Entrevista - Miriam Leitão

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Por Edwaldo Costa e Patrícia Paola Almeida

Miriam Azevedo de Almeida Leitão nasceu em Caratinga-MG e passou a infância lendo, observando o mundo a sua volta e sonhando em ser escritora. Aos 18 anos, decidiu fazer as malas e ir estudar história no Espirito Santo. Por um acaso, destino ou coincidência, seu primeiro emprego em terras capixabas foi como estagiária em um jornal. Enfrentou a ditadura militar, desistiu do curso de História e mudou-se para Brasília. Formou-se em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e partiu para São Paulo.

Hoje, é uma das jornalistas mais premiadas do país. É especialista em economia e negócios. Seus 40 anos de carreira permitem que ela fale ou escreva sobre qualquer assunto com a mesma capacidade e credibilidade. Apesar da dedicação, seriedade e gosto pelo jornalismo, ainda há espaço para a realização de um sonho de infância, que é ser escritora.

Já é autora de Convém sonhar e de Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda, que ganhou, em 2012, o Prêmio Jabuti na categoria não ficção. Inspirada por seus netos e sua vivência, acaba de lançar um livro para crianças: A perigosa vida dos passarinhos pequenos.

Miriam conta a seguir como foi sua trajetória e seus novos projetos.

Voltando um pouco no tempo, em que momento você decidiu ser jornalista e como foi a trajetória Minas Gerais, Espírito Santo e Brasília?
Na verdade eu sempre fui muito ao Espírito Santo, porque todo mineiro vai muito ao Espírito Santo [risos]. Aí teve um momento que eu fui para o Espírito Santo estudar. Fui fazer História, e no primeiro ano do Curso, antes de começar as aulas, eu fiz estágio em um jornal e nunca mais saí dessa área.

Como apareceu a oportunidade de trabalhar em Brasília?
Não, não foi exatamente oportunidade não.  É que era ditadura, eu fui presa e depois fui demitida sucessivamente de vários órgãos de imprensa, e chegou uma hora que precisei procurar emprego em outro lugar. E aí eu fui para Brasília. Já que era para brigar com o governo, eu resolvi ir para bem perto dele.

Como foi seu início de carreira?
A minha vida inteira sempre foi muito difícil, mesmo depois, por outros motivos. No jornalismo eu fui demitida várias vezes. Foi uma carreira construída com determinação e muita paixão pelo jornalismo.

Você acha importante o jornalista se especializar?
Eu acho importante a especialização desde que você saiba que você é jornalista em primeiro lugar. Gosto muito de jornalismo de economia, mas hoje eu vou além, entro em outras áreas. Eu acabo de fazer uma reportagem sobre índios, não tem nada a ver com economia, aí tem gente que pergunta: como você fez esta reportagem? Eu sou jornalista em primeiro lugar. Eu me especializo para me aprofundar em um assunto, mas eu tenho que ter a capacidade de escrever sobre outro assunto e ser capaz de fazer a mesma coisa que é: buscar, processar e entregar a informação.

Qual sua liberdade dentro da Globo?
Tudo o que eu decido fazer o jornal aprova e a TV também. Eu tenho muita liberdade. Mas na economia nunca faltou assunto. Eu peguei um período do começo da escalada inflacionária, cobri todo esse período e isso se transformou em um livro que ganhou o Prêmio Jabuti, no ano passado. O livro A saga brasileira me deu muita alegria.
E agora eu estou entrando até em outras áreas. Estou lançando um livro infantil, A perigosa vida dos passarinhos pequenos.

Como está sendo escrever para crianças? Pretende lançar outros livros?
Sim, pretendo. Há dois livros pela Editora Rocco e outro que eu já escrevi por inspiração da minha neta mais velha. Está sendo uma experiência maravilhosa, fascinante e assustadora. Escrever para criança é mais difícil, porque eu já fui criança há muito tempo e naquela época era outro tipo de infância. Então você tem que encontrar uma forma de se comunicar com a criança de hoje. É muito desafiador.

Também está escrevendo um romance que eu sei. O jornalismo colabora com sua carreira de escritora?
Sim, eu escrevo diariamente há 42 anos. Eu trabalho em todas as mídias, mas o que eu mais gosto de ser é jornalista de jornal. Isso me deu treino, me deu capacidade, mas, mesmo assim, o romance foi outra coisa, outra área e nasceu naturalmente. Eu não programei, eu me desbloqueei a partir do momento que eu consegui escrever o primeiro livro.
Eu estou em um momento de deslumbramento com a vida. Estou me achando, gostando de tudo o que eu faço. Estou realizando o sonho de ser escritora, que é um sonho que eu acalento desde a infância.
Diz o dito popular que durante a vida todos devem plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.

Você já plantou uma árvore, Miriam?
Sim, já plantei 32 mil mudas de espécie nativa da Mata Atlântica na minha reserva. Eu tenho uma reserva de proteção ambiental. Comprei uma terra para perder dinheiro e plantar árvores [risos].
Eu tenho dois filhos, um enteado, quatro netos, dois livros publicados, três livros “nas mãos” de editoras, na verdade quatro, porque tenho o romance que acaba de ser adquirido pela Editora Intrínseca na Feira do Livro de Frankfurt.

Quais são seus projetos e planos?
Estou escrevendo outro livro, tenho um marido que me ama muito e que eu também amo muito. E continuar no jornalismo, eu amo minha profissão. Tem uma poesia do Maiakovski que diz assim: “Dizem que em algum lugar do mundo, talvez no Brasil, existe um homem que é feliz.”, eu sou feliz.

Pelo jeito sua família também ama o jornalismo, certo?
Sim, o meu filho mais velho Vladimir Neto é da mídia eletrônica na TV Globo e o mais novo, Matheus Leitão, é da Folha de São Paulo.

Você que influenciou?
Não, eu tomei um susto quando eles escolheram. São excelentes profissionais, colegas dos quais eu me orgulho. E o marido, que é cientista político, virou jornalista comentarista. O que me deixa muito feliz, uma família de jornalistas.