Marina, morena Marina, você se arriscou

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Por Alexandre de Paula

Ainda será necessário esperar mais um pouco para dizer, com exatidão, se a decisão de Marina Silva, depois de impedida pelo TSE de ver criada a sua REDE, de aliar-se ao PSB de Eduardo Campos foi acertada. Depois da óbvia constatação de resguardo, alguns apontamentos, no entanto, podem ser feitos. A atitude de Marina surpreende principalmente porque, em um possível subtexto, indica um ato de abdicação. Um ato arriscado, é bom que se deixe claro. Abandonar a possibilidade de ter a própria candidatura em nome da aliança com Campos pode representar um abalo no projeto de solidificação da própria figura para o qual Marina se encaminhava.  
Espantam a muitos possíveis incoerências entre os discursos dos agora aliados. Campos está ligado, é claro, a um projeto de país distinto do que propõe Marina. É possível que se alinhem tão rapidamente? Marina pisou em falso ou tem a certeza de que Campos cederá a uma estrutura programática mais parecida com a que propõe? Por outro lado, tem-se a impressão de que nada mais é do que o velho jogo político em campo, alianças em busca de ampliar o quadro de eleitores. Enquanto Campos está alinhado cada vez mais a um discurso afastado da esquerda que o Socialista na sigla do seu partido supõe, Marina pode representar a proximidade com eleitores que acreditam no discurso de sustentabilidade e de mais ética na política. Podem os dois polos misturar-se sem que um contamine o outro?
Se o quadro aponta para mais incertezas do que conclusões, uma coisa é certa. Campos e Marina são um ponto fora da reta. Apresentam-se fortes com uma alternativa ao eixo FHC e Lula. Se puderem levar a uma discussão que afaste os debates do maniqueísmo bobo entre PT e PSDB (bem e mal, a depender da posição quem olha), já será um avanço. A análise dos candidatos tem de ir mais longe do que isso. Distante apenas da velha dicotomia, talvez seja possível analisar o que pode ser feito pelo país, mais do que ficar em julgamentos sobre quem é vilão ou mocinho da história.
Marina, além disso, depois de todo imbróglio para a criação da REDE, apresenta-se como a figura mais forte da oposição e enfraquece Aécio Neves na disputa. Parece ser ela, agora, quem representa o contrário de Dilma e não Aécio ou o PSDB. A aliança com Campos, no entanto, pode enfraquecer esse trunfo que Marina tinha nas mãos. Faz pouco que o PSB deixou a base governista e traz consigo ainda ranços do velho apoio.
No entanto, tudo o que se pode dizer agora são meras suposições. O mais, a história dirá.