupantes de cargos públicos é sempre tensa. Um bom polemista já disse um dia que a principal função do jornalista é atormentar os homens públicos. Para tornar possível esta relação é preciso que ambos os lados tenham muito claro o papel de cada um no fortalecimento da prática democrática cotidiana.

Pessoa que se candidata a cargo público tem que saber que ser elogiado ou criticado faz parte do jogo democrático. Não é função da imprensa a de dizer amém a todos os atos do político de plantão. Pelo contrário, uma boa distância do poder, um posicionamento crítico, faz bem para os dois lados, e faz bem maior ainda para a população.

Uma imprensa séria é condição essencial para o fortalecimento da democracia. É legítimo que em momentos de campanha política, órgãos de imprensa tomem partido deste ou daquele candidato. O jornal O Estado de São Paulo costuma deixar claro em seus editoriais qual candidato apóia. O New York Times faz o mesmo nos EUA. Mas este apoio não pode comprometer a qualidade da cobertura que fazem da eleição e do mandato do político vencedor.

A responsabilidade social e a ética jornalística pedem que se elogie nos acertos e que se critique nos erros. Quem faz jornalismo que tem lado não consegue cumprir esta regra básica que qualquer boa faculdade de jornalismo ensina.

Políticos deveriam pensar muitas vezes antes de tentar manter um relacionamento com a imprensa fundado em uma relação comercial. Parafraseando um antigo político mineiro, política é como nuvem, uma hora está e logo depois não está mais. A política é cíclica e aquele mesmo político que se beneficiou da “boa vontade” do veículo quanto estava no poder pode ser a vítima quando for o seu adversário que estiver com a chave do cofre.

Como bem diz o jornalista e professor Eugênio Bucci: "só o que cabe às autoridades é proteger a liberdade de imprensa e a integridade de seus profissionais. Da parte do Estado, o respeito à liberdade de imprensa se traduz numa renúncia: o governante de vocação democrática sabe se recusar a usar seu poder com o objetivo de interferir na mediação do debate público.

Esta relação, entre imprensa e poder, deve se pautar unicamente na esfera do interesse público. Veículos e profissionais sendo honestos e leais. E os políticos, aceitando as críticas como aceitam os elogios, não dando as benesses do poder aos órgãos simpáticos e amistosos, e a truculência aos que ousam contrariá-los.  Assim ganham a imprensa, ganham os políticos, e os principais beneficiários são os leitores e os cidadãos.