Por Alexandre de Paula
Calmamente apanho o jornal. Nada novo sob o clichê desde os tempos bíblicos. Alguns esperneiam, outros comemoram. O sol aguça os ânimos e a noite alimenta a matéria bruta das discussões. Na saída dos aeroportos, alguns médicos se portam como imbecis. Outros chegam por algum motivo que não posso exatamente decifrar. Há quem tenha escolhido para sempre a grana, o verde impuro e o vermelho turvo do cobre. Isto aqui é literatura e interessa mais o estilo do que a clareza. O que, no fim das contas, já mostra que o cronista não fez a opção por ficar em casa, guardado por Deus, contando vil metal.
Falemos de Mais Médicos, vá lá. Ademais, deixo anotado aqui que é difícil encontrar clareza quando o que se tenta analisar é a posição ignorante de quem se espera muito. Depois de vinte anos na universidade, é difícil entender. Uma geração que escolheu o cobre. Simplesmente. Nada do altruísmo belo e nobre do “doutor” que adentra à pobre casa para tratar a febre, a dor, para lutar uma luta mais vã que a luta com as palavras, para se esgueirar por becos brancos e iluminados, e nem por isso menos precários, bradando contra a morte.
Retrato-me de um equívoco, enquanto é tempo. Não é que seja uma geração que escolheu o cobre. Desde sempre, há quem escolha o dinheiro acima de todas as coisas. Outra vez, nada novo sob o sol. Pois eis que me esclareço, ou tento. O preconceito que se espraia pelas nossas televisões, que se apregoa pelas ruas sempre esteve aqui e ainda está. Não penso que seja fato novo. O que assusta a alguns deve ser a percepção de que agora as bocas que o proferem sejam “instruídas”, de gente que, na mais bela das teorias, escolheu passar anos estudando em nome de um ideal.
Há quem tenha escolhido o ofício por mais do que o dinheiro, e é óbvio que ele deve e pode pesar na escolha. Desses, esperemos lucidez. De quem escolheu viver somente pela grana, que se dedicou anos para tentar aprender a curar seres humanos apenas pelo que virá no futuro saldo bancário, não espero muito. Do corporativismo idiota e tosco, muito menos. Do recalque travestido de nacionalismo, nada que seja bom. Não me assusta que o grito impiedoso e imbecil do preconceito saia de algumas dessas bocas que não querem desbravar o interior de um país dilacerado, mas, ainda assim, desejam-no intacto. O grande problema é que mantê-lo intacto é o avesso da medicina. É tão somente lutar pela morte e nuncacontra a morte.
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