Nova Geração: pés, mãos e violas que representam tradição

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Por Ana Carolina Datore

Há mais de um século, a família do comerciante Alexsandro da Mata dança catira em Frutal. Antigamente existiam dois grupos, o 13 de Maio e o 16 de Julho. Eram conhecidos e respeitados em Frutal e região. O bisavô de Alexsandro foi quem deu início à tradição que está firme e forte até hoje: “Quando comecei a dançar eu tinha mais ou menos cinco anos. Meu pai já dançava e tinha um grupo de catira aqui em Frutal que era do Seu Geraldo Chico, muito famoso na época. Com o tempo fui crescendo e teve uma época que tivemos que separar. Mas o catira começou mesmo com o meu avô, meu bisavô, uns 100 anos atrás”, conta Alexsandro, um dos líderes do Grupo Nova Geração.

O grupo foi formado há pouco mais de três anos por iniciativa de Alexsandro junto com o também comerciante, estudante e, nas horas vagas, ator e dançarino, Saulo Silva. Em uma conversa de fundo de quintal, eles decidiram que o Catira de Frutal não podia acabar. Resolveram, então, juntar as duas famílias e formar um novo grupo, que seria uma continuação das tradições na cidade. Surgiu então o Nova Geração. O nome, como eles mesmos dizem, é óbvio e mostra os novos representantes da dança na cidade.

E Frutal gostou do grupo. A agenda do Nova Geração está sempre cheia de apresentações. Em meio a toda correria do dia-a-dia, tiveram que diminuir o número de ensaios; geralmente são dois ao mês. Mesmo assim os convites para festividades só aumentam. E isso não só aqui. Aparecida de Minas e Comendador Gomes, por exemplo, são lugares que apreciam a tradição catireira: “Depois de um tempo, quando começamos a dominar o Catira, e os meus filhos começaram a ter mais segurança, começamos a nos apresentar. A partir daí surgiram os convites: numa escola, numa praça, numa comunidade, uma festa de igreja, numa cidade vizinha. E assim o grupo foi ficando conhecido”, conta Saulo.

No mês passado, o grupo se apresentou na 9º edição do Encontro Nacional de Viola no Alvorada Praia Clube. Não faltaram aplausos. A nova geração do Catira deixou a plateia de boca aberta. “Pra gente é muito prazeroso, porque minha vida é muito corrida e cansativa. Não é diferente pra ninguém. A gente fica sempre tão feliz com isso, porque em todas as nossas apresentações sinto que estamos mantendo viva uma tradição nossa. Isso é bonito, independente do que for”, declara Saulo.

Alexsandro já foi professor de Catira pela prefeitura de Frutal por um tempo e em cinco meses formou um grupo só de mulheres. Hoje ele ensaia o seu grupo e sua maior vontade é a de que o Catira ainda tenha muita história pra contar. “Eu sou fanático nisso. A vida toda gostei de catira, espero que meus filhos levem isso a diante”, afirma.


As diferentes versões sobre a origem do Catira

Essa tradicional dança se mantém viva nos dias de hoje em meio aos novos estilos musicais. Ela faz parte da tradição do folclore e da música caipira no Brasil e também pode ser chamada de cateretê. Sua característica principal é o ritmo marcado pela batida das mãos e dos pés, tendo de seis a dez integrantes na dança, além de uma dupla de violeiros.

Considerada genuinamente brasileira, historiadores afirmam que a catira foi criada em meados de 1563, quando o Padre José de Anchieta incluiu a dança nas festas de São Gonçalo, São João, Santa Cruz, Espírito Santo e Nossa Senhora da Conceição.  Já outros autores afirmam que ela era utilizada por jesuítas para auxiliar na catequese dos índios. Há ainda quem diga que a dança possui influências africanas. Outra versão sobre sua criação é a de que, na época dos bandeirantes, a viola era retirada das sacolas de viagem na hora do pouso, e os companheiros da comitiva acompanhavam a batida da música com as mãos e os pés, cantando modas de viola. Isso teria caracterizado a dança como masculina. Hoje mulheres e crianças também fazem parte dos grupos.

Mas como é a apresentação? A catira se inicia com o “cabeçalho”, que é a saudação feita aos violeiros. Durante toda a dança, os catireiros ficam dispostos em duas fileiras, uma de frente para a outra, e trocam de lugar a cada estrofe da moda de viola. Para finalizar, é cantado o “recortado”, tipo de música caracterizada pelo improviso dos versos, remetendo a desafios que marcaram tempos antigos, ou seja, quando havia o encontro de diferentes turmas pelas estradas do país. O “recortado” é marcado pelo humor em suas letras.

De geração pra geração, essas manifestações musicais contam, através da dança, coisas da própria terra e também do cotidiano, como trabalho, amores e saudade. A dança está presente em festejos culturais, como Folias de Reis e Festas do Divino. O Catira tem sua força maior, principalmente nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. O clima cordial e alegre serve para que o caipira, em certos momentos, consiga fugir das monotonias da vida.


Tradição que se mantém

A cidade de Frutal, como mostrado acima, segue a risca a tradição da dança de catira. No que depender de Saulo, isso vai continuar porque é parte do homem. “O exercício da preservação de uma tradição dá pra gente o prazer de sentir uma verdadeira amizade e também de aproveitar coisas que fazem falta com a correria do dia-a-dia. O mundo se vê tão fechado em torno de horário, de televisão, e então nós conseguimos fazer com que as pessoas se desliguem um pouco do mundo pra sentar ali com a gente, rir e conversar sobre o passado e futuro, discutir coisas que precisamos discutir. Faz parte do ser humano, faz parte da amizade”, finaliza.

A catira é brasileira, é da terra, é caipira, expressa os pensamentos dos homens, seus gostos e costumes. O Nova Geração consegue mostrar isso e tem todo o reconhecimento e respeito do público.


O catira?

Pois é, caro leitor, essa é uma curiosidade dessa matéria. Muita gente fala sobre a catira. Com o artigo A mesmo. Mas você sabia que O catira também está correto? E, mais, ainda é o de maior uso? No entrevista, Alexsandro fala várias vezes “o catira”. Curiosidade registrada para que você não se surpreenda se ouvir isso um dia. E se você já sabia, pelo menos ficou um tempinho a mais nessa matéria, certo?