Editorial: a voz vingativa das ruas

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Vive-se uma onda de crimes. E a violência está cada dia mais dentro do quintal de cada um. Sempre quando há esta onipresença do mal cotidiano, levantam-se as vozes em defesa da pena de morte.  
A pena criminal tem o seu caráter punitivo, sancionador, mas deve também ser uma meio de ressocialização. E é aí que o caldo engrossa. Intimamente, e coletivamente, não se acredita nesta ressocialização. É por isso que longas penas, estas que chegam a 80, 100, 120 anos, quando decretadas, trazem consigo uma certa sensação de alívio, pois se espera que  estes infratores não sejam vistos nunca mais e que apodreçam na cadeia.
 O sistema penal brasileiro não permite que ninguém cumpra pena além de 30 anos. E há vários dispositivos legais que permitem que o condenado saia da prisão bem antes do estipulado. E sempre que isso acontece, em casos amplamente cobertos pela mídia, há um sentimento de revolta e impunidade.
O caráter ressocializador da pena é o seu aspecto humano, positivista. É a descrença no mal absoluto e a confiança em que um trabalho dirigido, um ambiente propício, podem tornar o criminoso em uma pessoa sociável. O sistema penitenciário brasileiro tornou isso quase uma utopia. As penitenciárias brasileiras são verdadeiras universidades criminais. Juntando-se a isso o medo ancestral de que a maldade esteja incrustada nas entranhas de muitos, faz com que se deseje, consciente ou inconscientemente, o isolamento permanente destes seres.
A pena de morte é a radicalização deste desejo. Se a vingança pessoal de vítimas de crimes bárbaros é psicologicamente compreensível, a vingança estatal é inconcebível. Não se combate a monstruosidade criando-se monstros. Não se deve dar ao Estado o direito sobre a vida de ninguém. Um único erro judiciário e a morte de um inocente já demoliria o sistema. Como a ausência de erros é impossível, que este mecanismo não seja, portanto, implantado.
No Brasil, um plebiscito, instrumento legal e legítimo, sobre este tema, com certeza daria a vitória para a adoção da pena capital. É em situações como esta que, para o nosso bem, é bom que a voz das ruas não seja ouvida.