Por Alexandre de Paula
É sem engodo. Na falta de cerveja, bebo água e me acostumo, aos poucos, com o amargo natural de tudo que virá. É sem poesia. Apenas um tiro seco, um baque quase surdo, o jeito mais comum de se morrer. É um clichê. Eu, que me adaptei ao lugar-comum em nome de um pouco menos de tristeza, estou na lama pela dor que é mais banal. Respondo a mensagens sem ler, rabisco recados insones e caio, caio aos teus pés.
Eu que jurei que nunca iria te chamar, que pensei que resistiria ao ímpeto de gritar teu nome santo. Falhei. E espero, à sombra da noite, tua partida. Você, que nunca esteve aqui, me levou adiante e não sabe que eu sempre soube a tua ideia. O amor acaba, o amor acaba mesmo antes de nascer. Em Brasília, Paulo, meu caro Paulo, o amor virou pó. E o pó de tudo se juntou ao sentimento de que eu sempre estive velho, de que eu cheguei longe demais.
O amor? Forte ausência de juízo. Ou “pássaro que põe ovos de ferro”, tanto faz. Eu sofro, sempre sofro por aquilo que não acredito. Invento santos, santas e dou teu nome a todos eles, virgens pálidas que não amam. Bem-pensada falta de compaixão. Você que me levou ao meu avesso e que me fez, narciso, amar o que não era nem um pouco espelho e que cravou em mim a tua marca.
Acredito no teu sangue. No teu sangue, que só de longe conheço e mesmo assim roubou meu sangue e me deixou esquálido, como um velho coiote que uiva e chora a vida que perdeu. Tem um hooligan cansado gritando palavras de desordem no meu ouvido e eu ainda nem comecei a chorar e a praguejar a tua ausência de verdade.
Tem uma alma pobre e porca duvidando de si mesma e desejando a tua dor. Tem um palhaço, em desengano, que não sabe mais rir da própria desgraça e que se entregou à torturada imagem de si mesmo num espelho cheio de ranhuras. Tem a tua mentira de antes impregnada em tudo que dissemos. Tem o Paul McCartney cantando Junk em 1968.
Tem, em tudo isso, um lirismo pungente que eu não soube arrancar.
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